Eu: HARYYYYY!- o meu único instinto é chamar pelo nome dele. Luz. Choque. Vidros a estilhaçar. Sangue.Voz. Dor. Escuro.
Subo abrutadamente todo o meu tronco e abro os olhos. Tenho a respiração acelerada. Sinto a minha cabeça a explodir de dor. Observo todo o meu redor. Sala branca. Máquinas. Cama de hospital. Hospital. Um rapaz sentando perto de mim. Olhos verdes lagrimejando. Voz. Voz do sonho. Harry.
Apago!
(.....)
- Menina Addison?- oiço o meu apelido. Um dor intensa surge por todos os lados do meu corpo. Abro os olhos com dificuldade e vejo duas pessoas com batas. Médico? Enfermeira? A luz intensa que perfura as frestas da persiana incomoda-me, fazendo-me voltar a fechar os olhos.
Eu: Onde é que eu estou? Porquê que eu estou com tantas dores? O que se passou comigo?- volto a abrir os olhos. Observo as das pessoas que estão comigo na sala. Ambas entreolham-se, enquanto analisam algo que penso ser a minha ficha médica e o verificam o funcionamento e os registos das máquinas a que estou ligada.
- Tenha calma, menina Addison.... lembra-se de alguma coisa? Sabe o que a fez estar aqui no hospital?- eu apenas nego com a minha cabeça. Estou demasiado transtornada para pronunciar algo.- Você teve um acidente de viação. Entrou de urgência aqui no hospital. Este hospital é do seu pai. Lembra-se do seu pai? Sabe qual é o seu nome?
Eu: Claro que me lembro do meu pai! Ele chama-se John Townes Addison. Ele está bem? Eu estive em coma? Porquê que estou tão.....grande?- olho para o meu corpo. Sinto-me diferente deste da última fez que me olhei.
-Bem, sei que ainda é muita informação para o inicio, mas você teve um traumatismo craniano. Pelos estudos que fizemos ao seu cérebro, você sofreu uma grande lesão, logo não se lembrar do seu crescimento é normalíssimo.
Eu: Eu? A minha memória?- eu estou a tentar interligar factos pessoas, sítios. A única informação que me vem á cabeça são os meus pais e uma casa rosa clara. Nada mais, pois mesmo que me tente esforçar, a dor é demasiada.
- Menina Addison, por favor tenha calma. Eu sei que pode ser difícil de aceitar, mas pode haver boas notícias.- olho para o médico. O seu olhar expele compaixão.
Eu: Quais são as boas notícias?
- A sua perda de memória pode ser a curto prazo ou a longo.- o médico aproxima-se de mim.- Olhe, nós vamos deixar alguns amigos seus e familiares entrarem, sim?- o médico vai até a uma das máquinas, tocando em alguns botões.- Eu vou lhe administrar-lhe um relaxante. Vai começar a ficar com sono. Por favor, não lute contra o seu corpo. Peço-lhe que não se esforce. Posso contar consigo?- eu aceno afirmativamente com a minha cabeça. O médico sai acompanhado com a enfermeira que não se expressou durante o tempo todo. Levo a minha mão á testa, apercebendo-me o quão quente ela estava. Oiço a porta a abrir-se. Três pessoas.
Eu: Pai? Louis?- olho para ambos que se dirigem com um sorriso para perto de mim. Uma rapariga loira aproxima-se junto a eles.
Pai: Como estás minha filha?- ele pega-me na mão e beija a mesma.
Eu: Eu....eu não me lembro de muito pai....eu.... estou com medo!- deixo fugir o que sinto. Sinto ainda mais medo após o dizê-lo em voz alta.
Louis: Hey! Nós estamos aqui, Sunflower.... estamos contigo!
Eu: Sunflower? O meu nome é Sunflower?- fico ainda mais confusa.- Não me chamo Carolina?- olho para o meu pai. Sinto-me confusa. Uma dor pertinente faz-me sentir ainda mais exausta. Deixo escorrer algumas lágrimas pelo meu rosto.
- É o teu apelido! Sunflower! Foi o meu irmão que tu deu....lembraste dele? Lembraste de mim?- tenho ainda mais vontade de chorar. Não nos lembrarmos da nossa própria identidade, dos nossos próprios amigos....é aterrorizante.
Eu: Desculpa....eu não sei....eu não me lembro...- baixo o meu olhar, fixando-o na fina manta branca que cobre as minhas pernas. Ela aproxima-se de mim, tocando-me na mão. Olho para ela. O seu olhar é meigo. Os seus cabelos loiros estão perfeitamente esticados e arranjados. Apesar do seu rosto não me ser familiar, uma sensação de hamornia percorre o meu corpo ao contacto com a sua pele.- Nós erámos amigas?- ela sorri. Uma lágrima escapa pelo canto do seu olho.
- Sim! Nós.....tu és a minha melhor amiga! Eu sou a tua Gem, a tua melhor amiga.....- apesar da sua voz falhar, o seu sorriso continua firme. Os meus olhos começam a ficar pesados. Viro-me para o rapaz de olhos azuis. Ele está concentrado no chão da sala. Tem um ar pensativo.
Eu: Louis?- ele olha para mim.- Tu....tu és...ainda és o meu melhor amigo, certo?- ele afirma com a cabeça, aproximando-se de mim e da rapariga loira.
Louis: Sim! Sou o teu melhor amigo, Carolina! Nós...- os meus olhos falham e oiço um tossir que identifico ser do meu pai.
Sr.Addison: Bem, acho que é melhor descansares, meu bem. Quando acordares nós voltaremos e podemos conversar melhor, sim?- ele beija a minha testa e eu apenas lhe respondo com um sorriso. Louis faz o mesmo. Quando a loira vai repetir o mesmo gesto eu agarro-lhe na mão impedindo que depois se vá logo embora.
Eu: Tu és a minha melhor amiga! Eu vou-me lembrar de ti! Tenho a certeza....- dou-lhe uma pequena caricia na mão e deixo-a recuar com um sorriso na cara.- Pai?
Sr.Addison: Precisas de algo, meu doce?
Eu: Quando voltares depois de eu acordar, trás a mãe! Eu tenho saudades dela.- o sorriso que ele trazia no seu rosto esmorone-se. Ele apenas sai sem uma resposta. Os meus olhos estão demasiado pesados para que eu possa pensar na atitude do meu pai. Já estou demasiado confusa e desnorteada para saber a razão da sua atitude.