Sangue, sangue, sangue, sangue, sangue. A palavra ecoava em mim despertando sentimentos controversos. Medo, desejo, ódio e era tudo que eu conseguia pensar. Mais nenhuma palavra existia além dela, mais nada existia, além disso. Eu queria, eu ansiava, eu precisava. Minha pele formigada e parecia estar pegando fogo. A febre.
Abri meus olhos sentindo meu coração bater violentamente contra minhas costelas. Eu estava ofegante e o suor derramava sobre minhas têmporas. O quarto estava escuro a ponto de eu não enxergar um palmo à minha frente, mas eu tinha certeza de que não estava mais no quarto do hotel.
Saltei da cama estranha sentindo a adrenalina correr em minhas veias como um veneno. Meus cabelos emaranhados estavam colados à minha pele e eu me sentia elétrica. Corri para a janela e olhei para baixo de uma altura que parecia ser de três andares. Tentando não fazer barulho, subi no parapeito e fui subitamente atingida por uma onda de náusea que fez meu estômago se contorcer. Tudo ao meu redor começou a girar e medo se agarrou à minha espinha como uma erva daninha.
Desde quando eu tinha medo de altura? Tropecei de volta para dentro do quarto e o mundo voltou a ter foco. O que eu tinha de errado?
Fui tateando até encontrar a porta do quarto e saí indo para o andar debaixo. Continuei andando e olhando tudo ao meu redor tentando ver a porta de saída da casa. Enquanto eu passava os quartos e corredores, tive a sensação de que já havia estado ali antes.
Como que por instinto, encontrei meu caminho para sair, mas assim que a porta se abriu fui atingida por uma brisa gelada que parecia penetrar minha pele até os ossos. Foi nesse momento que me dei conta do que estava usando: uma regata e calcinha. De jeito nenhum eu ia voltar para cima e tentar achar algo para vestir então olhei rapidamente ao meu redor e agarrei o primeiro casaco que vi pendurado. Por sorte ele era longo e cobria a maior parte do meu corpo.
Folhas secas se quebravam sob meus pés gelados enquanto eu andava através do pátio da frente e saia pelo portão em direção à rua. Assim que meus pés tocaram o asfalto eu corri, mas não tinha idéia para onde estava correndo. Era como se minhas pernas tivessem vida própria.
Após algumas quadras eu parei e olhei ao meu redor tentando encontrar algo, mas não sabia o que. Andei mais um pouco e fui parar em frente à uma casa de dois andares com cerca branca.
Sem pensar pulei sobre a cerca e fui até o lado da casa. Quando olhei para cima tive uma estranha sensação, como se e já tivesse feito aquilo um milhão de vezes. Acima da minha cabeça, no segundo andar estava uma janela. Colei minhas mãos sobre a roseira que agora não continha rosa devido à mudança de estação e comecei a subir.
A janela estava com o vidro abaixado, mas não estava trancada. Coloquei minhas duas mãos sobre o vidro e a deslizei o bastante para que eu pudesse passar. A janela era mais pesada do que pensei e foi preciso algum esforço até que ela se abrisse.
Ergui minha perna e a passei para dentro me curvando para frente e passando minha cabeça por baixo do vidro. Tudo estava escuro, mas a lua estava alta e eu conseguia distinguir algumas formas. Meus pés estavam dormentes e era difícil não fazer barulho quando não conseguia dominar os movimentos dele. Logo à minha frente estava uma cama e alguém estava dormindo sob as cobertas.
Como se eu estivesse sendo puxada, comecei a andar em direção à cama sentindo meus batimentos como tambores em meus tímpanos. Ergui minha mão e toquei a coberta com dedos dormentes. Respirei fundo e as ergui cambaleando para trás até minhas costas tocarem a parede. Minhas pernas cederam e eu fiquei encolhida no chão observando a cena a minha frente sem conseguir acreditar em meus olhos.
O que eu estava fazendo ali? O que ele estava fazendo ali? Como eu o tinha encontrado? Eu tinha lutado tanto para me manter afastada e agora tudo estava arruinado. A visão ia se tornar verdade e a culpa era minha, a culpa era toda minha.
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As Lágrimas de Um Anjo - Livro 3 da Série Anjo
FantasyTudo começou com um beijo e agora Katryna precisa cumprir seu destino e encontrar uma chave. Sua jornada não será fácil e em seu caminho ela encontrará um rio de sangue e lágrimas. TEXTO NÃO EDITADO Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduz...