1 - Bloody Mary (Mary Sangrenta)

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A lâmina afiada do canivete deslizava sobre a parte interna do meu antebraço deixando um traço vermelho vivo de sangue enquanto abria lentamente minha pele. Meus olhos assistiam com fascínio o sangue tingir a lâmina enquanto eu absorvia a ardência que se espalhava através dos meus nervos e rapidamente se extinguia com a cicatrização acelerada do meu metabolismo.

Olhei ao meu redor soltando um suspiro tentando me lembrar de como tinha ido parar naquele buraco. O motel era uma de quinta categoria com lençóis gastos, pouca mobília e papel de parede florido cafona que estava à um sopro de se descolar totalmente da parede.

Minha cabeça latejava e flashes da noite anterior vinham à minha mente. Ao meu lado estava um garoto que eu não sabia o nome. Eles sempre me diziam seus nomes, mas minha memória era terrível e eu não me importava o bastante para tentar lembrar.

Ele era loiro, bem construído com músculos definidos e enquanto eu observava seu corpo despido sobre a cama notei manchas rochas e arranhões cobrindo suas costas. Meus lábios se curvaram em um sorriso maldoso ao me lembrar da expressão no rosto dele ao descobrir que não estava lidando com uma garotinha inocente.

Todos agiam da mesma forma, impressionados e chocados no começo, mas logo se submetiam aos meus desejos sem pestanejar. Meu método era agressivo, mas satisfatório. Eles saíam mais machucados do que eu, que cicatrizava mais rápido do que uma pessoa comum.

Ergui o braço do garoto que não devia ter mais do que vinte anos para ver seu relógio. Era mais de três horas da tarde e eu precisava de um drink. Me ergui indo até o banheiro e tomando um banho rápido para tirar o cheiro de fumo e álcool da minha pele.

Após alguns minutos embaixo do chuveiro escaldante me vesti e fui embora batendo a porta do quarto na minha saída. Meus olhos arderam com a luminosidade enquanto eu andava até o carro no estacionamento do hotel.

"Saco!" Exclamei fechando os olhos em frente à porta do motorista e batendo os bolsos da minha calça jeans. Eu tinha esquecido a porcaria das chaves no quarto e minha chave reserva estava dentro do porta-luvas.

Eu tinha duas opções: voltar até o quarto para pegar a chave e correr o risco do loirinho estar acordado e eu acabar gastando minutos valiosos do meu tempo dando o fora nele ou arrombar a porta e ter que pagar uma tranca nova para o carro.

A maçaneta cedeu facilmente sob a pressão das minhas mãos deixando escapar um leve 'click'. Eu realmente não estava a fim de perder meu tempo e, aliás, minha cabeça já estava doendo o bastante sem o bláblábla que eu certamente iria escutar se voltasse para o quarto.

Entrei no carro batendo a porta com força sentindo ela emperrar. Isso iria me custar alguma grana para concertar. Girei a chave e liguei o rádio no volume máximo sentindo minha pele vibrar com o som das baterias. Nada melhor para anestesiar uma ressaca do que um bom e velho rock.

Eram mais de quatro da tarde quando entrei no Tryst que, como de costume, já estava cheio. Me sentei no balcão e pedi uma tequila para o barman dando três batidas no balcão de madeira envernizada. Billy era como eu o chamava, mas não era seu verdadeiro nome. Nunca fui boa com nomes e ele tinha cara de Billy, então o apelido pegou.

Após algumas doses minha cabeça parou de latejar e eu consegui pensar de novo. Ao meu lado um universitário tinha se sentado e sua atenção estava focada em mim. Seus olhos percorriam meu corpo de alto a baixo como se estivesse tentando ver através de mim. Os lábios dele se moviam e eu estava certa de que sons saíam, mas aos meus ouvidos, os sons pareciam se misturar com a música alta e os sons de copos se batendo.

"Billy!" Exclamei batendo três vezes no balcão com a mão. "Meu copo está vazio."

"O meu caixa também está, baixinha." Ele se inclinou sobre o balcão me lançando um sorrisinho. "Acho que está na hora de você pagar o que bebeu."

As Lágrimas de Um Anjo - Livro 3 da Série AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora