5 - Vazio

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Eu não sei por quanto tempo permaneci parada observando cada detalhe de Casimir antes da situação finalmente ser absorvida pelo meu cérebro. Não importava o quanto eu queria que fosse diferente, minha decisão havia sido tomada e quanto mais eu adiasse, mais difícil seria o momento de eu finalmente ir embora. Então me levantei tentando não fazer nenhum ruído e fui até o armário.

O quarto estava negro como breu quando eu comecei a pegar minhas coisas das gavetas. Não eram muitas, mas era o bastante para encher uma mochila vermelha de jeans já batida pelo tempo. Respirei fundo erguendo o peso do meu passado que ironicamente cabia em uma pequena mochila. Mais de duzentos anos e tudo o que eu tinha para mostrar eram minhas memórias e uma mochila com meia dúzia de roupas, um colar e alguns papéis. Isso era realmente deprimente, até para mim.

Coloquei a mochila sobre o sofá e fui em direção ao banheiro. Abri a torneira lentamente e jóquei água gelada sobre o meu rosto. Minha intenção era somente essa, passar uma água no rosto e sair dali para nunca mais ser vista por nenhuma daquelas pessoas, mas, assim como uma criança curiosa à beira de um precipício eu ergui os olhos e me deparei com meu reflexo no espelho.

Cuidadosamente percorri cada detalhe da imagem com meus olhos. Examinei meus cabelos longos que cobriam meus ombros em ondas dourada, minha pele clara, meus olhos verdes, meu rosto e tudo o mais tentando encontrar alguma mudança física, mas tudo continuava exatamente igual. Embora eu saiba que a juventude eterna é o sonho de muitos, o fato de nunca mudar e todo o dia encarar o mesmo rosto vazio no espelho era frustrante.

Não importa o que acontecesse eu permaneceria eternamente imutável. Sabendo disso eu quase não me olhava mais no espelho, mas de vez em quando eu cedia à curiosidade mórbida e procurava em vão pelas alterações que nunca vinham e que nunca viriam por mais que eu as desejasse e as procurasse.

Respirei fundo secando meu rosto e entrei no quarto indo silenciosamente em direção à mochila em cima do sofá. Estiquei minha mão e toquei o estofado vazio. Olhei no chão ao redor do sofá achando que ela tivesse caído quando à coloquei em cima do estofado, mas então a luz se acendeu e eu me virei rapidamente me deparando com Casimir de pé com uma das mãos no interruptor enquanto segurava a mochila com a outra.

"Você está indo embora."

"Sim." Respondi desviando meus olhos dos seus.

"Eu vou com você." Ele falou jogando a mochila na cama.

"Não. Você vai ficar, se casar, ter filhos e seguir a sua vida." Meus olhos percorriam o quarto ao nosso redor tentando evitar o olhar de dor que certamente Casimir estava me dando.

"Você não pode me abandonar assim." Com passos rápidos ele veio até mim. "Você me ama."

Meu coração se apertou como se estivesse sendo esmagado por suas palavras e meus olhos queimavam com as lágrimas que eu não ousava derramar.

"Eu não posso levar você." Minha voz saiu fraca e tremida enquanto meus olhos se fixaram no céu estrelado do lado de fora da janela.

"Você quer me proteger? É isso?" Seu coração havia acelerado e ele precisou respirar fundo antes de continuar. "Isso é ridículo. Nosso destino é ficarmos juntos."

Eu fechei meus olhos sentindo meu coração seguir o compasso acelerado do coração dele e a imagem dele morto em meus braços apareceu diante de meus olhos.

"E o quê?" Minha voz saiu firme e fria enquanto meus olhos se ergueram encontrando os dele. "Eu assistir você definhar em frente a mim sem poder fazer nada até o momento em que você morre em meus braços?"

As Lágrimas de Um Anjo - Livro 3 da Série AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora