Capítulo 05

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Uma forte emoção tomou conta do meu peito, eu não sabia se ficava feliz por estarem todos lá, ou se ficava triste por não me lembrar de ninguém

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Uma forte emoção tomou conta do meu peito, eu não sabia se ficava feliz por estarem todos lá, ou se ficava triste por não me lembrar de ninguém. É horrível sentir que você está rodeado por estranhos, que um dia foram seus amigos. 
Passei a ficar parada sorrindo, todos estavam esperando alguma reação minha, qualquer reação... E enfim, eu corri para meu quarto, não olhei para nada, não explorei os cantos da casa, não averiguei meu quarto, apenas me joguei na cama e abracei o travesseiro, me pondo a chorar. 

Alguns minutos depois, minha irmã apareceu lá, e se sentou na cama. 

— Tudo bem Tata? 
— Eu não conheço nenhuma dessas pessoas. — Tentava conter minha voz embargada.
— Você conhece sim.
— Mas eu não me lembro delas. Então, elas são como estranhos pra mim. — Me sentei e esfreguei os olhos.
— Olha, eu não sei como é perder a memória. Mas eu sei como é você estar no meio de pessoas que parecem desconhecidos.
— E o que eu faço?
— Essas pessoas só estão aqui porque querem o seu bem, e você não vai recuperar a memória se ficar aqui deitada chorando.
— E falar com eles, também não vai me fazer lembrar de nada. — Emburrei.
— Não, mas vai ajudar você a recomeçar. Se você não lembrar, faça novas lembranças, crie momentos que valerão a pena serem lembrados.
— E se eu não estive pronta pra recomeçar?
— Nós nunca estamos prontos para correr riscos, nós apenas corremos. Você não precisa estar pronta, só precisa dar o primeiro passo.
— E precisa ser hoje? Logo hoje? — Fiz voz manhosa e revirei os olhos.
— Eu tô tentando fazer você sair dessa cama e te convencer a valorizar a vida que você está tendo a chance de recomeçar, já que muitas pessoas nunca acordam do coma. Além de que todas essas pessoas que estão aqui, tiraram um tempo do dia deles pra virem ver como você está, porque se importam de verdade. — Apenas a encarei e ela se levantou. —Mas tudo bem, pode ficar deitada, porque ir lá ser gentil com eles com certeza não vai ajudar em nada, mas chorar vai. — Foi irônica, e caminhou até a porta.
Apenas mordi o lábio, respirei fundo e a chamei.
— Milena? — Ela olhou para mim. — Eu já estou descendo. — Ela sorriu, concordou e se retirou.

Parei por um segundo, e comecei a pensar em como uma garota que dezesseis anos, tinha mais maturidade que uma de vinte e dois. Em seguida, me levantei, lavei o rosto, penteei os cabelos e procurei no meu guarda-roupa alguma peça legal. Depois de ter me arrumado, desci novamente as escadas e fui até a porta que dava acesso ao fundo, me escondi atrás dela e respirei, consegui ouvir cochichos do tipo "será que ela vai descer?", "acho que viemos na hora errada", "imagino que ela deve estar ficando louca com tanta gente aqui na casa dela", e em meio aos sussuros, ouve-se um grito "Lucas, para de jogar essa maldita pedra, se acertar em alguém, ou quebrar a janela, eu juro que hoje você vai pro orfanato!".
Segurei a risada e fui para fora, me deparando com rostos brevemente familiares.
Todos me encararam e sorriram, até que minha mãe veio em minha direção, me abraçou e falou comigo ao pé do ouvido.
— Que bom que você desceu.
— Um passarinho me disse que é preciso correr riscos. —Ela sorriu, e eu pisquei para ela. Em seguida, ela fez um pequeno discurso.
— Bom, eu agradeço por estarem presentes aqui. Há cinco anos, a Hasel sofreu um acidente, e entrou em coma. Desde então, a falta que ela fez foi imensa, o peso que ficou sobre minhas costas, de lembrar que a última coisa que fizemos antes do acidente, foi termos uma briga pelo telefone, me assombrou desde que ela entrou no coma. Desde então eu não passei um dia sequer, sem a visitar, e todos os dias orava pela vida dela, porque eu sabia que aquele estava a guardando, era mais forte e mais poderoso do que os médicos que sempre me diziam que ela não iria mais acordar. —Algumas lágrimas começaram a cair sobre o rosto dela, e o meu.— A Hasel é a prova de que milagres existem. E se estamos aqui hoje, olhando para ela aqui, em casa. É porque Deus provou que a ama imensamente, e que nunca deixou de cuidar dela. —No fim, todos estavam chorando.— Eu sei que nem todos aqui são religiosos, mas eu queria fazer uma oração, agradecendo por Ele ter cuidado tão bem da minha filha. Porque ela dormiu brigada comigo, mas acordou e está nos meus braços agora. —E então começou a oração, foi o único momento desde os dias que eu acordei, que me senti realmente amada, não pela surpresa, mas por terem orado por mim. Eu não me lembro de Deus, não sei quem é, mas sei que se eu acordei por causa dEle, é porque eu sou amada demais.
E nesse momento, eu soube que era hora de recomeçar.

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Autora/Capista Bianca Ribeiro
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