Capítulo 9

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Me equilibro em uma única perna, devido a dor, o mais sensato seria evitar tocar a outra no chão. Sustento o olhar de Sara, que continuava apontando a arma para mim. Porém, numa distância maior do que a de alguns segundos atrás. Olho na direção da porta, nenhum agente entrou.

-Não fui eu! - repito pela décima vez.

Essa frase deveria ser o meu slogan.

-Ah, claro, engraçado como as coisas ruins sempre acontecem ao seu redor, e você nunca é a culpada!

-Quando seus ex amigos te caçam é meio difícil se manter fora de confusão.

Arrumo a postura, vendo ela se aproximar com a arma, fazendo os mesmos gestos que fiz com Josh, essa era uma velha tática ensinada por Jack.
    Prendo a respiração e salto, chutando sua arma e voltando ao chão o mesmo pé de antes. Sara demorou alguns segundos para reagir, mas já era tarde demais, sua arma estava do outro lado da sala.
Ela se joga sobre mim, tratando de me derrubar com socos e pontapés . Nossos corpos foram ao chão quando sua perna desferiu um chute no ferimento. Rolamos sobre o tapete branco, que já estava manchado pelo sangue da perna e contínuamos a atacar uma a outra. Colei meu corpo ao seu, segurando suas mãos atrás das costas, enquanto tratava de alcançar as algemas do seu bolso para prende-la. Prendo suas mãos e me apoio no sofá para levantar do chão. Com esforço, levanto-a do chão e a jogo sobre o sofá, corro até a arma, e aponto em sua direção.

-Essa é aquela famosa frase: " O mundo da voltas" - debocho.

Rasgo a cortina, e amarro suas penas na mesa de centro com o pano. Procuro na cozinha alguma faca, e uma caixa de primeiro socorros no banheiro.

-Não vai demorar muito até eles virem até aqui! - diz Sara.

-Eu sei.

Abro mais o ferimento, despejo um pouco de álcool, e mordo o canto da boca para evitar gritar e chamar a atenção dos vizinhos. Rasgo mais o boraco com a faca, e introduzo o dedo na ferida, procurando pela bala.

- Acha que me ter como refém ajuda? Você não vai conseguir se livrar Natasha! Está ferida, e o perímetro de dois quarteirões está fechado!

-Sério Sara, você é insuportável. E obrigada, você acabou de me ajudar, é sempre bom saber a distância da barreira policial.

-Por que matou ele?

Suspiro aliviada quando finalmente retiro a bala. Jogo mais um pouco de álcool e enfaixo a perna antes de responder.

-Ja disse que não matei ninguém, não tenho nada contra o seu irmão!

-E então o que fazia lá?

Bufo.

-O apartamento onde foi encontrada as bombas está ligado a sua empresa, é uma imobiliária subsidiária. Fui lá para obter informações. Falei com o seu irmão, e ele sabia de alguma coisa.

-Meu irmão não era um terrorista!

-Ele pode até não ter sido, mas foi induzindo a colaborar com esse ato.

-Você fala como se não fosse culpada.

Sem prestar atenção ao comentário, continuo meu relato.

-Havia microfones na sua sala, a pessoa que o obrigou, estava vigiando ele. Por isso, decidi tira-lo do prédio a força, assim, Josh não seria taxado como traidor e perseguido pelas autoridades. Mas quando saímos do prédio... foi muito rápido... muita gente... só consegui ouvir o tiro, e depois disso, as sirenes da polícia.

-Espera que acredite nessa história?

-Sara, você mais do que ninguém sabe o que é ser encriminada! Lembra? Eu salvei a sua vida, e a vida do seu irmão! E ainda ocultei informações do meu pai para que você não fosse espulsa da OSCU. Confiei em você!

Ela revira os olhos, e permanece em silêncio, recostando a cabeça no sofá.
Subo as escadas até o seu quarto, em busca de outra roupa. As minhas estavam sujas de sangue, e essas vestes chamariam atenção nas ruas. Retiro uma calça jens do armário, e troco a regata branca que usava por uma camisa azul escura, junto de um blusão de frio da cor preta. Procuro dentro do closet algum número de bota que servisse nos meus pés, e que dessa vez, não tivesse um salto tão alto assim.
Desço as escadas, sobre o olhar crítico de Sara.

-Você tem muita roupa naquele armário, uma menos não fará falta. - digo, vendo seu sorriso cínico.

Ouso o som do engatilhamento de uma arma, e o cano fino e frio encontar na minha cabeça. Xingo mentalmente minha falta de atenção por não ter percebido a presença de mais alguém no cômodo. Olho para Sara, e ela sorria, trazendo os braços já soltos para a frente do corpo.

-Ponha as mãos na cabeça e se ajoelhe próxima ao sofá. - diz uma voz desconhecida.

Obedeço as instruções, sentido Sara retirar a arma da minha cintura, e me ajoelho sobre o tapete, colocando as mãos com calma na cabeça. Não tinha visão alguma do que estava acontecendo atrás de mim, mas minha curiosidade foi maior do que a sanidade quando ouvi um corpo cair contra o chão e quebrar a mesa de centro.
Olho o homem caído sobre os cacos de vidro da mesa quebrada, e depois para Sara, que estendia uma arma em minha direção.

-O que você...

-Não temos muito tempo Natasha, ele já chamou reforços. Toma, pegue essa arma e as chaves do meu carro. Se seguir pela porte, vai conseguir escapar, lá é o ponto com menos agentes.

-E quanto a você?

-Vou ficar bem, só preciso que capriche na coronhada.

Pego a chave de suas mãos e me preparo para desmaia-la. Aquele olhar, a Sara que conhecia estava de volta.

-Não vou te agradecer. - digo. - Você atirou em mim, e pode ter certeza que vai precisar de muita aspirina amanhã.

Acerto a região do seu supecilio com força, vendo seu corpo desmontar perto do pilar. Sorrio satisfeita.

-Morfina seria mais apropriado...

Saio pela porta da frente, olhando para os dois lados e me certifico se nenhum agente ou policial vinha naquela direção. Aperto o controle do carro, e vejo os faróis de uma BMW acender por milésimos de segundos.
Dirijo em direção a ponte mais próxima, não estava correndo para não chamar a atenção, mas a minha velocidade não era tão baixa quando atingi a entrada da ponte. Ainda não tinha um plano certo para passar pelo bloqueio policial, mas esperei na fila de carros.
Desço pela porta traseira do lado da ponte, os agentes estavam do lado direito, e o modo mais seguro de sair daquele perímetro era passar por trás dos carros até furar o bloqueio. Não é um plano bom, eu sei, mas foi o único que me ocorreu nesse momento. Minhas opções são limitadas.
Continuo andando abaixada pelo lado esquerdo, as pessoas que estavam nos automóveis já me viram, entretanto, nenhuma deles decidiu me delatar. Faltavam apenas cinco carros, quando um dos guardas gritou, avisando que encontrou um carro vazio. Apresso meus passos o mais rápido que minha perna ferida permita.

-Parada!

Continuo andando, sem me importar com a voz que insistia em me mandar parar.

-Natasha, acho melhor você obedecer.

Paro quando ouso a voz de Alfie, e o contato de suas mãos segurando o meu pulso, me impossibilitando de continuar.
Olho para ele em silêncio, quase implorando para que me deixasse ir. Seus olhos não corresponderam como esperava, Alfie nada poderia fazer. Acabou...

-Natasha Morgan, você esta presa por terrorismo, traição ao governo dos Estados Unidos, homicídio doloso, invasão de propriedade privada e resistência à polícia. Você tem direito a fica em silêncio e um advogado. Tudo o que você disser poderá e será usado contra você no tribunal.

Agente Morgan 3Onde histórias criam vida. Descubra agora