Uma vez eu tinha acabado de entrar na sala de estar, ai o meu pai me chamou por aquele apelido horrÃvel, aquele apelido nojento, eu tinha entre oito e dez anos, não me lembro bem, só lembro que os meus irmãos, que também estavam na sala, começaram a rir, depois eu lembro que corri chorando pro quarto (o quarto ficava ao lado da sala), aà a minha mãe chegou perguntando algo do tipo:
"O que você fez com a menina?"
E ele respondeu um:
"Nada"
Ai ela disse que ele gostava de implicar comigo e que não sabia o porquê dele não gostar de mim, e ele ficou calado, não disse nada, nenhuma palavra, até que a minha mãe voltou pra cozinha, eu chorei naquela tarde, chorei muito. Pelos meus irmãos sou chamada de "Empregada da casa" e eles ainda hoje jogam na minha cara que o meu pai não me ama. Eu cresci com o desprezo do meu pai e com os desentendimentos com os meus irmãos, tanto é que certo ano eu e eles mal nos falávamos. Foi praticamente nesse tempo que me isolei de todos. Eu tinha uns 12 anos. Mal falava com a minha mãe. Eu só falava e brincava com um cachorro que tinha lá em casa e eu o achava mais que o suficiente. Um ano isolada, sem brincar, apenas fazendo os deveres da escola e da casa... Foi barra! Mas não notei que estava caminhando pro caminho mais escuro e vazio. Quando fiz treze anos eu morri. Me joguei de cabeça na grande solidão, de manhã eu ia pra escola, chegava, almoçava e ia dormir, quando eu acordava já era noite, ficava na frente do computador enquanto via os meus irmãos brincando lá fora. Quando ia a famÃlia toda sair pra passear, eu dizia que preferia ficar em casa, então eles iam e eu ficava, eu morria de medo daquela casa, porém preferia me excluir a ir com eles. Quando me chamavam para tomar banho de rio eu dispensava, foi assim por um tempo. Minha rotina virou, acordar, escola, casa, dormir, acordar, jantar, deitar, chorar, dormir. Tava insuportável, pois comecei a sentir um grande buraco negro em meu peito, tentei sair da lama na qual eu me encontrava, mas quando você está dentro fica difÃcil sair. Chorei por longas noites à s escondidas, sofria em silêncio, colocava um sorriso no rosto quando ia sair e enganou meio mundo. Parei de ser sociável, parei de falar, era como se eu fosse uma pessoa muda.
Chorava e ainda choro por qualquer palavra apresentada de forma errada. Então eu cheguei ao meu limite. Eu queria morrer. Os corte... Me foram apresentados...