Capítulo 1

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"Socorro, não estou sentindo nada! Nem medo, nem calor, nem fogo, não vai dar mais pra chorar nem pra rir. Socorro, alguma alma, mesmo que penada, me empreste suas penas. Já não sinto amor, nem dor, já não sinto nada. Socorro, alguém me dê um coração que esse já não bate nem apanha. Por favor, uma emoção pequena, qualquer coisa! Qualquer coisa que se sinta, tem tantos sentimentos deve ter algum que sirva."

Socorro – Cássia Eller


Lívia

Abro lentamente os olhos e vejo que ainda está escuro, o que não faz muita diferença já que as cortinas do meu quarto bloqueiam completamente a claridade. Não consigo entender o que está acontecendo e fecho os olhos outra vez. Ouço o mesmo barulho de antes e me sento em minha cama. Olho para os lados e aos poucos vou despertando.

- Dona Lívia – ouço depois de outra batida na porta.

- Pode entrar, Cátia.

- Desculpe acordá-la, mas sua mãe está no telefone e insistiu.

"Como se fosse tão importante assim falar comigo..."

Ela se aproxima e me entrega o telefone.

- Alô?

- Você ainda está dormindo? São quase duas horas da tarde!

- E que diferença isso faz? O que você quer, mãe?

- Só te avisar que nós não vamos voltar hoje. Teremos que ficar aqui mais alguns dias.

- E você não podia ter deixado recado como você sempre faz? Tinha que me acordar?

- O seu pai quer saber se você quer alguma coisa de Paris.

- É claro que quero, mas não sei o que ainda. Eu te passo um e-mail mais tarde.

- Está bem. Tchau, Lívia.

- Tchau, mãe.

Desligo o telefone e fico olhando para o aparelho. Eu não preciso de nada de Paris. Eu já tenho muito mais do que qualquer um precisa de qualquer lugar do mundo. Eu só queria um pouco de atenção... Mas é claro que isso eles nunca puderam me dar.

- A senhora quer que eu traga seu café da manhã?

- Não – Cátia estende a mão para mim e eu devolvo o telefone a ela. – Deixe preparado na varanda. Eu já estou indo.

Ela veio trabalhar aqui em casa há cinco anos para ajudar a Iracema, que já não estava dando conta da casa inteira por causa da idade. Ao todo, nós temos 8 empregados, mas 4 deles trabalham diretamente para mim: a Iracema, que mora conosco desde que eu nasci e que me criou, a Cátia que limpa e arruma a casa todos os dias, mas não mora aqui, o João que é o meu motorista e o Hugo que é o cozinheiro. Fora eles, meus pais têm mais dois motoristas, o rapaz que cuida das plantas da minha mãe, que eu realmente não sei por que ela acha que são dela, já que ela nunca está aqui, e o senhor que vem de vez em quando limpar as piscinas.

Levanto-me com calma e vou ao banheiro lavar o rosto, escovar os dentes e passar protetor solar. Assim que termino, vou para a varanda e me sento para comer. Assim que começo, Iracema aparece e me dá um beijo na bochecha antes de se sentar de frente para mim e perguntar:

- Dormiu bem?

- Sim, obrigada.

- Você vai almoçar em casa hoje ou vai sair para ver as coisas da mudança outra vez?

- Eu ainda não vi a agenda do meu celular, mas provavelmente vou ter que fazer alguma coisa na rua.

- E o que você quer que eu mande o Hugo preparar para o jantar?

AvassaladorOnde histórias criam vida. Descubra agora