Capítulo 20 - Epílogo

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Dakota se enrolou ao redor dele, a cama pequena fazendo
um ninho agradável e confortável. Ela se sentia segura
e nao claustrofobica, mesmo que estivesse entalada entre
ele e a parede. Ela acariciou a pele umida do tórax
de Jamie, e aconchegou a cabeça em seu ombro.

Os eventos do dia, e da ultima semana, passaram por
sua mente, e ela sorriu. Desde o momento em que ela o viu
em Utah, ele mexeu alguma coisa dentro dela, e os sentimentos
que ele despertou eram mais do que bem-vindos.  Ela nunca
mais foi  a mesma daquela noite em diante.
Que maneira
de começar um ano novo.

De repente, ela estava dando risada.
Jamie , meio adormecido,
moveu a cabeça no travesseiro, os labios sobre o cabelo
dela. "O que foi?"

"Alex" ela riu. "Acho que ele nem viu o que o aconteceu direito."

Jamie se esticou um pouco debaixo dela, estufando o
peito. "Ele nao é tão ruim assim" ela riu ainda mais,
vendo a atitude tipicamente machista de Jamie. "Ele nao é"
ele insistiu. "Ele nunca disse nada contra mim, Dakota. Nada."

"Oh, ele estava esperando te pegar sozinho. E quando ele
conseguir, cuidado."

"Oh, eu estou tão assustado..." Dakota  passou os dedos sobre
as costas dela. "Dak?"

"Sim?"

"Você acha que eu posso te chamar de minha esposa agora?"

Ela fingiu pensar sobre isso, vendo a luz da lua
iluminar a parede oposta. "Talvez."

"Talvez?"

"Eu meio que gosto de ser chamada de Dal,baby. Especialmente
por voce."

"Ah, mas você nao vai escapa por muito mais tempo, e
você sabe disso."

"Jamie, do que eu vi em Piemont, nao deve ter mais de duzentas
pessoas morando lá. E nao vi nenhuma igreja." ela
se lembrou dos pais, sentindo-se culpada. "Tenho que mandar um
telegrama para os meus pai, de Salt Lake City, para avisa-los
de onde estou."

"A igreja mais perto fica a vinte milhas, em Asheville."
com a outra mão, ele pegou a mão  dela, que estava sobre o
seu peito, e beijou. "Eu não te disse? Além de ser um
mecânico muito bom, Jerry opera a  União Ocidental lá
do escritorio dele. E por acaso ele é um Juiz de Paz."

Ela ergueu a cabeça, vendo o olhar confiante e feliz
dele. Por um momento, Dakota pensou em discutir sobre a obrigação
de se casar numa igreja, e sobre a obrigação que tinha com
seus pais. Então ela pensou melhor, sorrindo. "Por mim, tudo bem.
Além disso, eu te devo dinheiro por colocar alguma coisa na
sua conta." ela suspirou. "Ou talvez não. Eu não trouxe minha
bolsa."

"Dakota, você já acertou comigo. Acredite em mim. Nao precisa
pagar mais nada."

Eles ficaram em silencio. Dakota estava quase dormindo, mas
acordou de surpresa ao ouvir um enorme barulho. "O que foi
isso?"

Jamie falou, sonolento, suspirando. "Eu acho... que é meia-noite.
Feliz ano novo, baby."

"Feliz ano novo, baby," ela sussurrou de volta, voltando
a dormir. "Eu te daria um beijo, mas... mmm... estou
muito cansada."

"Então eu te beijo..." mas ele só chegou à sobrancelha dela.
"Mmmm... gostoso... se você quiser montar o garanhao de novo,
é só me acordar, ok?"

"Pode deixar."

Ela sentiu o beijo dele de novo, e depois, um ronco suave.
Feliz ano novo mesmo. Esse seria um ótimo ano, se o primeiro
minuto fosse alguma indicação do que estava por vir.

Antes de se perder nos sonhos, ela virou a cabeça para olhar
seu perfil, vendo o homem que, apesar de tudo, foi enviado a ela
por forças não vistas. Uma estranha torção do destino os uniu, e
ela quis saber se, afinal de contas, haviam anjos olhando por
eles. As chances de que eles chegariam neste ponto eram
minimas, e ela olhou para o luar, sussurando uma oração
de obrigado, antes de deitar perto de seu amor, para
dormir um sono muito precisado.

* * * * * * * * * *

As duas figuras nebulosas observavam o trem passar pelo
campo escuro, a lua lançando luz fraca entre as colinas
e vales cheios de neve.

"Noite bonita" Sam murmurou, colocando as mãos no casaco,
apesar de nao ter frio - era só costume. A paisagem fez
ele lembrar de brigas com bolas de neve, e chocolate quente.
O homem vaporoso ao seu lado estava bem vestido como
ele, sua pele preta quase misturada com a noite, a barba quase
invisível no escuro. "Está na hora de ir, Sam."

Sam abaixou a cabeça. "Eu sei, senhor". Ele sempre chamou
seu superior de senhor, pois nao sabia seu nome, e talvez
nunca soubesse. Nao era importante. Sentimentos, emoções
e até mesmo coisas terrestres como nomes deixaram de importar
no mundo em que ele ainda estava se acostumando.

Não era um lugar ruim, mas não era casa.  Sam
sentia como se estivesse preso em dois mundo. Este
lugar nao era como sua casa, onde ele podia jogar
beisebol.

Ele tinha terminado com Dakota e Jamie, mas nao queria partir.
Seu irmao nao seria seu irmao por mais tempo, nao num plano
fisico. Mas ele ainda sentia um parentesco com Jamie, e queria
que ele ficasse contente. E Dakota... Deus, ele ainda se
lembrava da dor que sentiu na única vez em que a segurou em
seus braços, sabendo que nao era para ser.

"Ela nunca foi para você, Sam" seu companheiro disse.
"Você tem que ir em frente."

"Eu tenho," ele respondeu, sorrindo.  De repente, depois de
vigia-la por meses, ele finalmente sentiu a verdade. Mesmo
que tivesse a chance, ele sabia que teria perdido Dakota para
Jamie. O irmao dele era o melhor homem para ela - a ultima
semana provou isso. "Ela está onde deveria estar."

"Isso mesmo" o homem perto dele parou, olhando sobre tudo.
"Nao vai demorar, e vamos estar sobre a cidade de
Kansas. Vamos ficar lá."

Sam olhou pra ele, surpreso. "Cidade de Kansas? Por que?"

"Você era soldado bom, Sam.  Mas você era um
jogador de beisebol até melhor.  Você teve coração, e
há alguém que precisa de sua coragem agora.  Um
jogador de beisebol.  Boa criança."

"O que ele joga? Segunda base?" talvez ainda houvesse
esperança. Ele adorava jogar na segunda base. Ele ainda
podia sentir a emoção de virar o jogo para 4-6-3.
Mesmo que ele nao sentisse mais o cheiro das coisas,
o cheiro da bolsa coçou seu nariz.

"Shortstop. Grande jogador, mas ele precisa de um
pouco de persuasão. Ele nao vai ser muito bem
recebido na nova casa."

"Por que nao?"

"Ele joga - jogou para os Kansas Monarcas City,
Sam."

Sam estreitou os olhos. Agora ele entendeu tudo.
"A Liga dos Negros?"

O superior dele ficou de frente pra ele, com um olhar
eriçado. "Eu nao deveria perguntar mas - você tem algum
problema em relação a isso?"

"Nao!" Sam nao era racista, e nunca foi. "Você se
importa se eu perguntar por que ele precisa da minha
ajuda?"

"Ele acabou de assinar um contrato com o time da Liga Principal"

Sam bufou, tremendo a cabeça. "Ele vai precisar de muito mais
do que a minha ajuda. Ele vai precisar de uma armadura."

"Sam..." o Senhor advertiu, a voz mostrando impaciencia.

"Eu sei, eu sei," Sam respondeu com um sorriso.  "Eu vou
para onde o chefe me mandar." Acenando com o queixo, ele mergulhou
à frente. "Então, qual é a historia desse cara?"

Ele lhe contou, e Sam respondeu.

"Certo. Mas se esse menino nao for tão bom assim, nao
me culpe."

"E se ele for um All-Star?"

"Então você vai me mandar para os Yankees."

"Feito." o Senhor ofereceu a mão, e Sam aceitou.

Enquanto cruzavam o Rio Mississippi, os dois riram, o
som sumindo como os flocos de neve na noite.

Fim

Ironias do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora