Sombria

Parte1/Capítulo 1

Parte 1

"Antes de dormir você deve se perguntar, será que hoje eu vou sonhar?"

Confesso querido leitor que não começo pelo início, afinal de contas o que é o início? Quando começamos uma jornada devemos contar como chegamos a isso não? Mas como saber quando pegamos tal estrada tortuosa se a cada decisão podemos mudar algo em nosso destino?

Então começamos em um dia tão tortuoso quanto a própria vida, afinal de contas chovia naquele dia fatídico, o tempo estava feio e o sol não brilhava, Cibele acordou com os galos como em todos os dias, ela transpirava tanto que seu colchão estava molhado, mais uma vez ela havia sonhado com...

Capítulo 1

Aqueles olhos a perseguiam, assim como os gritos, assim como o barulho daquele cinto caindo ao chão. Cibele sabia que aquilo não passava de um sonho, ela sabia que a qualquer instante ela iria acordar, ela até mesmo sabia oque precisava fazer para acordar - Ela precisava se virar e correr, assim como ela fez naquele dia a anos atrás. Aquele era o seu castigo por ter sido uma covarde, por ainda ser uma covarde, olhando uma última vez para aqueles olhos cheios de lágrimas ela se virou e correu.

Sua respiração estava irregular quando abriu os olhos, a luz suave entrava pela janela iluminando as paredes de madeira e os poucos móveis que ainda tinha, seu peito descia e subia no ritmo da chuva que caía do lado de fora - Foi só mais um sonho, ela dizia isso para si mesma toda as manhãs a oito anos, sempre era a mesma coisa, os deuses a estavam punindo por ter deixado aquela mulher morrer. Cibele lembrou do sangue enquanto colocava os pés fora da cama, ela lembrou daqueles membros frágeis cheios de hematomas enquanto escovava os dentes e por último, ela se lembrou daqueles olhos exóticos cheios de medo, garra e vontade de viver "Ela lutou até o final" Cibele não tinha dúvidas sobre isso quando se colocou para fora do seu quarto.

Para ela ainda era estranho viver em uma casa, mesmo que a casa estivesse dentro da floresta e longe da vila mais próxima, dormir em uma cama e comer todos os dias ainda era estranho, ainda mais quando ela pensava que o seu clã ainda passava fome.

"Ainda sou uma covarde"

Cibele ouviu uma tosse pelo corredor e se apressou em entrar no quarto de sua mãe, ela estava morrendo a meses. Cibele sabia melhor do que ninguém que a morte uma hora ou outra chega para todo mundo, mas ela não era humana com um vida frágil - A porta se abriu sem nenhum rangido e ela olhou sua mãe, Margô já tinha sido uma bela mulher, mesmo para os padrões dos sombras ela tinha um rosto nobre e agora seu rosto estava magro demais, pálido demais, até seus olhos turquesas estavam sem brilho essa manhã.

- Como se sente hoje mamã? - Cibele perguntou sentando na beira da cama.

"Pelo menos ela vai morrer confortável" pensou enquanto passava os dedos nos cabelos platinados de sua mãe.

- Estou bem querida... A hora chegou...

A hora da morte, essa era a hora mais importante para um sombra, só na hora da morte a marca negra sumia dando espaço para a alma se libertar do corpo e viver livre finalmente.

- Eu tenho que ir até a vila hoje, pode me esperar? - perguntou. As duas sabiam qual era a pergunta verdadeira "Você vai estar viva quando eu voltar?"

- Sim querida, só não demore muito... Está perto...

Cibele não disse mais nada, ela só ficou ali observando um pouco, gravando em sua mente o rosto da única pessoa que ela já amou, a única pessoa que ela nunca iria esquecer. O tempo não perdoa, o destino não é amável e a morte... A morte é para os corajosos.