A meia noite se aproximava assim como Cibele se aproximava de seu antigo clã. Muitos diriam que aquela era a noite mais escura do ano, noites sem o luar eram noites de terror, noites em que o clã cantava em volta da fogueira para que os deuses os livrasse do mal, eram noites em que nenhuma alma viva saia do acampamento — Os mais velhos sempre passavam a noite acordados, vigiando o acampamento e orando pelos mais jovens, quando ela se aproximou o suficiente para ver as grandes fogueiras queimando vivas ela também pode ouvir o cântico da noite sem lua.
Nessa noite sem luar
Quando a deusa não pode olhar
Rogamos ao deus da terra, venha nos salvarNessa noite escura
Quando a deusa não pode olhar
Oramos ao deus da terra, Cuide do nosso larNessa noite sem luar
Quando a deusa presa está
Pedimos aos antigos, protejam as crianças.
Mas quem seremos amanhã, quando o sol brilhar.
Assim que a deusa voltar, pedimos para nos perdoar.Nessa noite que é escura
Dormiremos sem a paz
Rogamos ao deus da terra
Oramos aos antigos
Pedindo por abrigo
Até a deusa voltar.Essa música trazia muitas recordações que agora tinham um gosto azedo na boca — Cibele ainda lembrava de quando era mais nova e a noite escura vinha, sua mãe sempre cantava a música da noite sem lua para ela, Margô sempre mudava o final para alegrar Cibele, uma forma não muito eficaz já que ninguém ficava em paz nas noites escuras, pelo menos não os sombras. Nas noites escuras os aldeões não precisavam se preocupar, eles tinham a guarda dos escolhidos e se isso não fosse o suficiente eles tinham também seus poderes, eles tinham uma casa… Os sombras só podiam contar consigo mesmo, Cibele andou a passos firmes, a alguns metros ela ouviu o som familiar da passada de seu perseguidor.
Antes era irrelevante alguém a seguindo, mas ela estava perto demais de seu clã para achar seguro levar um estranho até lá, mesmo que os mais velhos sejam treinados para se defender na floresta as crianças ainda não sabiam quando estavam em perigo — Ela podia ter sido expulsa do clã mas nunca levaria o inimigo a sua porta, ainda mais quando todos ali não passavam de inocentes que se recusaram a revidar um ataque. Cibele parou e se encostou em uma árvore, se passaram minutos até o perseguidor perceber que ela tinha parado, com esse fato em mãos ele parou também tentando se esconder e vigiar ela.
— EU SEI QUE ME SEGUE DESDE A VILA, APRESENTE-SE OU MORRA! - Ela gritou para a escuridão da mata. Logo ela pode ver um vulto, então uma silhueta e enfim ela viu quem era.
Cibele quis rir da coragem do garoto, sentar na mesma mesa que uma assassina na frente de uma testemunha em plena manhã era uma coisa, seguir a mesma até uma floresta em uma noite escura era outra coisa totalmente diferente — Se ela fosse mais caridosa iria até mesmo aplaudir o garoto, príncipes deviam ser mesmo muito ingênuos.
— Eu vou perguntar apenas uma vez, se a resposta não for boa eu irei te degolar e deixar seu corpo a quilômetros daqui para os seus guardas o acharem em uma fossa com o próprio mijo - Cibele disse devagar e com a voz mais clara que podia fazer — O que está fazendo aqui príncipe?
A vida era engraçada, uma hora estamos queimando até as cinzas o lugar que amamos, outra hora estamos quase matando o filho do rei. “Vossa Alteza” tirou o capuz mostrando seus olhos brilhantes, seus cabelos cinzas e suas orelhas pontudas com mais jóias do que uma dama da corte — Ele suava de medo e ela estava adorando cada segundo do seu tormento.
— Uma assassina não é uma pessoa confiável, não quero meu segredo em mãos erradas, pagarei mais dez moedas para ir junto - Ele disse. Cibele podia sentir o medo escapando pelos poros do garoto.

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Sombria
FantasyCibele Phiyam do clã sombra não era inocente, ninguém em Volon a Terceira Dimensões era, de um modo ou de outro todos tinham sangue em suas mãos, mas Cibele era diferente, ela escolheu o sangue nas mãos, ela escolheu o sangue de quem recairia sobre...