Sombria

Prólogo

A garota não tinha nem mesmo cinco anos, ela não sabia como o mundo era, ela nem mesmo sabia o que esperar se saísse da floresta, mesmo assim ela brincava calmamente enquanto o céu acima azul e brilhante a olhava. Não tinha muitas crianças no acampamento mas a garota sempre ficava de vigia do pequeno bebê que sua mãe a ensinou a chamar de sitro, seu irmão de coração, hoje ela estava de guarda do bebê enquanto sua mãe arrumava os cabelos dela da melhor forma possível sentada em frente a sua barraca.

A garota só conhecia a floresta, cercada pelas árvores, o acampamento era o único lar que ela tinha, o cheiro ali era tão puro e doce, e quando podia sua mãe á levava para brincar no riu que passava com uma corrente forte, trazendo peixes e outras criaturas brilhantes que faziam graças na água, mas nada ali era tão impressionante quanto a mãe da garota.

A mãe da garota era como todas as mulheres ali, magra demais, doente demais, ainda assim a voz da mãe da garota era como um bálsamo para ela, aliviando a fome pois com a caça sendo ilegal os homens quase nunca se arriscaram trazendo um cervo ou até mesmo um coelho, então naquela tarde a garota pediu a sua mãe uma história, uma história bonita para acalmar ela é o bebê.

— Antigamente, antes desse mundo existir, quando nosso povo ainda convivia com os humanos, existiam sete clãs, eles eram diferente dos outros clãs pois eram não só abençoados pelos deuses como também eram abençoados pelos antigos, com o tempo eles viraram os líderes de cada raça mágica…

— Mas mamã essa não é uma história de amor, é apenas uma história, história! - disse a garota interrompendo a mãe. A mulher mais velha não se importou e continuou a história.

— Os sete clãs líderes tinham um grande carinho pelos humanos, mesmo quando eles começaram a matar seus povos eles ficaram do lado dos mais fracos, alguns dizem que essa atitude talvez venha do fato de que vários seres desses clãs haviam se apaixonado por humanas…

— Então é uma história de amor? - a garota perguntou.

— Calma pequena, estamos quase lá - a mulher acalmou a criança e continuou a contar — Eu não poderia saber sobre os outros clãs, mas existe uma história que todos os sombras conhecem sobre o clã Annimor, nesse clã existia um jovem com poderes especiais, ele amava todos e todos o amavam até que alguém muito poderoso se apaixonou por ele, dizem que ele tinha ficado agraciado com a proposta da mulher que até hoje desconhecemos de que espécie era, ele ficará honrado com o cortejo mas não pudera aceitar pois estava amando uma humana…

A mulher parou a história por alguns segundos, ponderando se deveria ou não contar aquilo que sua mãe lhe contou, assim como a mãe dela havia lhe contado, ela olhou para os cabelos brancos da filha e decidiu que não havia mal lhe contar também.

— A mulher que foi rejeitada não aceitou que iria ser trocada por uma mera humana, então dizem que na calada da noite, na lua de mel do casal essa mulher apareceu, dizem que ela matou o jovem e sua esposa é que ela amaldiçoou a tão adorada família do jovem, logo eles começaram a adoecer e a envelhecer… quando as raças vieram para esse mundo os clãs no poder foram destituídos e dizem que os novos líderes copiaram a maldição dessa mulher desconhecida e rogaram ela aos sete clãs.

— É a marca dos sombras? - A garota perguntou curiosa.

Ninguém nunca falava sobre a marca mas a garota ouviu, ela ouviu os gritos agudos do bebê quando vieram marcar ele como um sombra.

— Sim pequena, essa é a marca que todos nós levamos, me ouça com atenção pequena… O mundo em que vivemos não é justo, os sombras devem aceitar a vida que levam, você ainda não entende pois é muito nova mas um dia vai entender, e quando entender deve aceitar que esse é o nosso fardo. - A mais velha disse sem perceber que a garota já havia se distraído com outra coisa.