Two

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O dia demorou pra acabar, eram duas da manhã quando eu já estava pronta para partir.


Passei no quarto de Guilherme para doar minha última demonstração de carinho.

Espero que meu beijinho na sua cabeça alivie qualquer tipo de medo todas as noites.

Eu estou com medo de morrer, mas morrer e tentar me parece bom.

Se eu pudesse ser um animal, seria mais uma daquelas espécies de ursos polares que não sentem nada a não ser frio, e que nunca mantêm contato com pessoas da mesma espécie ou humanos.

Pelo menos eles são felizes... Não que eu não ame minha mãe e meu irmão, longe disso.

Mas essa prisão legalizada me deixa cada dia mais frustada e triste.

Agora eu vou ser a exploradora do mundo. E vou sair rodando ele todo.

Vestido balançando devido ao vento, cabelos soltos, menina livre.

Ninguém sabe, mas há meses eu venho planejando esta fuga, observando onde minha mãe guarda as chaves, como abrir o cadeado sem fazer nenhum barulho, e em que momento da noite o sono dela está mais profundo.

Sou uma espiã noturna, e me orgulho disso.

Não quero entrar no quarto de minha mãe, tenho medo dela acordar e me impedir de voar como eu quero.

Essa é a minha única chance.

Deixei um bilhete grudado na geladeira.

"Mamãe, sei que acha que o mundo é perigoso demais, mas talvez eu saiba lidar com ele melhor que você agora.

Não é para sempre, eu voltarei e vou tirar você e o Gui daqui.
Esperem por mim. Eu amo vocês."

Assim que coloquei o capuz do meu moletom surrado, senti um frio na barriga.

Eu estava partindo, estava indo embora finalmente.

Peguei as chaves no lugar secreto não tão secreto assim, e fui para os fundos da casa enorme, abri todos os cadeados com o maior cuidado que pude e os abri, um por um.

Minha mãe já saiu, saiu numa noite quente e voltou estranha.

Foi quando o Guilherme nasceu.

Acredito que se fosse tão ruim, ela não teria voltado.

E ganhou o Guilherme, de uma forma que eu não sei explicar, mas ele é iluminado.

Abri o grande portão de ferro com os olhos fechados, o mesmo rangeu um pouco, o que me assustou.

Já ouvi esse barulho antes, vi minha mãe saindo e no outro dia, a casa estava cheia de alimentos e nossas necessidades.

Ainda com os olhos fechados, saí e caí no chão, dei um gritinho e me calei logo quando abri os olhos.

Eu estava fora da prisão domiliciar, eu estava sentindo a brisa daquela madrugada tocar o meu rosto.

Sai correndo dali o mais rápido e longe que pude, o mar estava tão perto de mim, e eu queria tocá-lo.

Eu queria gritar, eu queria rir, tudo estava lindo e tão perto de mim, eu finalmente pude alcançar meus sonhos.

Parei. Tive medo de minha mãe me ver, então procurei uma parte daquela ilha que fosse segura, encontrei refúgio perto de uma caverna e fiquei lá pensando no que iria fazer a seguir.

Foi quando vi uma silhueta olhando o meu maior amor.

Seria um monstro?

Me encolhi, ainda tenho medo de monstros, apesar de duvidar se eles existem ou não.

Por Trás do Mar (HIATUS) Onde histórias criam vida. Descubra agora