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Keaton parecia tão diferente daquilo que era quando a morena o tinha conhecido. Tinha vivido os últimos anos em digressão e, apesar de adorar o que fazia, custava-lhe estar longe de casa e das pessoas que lhe eram tão importantes. Nunca pensou que estaria quatro anos a viajar, e nunca imaginou ficar durante tanto tempo tão longe da sua família. E dela. Olhou-a timidamente, como se fosse aquele miúdo de 17 anos com quem esta tinha namorado. Isso só deixava April mais desconfortável, pois apesar de ter sentido a sua falta, preferia que não se tivessem voltado a encontrar. Estava a tentar superá-lo há anos e tê-lo tão perto novamente só fazia com que todo este processo retrocedesse e voltasse ao início.

-Tens de ir embora. – Apontou a saída com a mão, mas Keaton não se mexeu nem um centímetro. Pegou, então, nas suas coisas prontar para sair dali o mais rápido possível. Queria sair daquela sala que parecia ser cada vez mais pequena. Não conseguia aguentar mais as lágrimas que faziam os seus olhos arder. Tinham passado por tanta coisa e tinham terminado de uma forma tão triste, o que fazia com que aquele momento fosse todo ele errado. – Adeus. - Sussurrou enquanto se dirigia para a porta.

April percorreu o jardim que parecia ser cada vez mais longo. Podiam tentar ter uma conversa civilizada, mas achava isso bastante difícil, isto é, não conseguiam falar um com o outro sem se tratarem mal. A cada passo que dava sentia-se mais nervosa sem nunca entender como é que ele a deixava assim. Conheciam-se há tempo suficiente para saberem que nunca iriam ter algo para além de amizade, no entanto não conseguia evitar sentir algo mais por ele. Sabia que estava a corar, sentindo-se ridícula por isso, mas tentou não pensar não dar importância, evitando ficar mais vermelha.

-O Keaton estava a comentar connosco que gostava de te convidar para sair.

-Estás doente? - Pousou as mãos nos bolsos traseiros dos calções de ganga. A sua surpresa e consequente frieza não surpreendia nenhum deles, mas o que eles não sabiam era que o seu coração palpitava freneticamente.

-E se quiser? – Confessou. – Aceitavas? – Lançou a perguntar sem pensar nas consequências da mesma. Tinha medo que recusasse.

-Talvez.

Tinha as mãos a tremer o que a impedia de conseguir pôr as chaves na fechadura. Respirou calmamente na tentativa de conter as lágrimas, mas sem efeito. Deixou tombar a mala encostando a cabeça à parede fria; as pernas começavam a fracassar, o seu corpo ficava cada vez mais frio e os soluços desesperados começavam a irromper pelo corredor. Entrou no apartamento, fechando a porta com um pontapé; mergulhou no sofá tentando esconder todo aquele sofrimento que lhe crescia no peito. Deixou as lágrimas rolar pelo seu rosto embatendo no couro por baixo de si. Não se lembrava da última vez que se tinha sentido tão magoada, tão cheia de nada.

Amava-o. Este encontro fugaz provou-lhe que nunca o conseguira esquecer, que o tinha no seu coração e que nada iria mudar isso. Pensou nos seus olhos tristes, no cabelo despenteado, nos lábios sem cor, na sua pele, na sua voz. Fechou os olhos e viu-o de novo à porta do seu escritório com um sorriso fraco. "Porque é que ele voltou?" Chorou sofregamente ao imaginar a dor que Keaton estaria a sentir. Lembrou a sua expressão quando pegou no casaco e quase correu para longe; ouviu-o chamá-la, sentiu-o atrás de si, mas nada a fez parar e correr para os seus braços.

Os raios de sol invadiam agora o apartamento de Walker, dando cor às pálidas paredes que tanto a viram sofrer na noite anterior. Rodou no sofá, onde acabou por adormecer, para voltar a entrar num sono profundo. Ouviu o seu telemóvel vibrar na mala, mas não teve coragem para se levantar. Deixou-se ficar mais uns minutos deitada, querendo esquecer tudo o que se passara apenas umas horas antes.

AprilOnde histórias criam vida. Descubra agora