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Sentia os braços de Michael, o seu irmão mais novo, a volta do seu tronco. Este puxava-a para si abrançando-a fortemente, enquanto ambos se riam. Quando a soltou depositou-lhe um beijo na testa; tinha imensas saudades da irmã, mas a vida de universitário não o deixava com muito tempo.

-Que estas aqui a fazer? – April perguntou com alguma surpresa na voz, puxando-o para dentro.

-O Tyler fez anos, mas já não aguentava mais estar naquela discoteca cheia de bêbedos. – Sentou-se no sofá, ligando a televisão num canal qualquer. – Desculpa não ter avisado que vinha.

-Sempre muito responsável. – Troçou. – Só tinhas era que aparecer. – Mike estava no segundo ano da faculdade em desporto e era, sem dúvida, um aluno exemplar: ganhou uma bolsa de estudo por ser um dos melhores jogadores de hóquei da cidade e entrou numa das melhores universidades do país. Como estava a lutar pelo seu futuro numa das equipas do país, eram raras as vezes que vinha a casa, aparecendo sempre sem avisar. "Parecia saber sempre o momento certo." A morena pensou enquanto o ouvia contar o que se havia passado nos últimos meses.

-Então e tu? – Colocou a perna direita em cima da esquerda. – Ouvi dizer que estás a tratar muito bem do negócio da família. – A editora tinha estado no comando dos seus pais durante muitos anos, mas depois do que acontecera April teve de assumir o comando ainda que mais cedo do que o previsto. No entanto, era este o seu sonho de miúda e por isso falava com grande entusiasmado dos romances que tinham lançado nas últimas semanas e no sucesso que estavam a ter.

A conversa prolongou-se pela noite o que mostrava os meses que tinham estado longe um do outro. Apesar da diferença de idades, tinham tido sempre uma relação de melhores amigos. April tinha muito orgulho no irmão e nada a deixava mais feliz e completa do que vê-lo a alcançar todos os seus objetivos.

Mike acabou por adormecer no sofá pelo que April, como irmã mais velha demasiado preocupada, pegou numa das suas mantas e cobriu o seu corpo. Não se lembrava da última vez que tinha passado uma noite daquelas com o irmão. Custou-lhe imenso deixá-lo quando fora para a universidade e o mesmo aconteceu quando foi ele a partir. Nunca imaginou passar tantos meses sem o ver, no entanto falavam praticamente todos os dias. Os pais deles não conseguiam entender como é que todos os irmãos tinham problemas enquanto iam crescendo e eles não; dava gosto vê-los falar sobre tudo, brincar, partilhar, vê-los a amarem-se incondicionalmente.

Naquela noite foi dormir de coração cheio; conseguira aliviar a dor que a consumia. Devia tudo ao seu irmão, toda a sua força muito teve a ver com ele.

O resto da semana tinha passado relativamente rápido e Walker tinha, finalmente, completado todo o trabalho que havia acumulado. Como em todas as sextas-feiras, ficou em casa rodeada de manuscritos e notas, o que a deixava realizada. Ainda pensava no dia em que tinha estado com o irmão e na sua promessa que voltaria em breve, desejando que assim fosse. Sentiu o seu telemóvel vibrar no bolso traseiro das calças, pelo que pegou nele sem olhar para o visor.

"Hey miúda" ouviu aquela tão doce voz; sentia saudades do seu amigo.

"Drew! Estava mesmo para te ligar." Falou com uma voz cheia de saudades.

"Calculo que sim." Riu-se desconfiado. "Logo vamos jantar a casa dos Stromberg. Vens certo?"

Fechou os olhos, contendo a respiração. Não queria faltar aquele jantar que reunia, quase, todos os amigos, mas o medo de o ver deixava-a paralisada. "Acho que sim" a voz falhou-lhe, ainda que tivesse tentado parecer normal.

"Vemo-nos às oito. Leva aquele bolo que só tu sabes fazer." choramingou.

Tinha uma hora e meia para se arranjar e fazer o bolo que Drew tanto adorava. Olhou uma última vez para os papéis espalhados pela secretária, de madeira escura, concluindo que não teria tempo para os arrumar e organizar. Saiu do escritório fechando a porta atrás de si; apressou-se a fazer o preparado do bolo e a colocá-lo no forno. Voltou a passar os olhos no relógio: meia hora havia voado.

Dirigiu-se apressadamente para o seu quarto no fim do corredor. Abriu as grandes portas do guarda-vestidos procurando algo para vestir; tinha tanta roupa, mas nunca sabia o que usar. Estava uma noite fria, característica de Abril, pelo que optou por uns jeans, uma camisa branca e umas sabrinas azul-escuro. Caminhou até à casa de banho, onde tomou um banho quente na tentativa de relaxar; sentia-se tão nervosa. Aplicou creme no seu corpo, vestindo o conjunto que tinha escolhido para aquela noite. Aplicou uma maquilhagem leve, colocou perfume e preparou-se para sair de casa.

Não se lembrava da última vez que tinha ido àquela rua; decidira sair da sua casa meses depois do acidente e tinha, por isso, jurado a si mesmo que era o melhor a fazer. Tinham deixado a casa onde tinham crescido enquanto família e todas as recordações boas, mas as más... Essas recordações ninguém conseguia aguentar, por isso preferiram mudar-se, ainda que com alguma tristeza espelhada nos seus rostos.

Percorreu aquele caminho, no conforto do seu automóvel; a casa dos Stromberg era a última pelo que ia relembrando cada vez que lá tinha ido. Tinham passado cinco anos desde o dia em que tinham feito o almoço em sua honra naquela casa tão acolhedora. Estacionou o carro num dos inúmeros lugares vagos; suspirou agarrando o volante com força. Tinha evitado Keaton durante mais de quatro anos, estando com o grupo de amigos em ocasiões em que este não estivesse. Ir à sua casa, depois de ele ter aparecido na editora, tornava-se doloroso. Saiu do veículo a todo o custo, pegando na pequena carteira, no casaco azul e no bolo pousados no lugar de pendura.

As suas mãos tremiam quando tocou à campainha pelo que as escondeu ora debaixo do bolo ora no bolso das calças. Sentiu a porta abrir, o que fez com que olhasse, a medo, para a figura à sua frente. Um corpo pequenino abraçou-se ao seu; tinha saudades daquele abraço.



AprilOnde histórias criam vida. Descubra agora