As pupilas estavam dilatadas, rodeadas por círculos tão verdes como jades, a íris perfeitamente delineada na parte branca constituinte dos olhos. As suas pestanas tinham o tamanho ideal e ficavam-lhe lindamente. Criando uma imagem de sonho. Os seus lábios estavam ligeiramente afastados, como se ele tivesse alguma coisa para dizer mas estava com receio para o fazer. Ele devia estar a seguir o meu olhar, então notou que eu parei nos seus lábios, um sorriso cresceu no canto da sua boca. Foi aí que eu me lembrei onde estava. Entreabri a minha boca ligeiramente para falar mas ele pôs um dedo à frente impedindo-me.
Fechei os olhos ao toque dele, mas rapidamente me recompus. Coloquei as minhas mãos sobre as dele e através do olhar pedi-lhe para que me largasse. Porém, ele não o fez. E pareceu até que tentou o oposto. As mãos dele abriram-se, preenchendo assim as minhas bochechas, puxou-me para mais perto dele e colou os seus lábios aos meus. Afastei-os de imediato e dei permissão à sua língua para entrar, esta dançava em sintonia com a minha. Não foi um beijo como os outros que alguma vez tenhamos partilhado, não. Este foi um beijo calmo, quase que me atrevo a dizer que continha um sentimento da parte dele, isto porque da minha parte esse sentimento era óbvio. Foi como se ambos estivéssemos a degustar o beijo e uma vez que descobrimos gostar não queremos nunca mais nos afastar.
Contudo, tanto eu como ele sabíamos que isso não era possível, mais cedo ou mais tarde acabávamos por ser interrompidos e obrigados a fingir que nada tinha acontecido. Por isso mesmo, antes que o meu pai ou a mãe dele entrasse por aquela porta adentro, eu ganhei forças e empurrei-o pelo peito. “Então?” O olhar dele estava diferente, não era aquele de esfomeado que eu vi ontem à noite ou mesmo hoje de manhã, parecia um de quem estava.. ofendido por eu ter recusado o beijo?
“Se eu te irrito porquê que continuas a insistir? Porquê que me beijas? Não achas cansativo este tipo de jogo do vai e volta?” Ele ficou apenas a olhar para mim à espera que eu continuasse. “Para mim já chegou ao ponto de me deixar maluca! Não consigo passar meio dia sem pensar em ti, não consigo falar com um rapaz sem o comparar contigo e não consigo arranjar namorado por tua causa! Enquanto tu estás aí numa boa como se nada fosse. Fazes tudo o que sempre fizeste, não mudaste a tua rotina por minha causa e eu não te causei “danos”. Tu estás bem, eu sei que estás. Mas eu não estou. Por isso, peço por tudo neste mundo, afasta-te de mim… Por favor…”
O Harry não respondeu logo. Ele tinha estado o meu discurso todo a encarar-me nos olhos mas quando acabei, o olhar dele baixou. Apesar de ele estar a olhar para o chão, eu pude ver que tinha as sobrancelhas juntas, só significava que estava a pensar. Aguardei um bocado pela resposta dele até que o ouvi murmurar, “Está bem, se é isso que queres então eu afasto-me de ti.” Eu balancei com a cabeça sim, e embora ele não pudesse ver porque ainda não tinha voltado a olhar para mim, não me preocupei com isso. Soltei um suspiro, levantei-me do sofá e dirigi-me para o meu quarto, deixando o Harry a remoer sozinho na sala.
Senti um alívio depois de ter dito aquelas palavras. Sentia que já as tinha guardado para mim durante muito tempo e que não havia altura melhor para as pronunciar do que agora. Aquele joguinho tinha de parar, já não me estava a fazer bem. Eu sei que disse que não queria namorar, mas prender-me a uma pessoa com quem eu sei que nunca posso vir a ter um relacionamento, era muito pior. E entre magoar-me a mim mesma ou magoar o meu pai e a Anne, eu preferi sem dúvidas nenhumas escolher-me a mim. Daí achar que a melhor decisão era parar de vez o que quer que seja que havia entre nós os dois. Fuck, porquê que a vida nos obriga a tomar estas decisões devastadoras? Porque não pode ser tudo tão simples como nos filmes da Disney em que o príncipe casa-se com a Gata Borralheira?
Ouvi a porta principal bater e das duas uma, ou o Harry tinha acabado de sair ou o meu pai tinha chegado. Espreitei do cimo das escadas para a sala e não vi lá ninguém, nem sequer ouvia um único barulho. Boa, ele saiu outra vez. Será que ficou chateado comigo por eu ter dito aquilo? Mas porque haveria de ficar, ele não sente nada por mim. Certo?
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Stay away please... (parada)
FanfictionPippa, 19 anos, é uma simples rapariga que se apaixona por quem não devia mas que de tudo vai fazer para que o consiga esquecer de vez. Será que vai resultar? Para isso ela terá de superar muitos desafios. Descobre mais ao ler a história...