Capítulo 2

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“Philippa, querida?” Ainda era cedo, tenho a certeza disso, então porque raio está alguém a bater à porta do meu quarto? “O teu pai e eu vamos sair e não almoçamos em casa, mas tu e o Harry têm comida no micro-ondas, é só aquecer.” Eu virei-me na cama e finalmente abri os olhos, mesmo que tenha sido com muita dificuldade. Espreitei o relógio que estava pousado em cima da mesinha de cabeceira e afinal já passavam das 12:30, oops. Ontem ainda demorei um bocado a adormecer depois de ter ido deitar o Harry.

Quando ele me contou sobre o novo aluno – Zayn, acho que foi esse o seu nome que ouvi ontem – fiquei um bocado confusa. Só queria que alguém me explicasse o porquê de ele ter direito a uma festa de boas-vindas. Eu não tive. Bem, tive, mas fui eu e mais uma centena de alunos. Mas esse “alguém” não foi o Harry dado que não demorou mais de cinco minutos a adormecer. Quando o vi a dormir permaneci lá deitada a pensar, não pude deixar de tentar imaginar como seria o Zayn. Será bom aluno? Lunático pela ciência, talvez? Naah, duvido. Será que gosta de escrever, tal como eu? Sinceramente não me acredito muito nisso. Nenhum dos amigos do meu ‘meio-irmão’ seria fixe ao ponto de ter os mesmos gostos que eu. Deve ser um aluno mediano com uma bolsa de estudo devido ao desporto. Provavelmente é só mais um parvalhão como metade dos rapazes daquela universidade. Daqueles que acham que conseguem ter qualquer miúda na sua cama. Otários.

Mesmo assim não pude deixar de tentar visualizá-lo fisicamente. Imagino-o alto e magro. Como acho que ele teve uma bolsa de estudo de um desporto qualquer, – suponho que tenha sido futebol – ele deve ser musculado. Deve ter os gémeos bem definidos, e se trabalhar bem os braços os bíceps também devem ser grandes. E tenho a certeza que deve ter os abdominais definidos. Oh meu Deus. Hum, loiro ou moreno? Não sei. Mas qualquer um serve. Os seus olhos serão azuis profundo como o fundo do mar? Ou serão como o céu? Assim meio acinzentados, lindos. Ou azuis esverdeados? Seria interessante. Admito que se fossem verdes como os do Harry eu morria. Adoro os olhos do Harry! Aiie, agora espero mesmo que não sejam verdes, já basta os daquele ser humano super irritante. A última opção que falta é o castanho. Acho olhos castanhos aborrecidos e nada atraentes, deve ser por isso é que não gosto dos meus. Yap.

“Está bem.” Espero que ela tenha ouvido. Não falei aos berros, até porque não conseguia visto que acabei de acordar, mas também não falei a sussurrar. Portanto vamos simplesmente supor que a Anne ouviu o que eu disse.

Senti os meus olhos a voltarem a fechar. Quando os voltei a abrir tinha um Harry sorridente ao meu lado. Assustei-me e dei um salto, tentando afastar-me dele ao mesmo tempo. What the …?

“Que estás aqui a fazer? Quando é que vieste para aqui?”

Ele ri-se. “Há uns 10 minutos.”

“O quê?” Aparentemente o meu fechar de olhos prolongou-se por mais de meia hora, pelo menos é o que o meu relógio diz ao marcar 13:15 no ecrã. “E o que estás aqui a fazer? O meu pai pode te ver no meu quarto Harry!!!” Praticamente gritei em pânico. Praticamente não. Gritei mesmo.

“Ele foi sair com a minha mãe, não te preocupes que ninguém me viu entrar.” Voltou a rir-se. “E não queria estar sozinho na minha cama. Mas se gritares outra vez vou embora. Estou de ressaca.”

Subitamente a memória da voz da Anne a falar para mim de trás da porta veio-me à cabeça. “Desculpa… Mas a culpa é toda tua, não bebesses tanto ontem à noite. O que é que te deu para apareceres assim todo bêbado?”

“Foi a festa de boas-vindas do Zayn.”

“Já tinhas dito isso,” falei irritada por ele me dar sempre a mesma resposta. “Mas mesmo assim, devias de te ter controlado. Isso foi um ato irresponsável.”

“E desde quando te interessa que eu seja ou não irresponsável?”

“Quando pões em causa o meu futuro sim, interessa.”

“Futuro? Mas que conversa é essa?” Perguntou, claramente confuso.

“Vieste para a porta do meu quarto e puseste-te aos gritos! Podias ter acordado os nossos pais! E depois que desculpa dava para estar na mesma cama que tu?”

“Que estavas a ajudar o teu irmão.” Falou como se fosse a coisa mais óbvia à face do mundo.

Ele nunca pensa nas consequências dos seus atos e isso irrita-me. Mas porque te foste apaixonar Philippa? Estavas tão bem com a tua vidinha aborrecida e monótona. Não precisavas de ninguém novo depois daquele último incidente, principalmente de alguém como o Harry.

Respirei fundo e ignorei o olhar que ele me estava a dar ainda à espera da minha resposta. “A Anne disse que temos comida no micro-ondas. Podes ir comer.”

Ele franziu a sobrancelha direita. “E tu não comes?”

“Não agora, acabei de acordar e ainda não tenho fome.” Isso e a falta de apetite que tenho tido nestes últimos dias, acrescentei mentalmente.

“Eu faço-te companhia, também ainda não tenho muita fome,” sorri. Aquelas covinhas são mesmo de cortar a respiração a qualquer pessoa. E aqueles lábios, aiie, rosa, com a forma perfeita, suculentos, e parecem estar sempre prontos para serem beijados. Quero beijá-lo. Quero beijá-lo agora mesmo e nunca mais parar.

Abanei a cabeça do meu pensamento e correspondi-lhe o sorriso antes de me virar para o outro lado para pegar no comando da televisão. Liguei-a num canal qualquer e depois fiz zapping até encontrar algo de interessante para ver. “Pode ficar aqui?” Perguntei ao Harry.

“Claro. Porque estás assim?”

“Assim como?” Do que é que ele está a falar?

“Estás sempre de mal humor, já não fazemos cenas juntos. Andas-me sempre a evitar na faculdade. Qual é o teu problema?”

“Nenhum? E eu não estou sempre de mal humor. Simplesmente não preciso de fingir um sorriso como tu fazes. Não tenho de agradar ninguém. Eu sou como sou, quem quiser que goste.”

“Tu é que sabes. Princesinha.” Falou com raiva e sarcasmo enquanto revira os olhos.

“Parvo” Sussurrei. Levantei-me e fui para a casa de banho. Comecei a andar mais rápido quando o ouvi a correr atrás de mim. Não era suposto ele ter ouvido aquilo. Rapidamente entrei e tranquei-me lá dentro. Ele tentou abrir a porta e bateu várias vezes na mesma. “Vai-te embora. Não tens mais nada para fazer?!”

“Não neste momento. Vais abrir a porta ou é preciso eu arromba-la?”

“Já a vou abrir, dá-me só uns minutos de sossego… Fogo, não posso usar a casa de banho sem me vires chatear?”

“Pensei que estivesses a fugir de mim outra vez.” A voz dele já tinha suavizado. Nem parecia a mesma pessoa que ainda há cerca de cinco segundos atrás estava a ameaçar arrombar a porta. “Ouve, quando saíres vai ter ao meu quarto. Quero falar contigo.”

“Ok.” 

Stay away please... (parada)Onde histórias criam vida. Descubra agora