Capítulo 4

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Senti a vontade de me esconder num sítio bem longe onde ninguém nunca me pudesse encontrar. Que vergonha, meu Deus. Isto não, definitivamente, a melhor maneira de se apresentar a alguém. Mas eu tentei agir como se não se passasse nada, aliás, se eu fugisse daqui só lhe daria razões para se rir de mim, e se lhe fechasse a porta na cara o mais provável era que fosse ganhar um inimigo.

“Sou o Zayn,” ele esticou um braço para a frente e eu imitei a ação cumprimentando-o.

“Philippa.” Uma das minhas mãos estava presa com a dele e a outra estava na ponta da minha camisola na tentativa de a puxar para baixo, ou pelo menos para não deixá-la subir mais. “Se vieste ver o Harry, ele não está. Saiu meros minutos antes de teres tocado à campainha.”

“Hum, por acaso até tinha uma cena para falar com ele,” a minha respiração parou por segundos quando o vi a morder o lábio, provavelmente perdido em pensamentos. “Ele não me disse que tinha uma irmã…”

“Nós não somos irmãos,” sorri.

“Namorada...?”

“Não, namorada não,” não consegui evitar e dei uma pequena gargalhada. “Namorada” tem piada essa palavra. Parei de me rir quando ao olhar para a cara do Zayn reparei numa certa confusão e curiosidade. Mas eu vou mesmo falar da minha vida com um completo estranho? Bem, não é bem estranho. Já sei o nome dele e ele já me viu no meu estado mais vulnerável, ou seja, acabada de acordar, o que não é o caso, mas parece, e viu-me de óculos. Além disso não vejo qual é o mal em responder uma coisa tão simples como, “Não somos irmãos mas o meu pai está junto com a mãe dele.”

Ele abriu a boca ligeiramente deixando sair um “Ah” e abanou a cabeça para dar a intender que percebeu a minha curtíssima explicação.

“Bem, se não te importas…” comecei, queria mesmo fechar a porta porque me estava a sentir desconfortável mas não queria ser desagradável com ele. Por mais estranho que possa parecer, ele até parecia simpático. Apontei para a porta com o olhar.

“Oh, claro.” Não foi preciso acabar a minha frase porque ele percebeu o que eu queria. “Vejo-te mais tarde,” falou com um sorriso lindo.

“Claro, adeus.” Respondi a tentar condizer o seu sorriso. Ele acenou com a cabeça e virou costas. Fechei a porta logo no segundo seguinte, encostei-me à madeira fria e deixei um suspiro escapar da minha boca.

Não tinha noção mas acho que tive a suster uma respiração desde que o vi. Aquele rapaz é mesmo lindo, cabelo escuro quase preto, olhos castanhos avelã surpreendentemente lindos. Nunca pensei ficar encantada com uns olhos castanhos, mas os dele eram diferentes, eram grandes e tanto a íris como a pupila estão delineadas na perfeição. E aquelas pestanas? Uau, acho que ainda eram maiores que as minhas. Mas ficam-lhe a matar. Mais um menino bonito para fazer parte do grupinho do Harry. Já disse a mim mesma uma dez vezes que não quero ter nada a ver com os amiguinhos dele. Não gosto deles. Eles não são todos uns otários, mas por causa de um pagam todos.

A pior decisão da minha vida, até agora, foi envolver-me com um dos seus amiguinhos. Foi o ano passado, com o Peter. Eu estava completamente apaixonada por ele, e achava que eu também gostasse de mim, mas as coisas às vezes não são o que parecem. Nem as pessoas são o que aparentam. Esta última afirmação adequa-se a mim, eu posso parecer uma miúda forte e sem medos mas não passo de mais uma com o coração despedaçado em mil pedaços. Não tenho sorte nestas coisas, aliás, acho que não tenho sorte em nada mesmo. Enfim, vou mas é arranjar-me para uma tarde de compras antes de começar a chorar. Não quero ser assim, como já disse, este é um capítulo da minha vida que já apaguei. E agora rezo todos os dias para que ele não se reescreva.

Subi as escadas para o meu quarto e ocupei-me a escolher uma roupa confortável para ir às compras. A Katie é uma daquelas doidas por compras pelo que confesso estar um bocado assustada com o que me espera. Be brave Philippa.

Vesti umas leggings pretas e uma camisa branca. Calcei as minhas vans pretas e soltei o meu cabelo. Fui penteá-lo para que ele ficasse liso como eu gosto. Coloquei as minhas lentes e depois um pouco de maquilhagem, o básico, risco preto nos olhos e um gloss rosa discreto. No momento em que fui buscar um casaco, caso fosse ter frio, o meu telemóvel toca. Era uma mensagem. Fui a correr buscá-lo e li no ecrã, “Já fui buscar a Mary Ann, estou em tua casa daqui a 10 minutos :D xx”

Não respondi porque não valia a pena, daqui a 10 minutos já estaríamos juntas. Ela é sempre muito pontual. Fui para a sala fazer tempo e quando já estava na hora apaguei a televisão e saí, trancando a porta atrás de mim. Enquanto esperava que elas chegassem, não consegui evitar e olhei para a porta ao lado oposto da minha. Comtemplar a porta dos meus novos vizinhos parece ser interessante. Perdi-me mais uma vez ao pensar nos olhos do Zayn. Só despertei quando ouvi a buzina de um carro, era a Katie a chamar-me.

Bem, que comece a diversão.

Entrei no carro e cumprimentei-as. Elas estavam lindas, simples mas bonitas. A Katie era loira, o cabelo dela era enorme, ia até ao fim das costas e era meio ondulado. Ela tinha uns olhos confusos, encontrava-se tantas cores neles que nem conseguias dizer ao certo qual era a cor principal. Eles eram cinzentos, castanhos e verdes, acho que a cor que mais sobressaia era o cinzento. Já a Mary Ann era uma morena como eu apesar de o cabelo dela ser mais escuro que o meu. Tem olhos azuis, e eu e a Katie gostávamos de lhe chamar de Megan Fox por isso.

“Vocês não vão acreditar no que acabou de me acontecer.”

Stay away please... (parada)Onde histórias criam vida. Descubra agora