Capitulo 1

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— Sapphire, você não ouviu uma palavra do que eu disse. O que há de errado? — perguntou Alan.

Os olhos profundamente azuis, razão para o nome incomum, viraram na direção dele. O sorriso breve não conseguia esconder toda a sua preocupação.

— Recebi uma carta de casa esta manhã e, aparentemente, meu pai não está bem.

— De casa? — Alan lhe lançou um olhar estranho. — Engraçado, é a primeira vez que a ouço chamar aquele lugar de "casa" durante estes quatro anos que trabalha para mim. Sempre o chamou de Grassingham.

Franzindo o cenho ligeiramente, Sapphire deixou a escrivaninha e começou a andar. Era verdade que naqueles quatro anos em que trabalhava em Londres procurara manter afastada da memória as coisas do passado o máximo possível. O que incluía referir-se à aldeia localizada na fronteira, onde havia crescido, como "casa". Mas em tempos de crise, de condicionamento mental, isso era posto de lado. Seu pai estava confinado em uma cama e com perspectivas de permanecer semi-inválido para o resto da vida!

Distraída, parou de andar e olhou para fora pela grande janela do escritório, mas em vez de ver os edifícios comerciais e as movimentadas ruas de Londres viu a casa de sua infância. A fazenda que pertencia aos Bell há várias gerações, passada de pai para filho, desde a época de Elisabeth I. Mas é claro que seu pai não tivera um filho para continuar cultivando a terra que ele tanto amava e fora por isso que... Sapphire mordeu o lábio inferior, preocupada. O povo da fronteira da Inglaterra com a Escócia se adaptava muito lentamente às mudanças sociais. As pessoas que lá viviam possuíam uma desconfiança arraigada em relação a "novas idéias". Porém, se ela desejasse, sabia que o pai a encorajaria a obter o grau de agrônoma exigido para administrar uma propriedade do porte da Flaws. Mas, embora tivesse crescido na fazenda, não tinha nenhum desejo de dirigi-la.

O vale de Flaws era um dos mais férteis da região, e se o seu pai decidisse vender as terras, não haveria falta de pessoas interessadas em comprá-las. Mas como poderia vendê-la? Isso partiria o coração do pobre homem. Após ser abandonado pela mãe dela, dedicara-se exclusivamente à fazenda e à filha. A mãe dela... Sapphire suspirou. Mal se lembrava dela agora, embora soubesse que as duas eram muito parecidas.

Fora da mãe americana que herdara o louro trigo dos cabelos e o corpo longilíneo e esbelto, ambos vistos com um toque de desprezo pelo povo da fronteira.

"Ela tem a aparência e o temperamento de um cavalo de raça", certa vez um vizinho comentara com o pai dela num tom desdenhoso. "Mas o que estes vales precisam é de um robusto pônei."

Demasiado sensível, Sapphire crescera sabendo que o vale rejeitava a mãe dela. Era uma descuidada. Uma estrangeira. Mas o pior de tudo era o fato de ser bonita sem outro propósito na vida, além de ser bonita,

Embora fosse uma ferrenha defensora do pai quando criança — afinal também compartilhara seu problema de rejeição quando a mãe partira com o amante, deixando para trás uma criança de 4 anos —, agora, adulta, Sapphire podia entender como o vale havia sufocado e, por fim, arruinado uma mulher como a mãe dela, até não lhe restar mais nada a fazer a não ser partir.

A jornada de trabalho de um fazendeiro era extenuante e tudo que sua mãe almejava eram festas e entretenimento. E tudo que seu pai queria fazer à noite, era relaxar. A mãe estava morta agora, vítima de um acidente de carro na Califórnia e ela... Apesar do calor da central de aquecimento do escritório, Sapphire estremeceu. Sabia que nunca fora inteiramente aceita pelas pessoas do vale, e era por isso que reagia tão avidamente a qualquer sobra de atenção que lhe era dispensada. Um sorriso amargo curvou-lhe os cantos da boca. Ergueu o olhar e deparou com o ar preocupado de Alan.

Contrato de SeduçãoWhere stories live. Discover now