Capítulo 8

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Sapphire demorou deliberadamente a se vestir, evitando encarar Blake. Como esperava, quando entrou na cozinha meia hora depois não havia sinal dele, mas a visão de um melancólico Alan, sentado à mesa, com uma caneca de café na mão, a fez estacar com um sobressalto.

— Então você o "detesta", não é verdade? — zombou ele, em tom amargo. — Que bela maneira tem de demonstrar isso! E pensar que me privei de a levar para a cama com medo de chocá-la! Oh, está tudo bem, Sapphire. —Alan fez uma careta, sentindo a raiva abrandar, enquanto deslizava os dedos cansados pelos cabelos. — Ele me contou tudo. Como decidiram dar uma nova chance ao casamento de vocês. Apenas esperava ouvir essa notícia de você primeiro.

— Desculpe-me, Alan. — Trêmula, Sapphire sentou-se, sabendo que ele tinha todo o direito de ficar irritado e se sentir ressentido. — Não lhe contei por telefone porque... porque achei que não era a coisa certa a fazer. Não sabia que Blake pretendia que

reatássemos nosso casamento tão cedo.

— E feliz com ele? — De repente, a voz de Alan soou afetada pela dor, e o coração de Sapphire experimentou uma pontada de dor.

— Eu o amo de verdade — confessou ela, evitando a pergunta.

— E, obviamente, são extremamente compatíveis no sexo. — A afirmação de Alan a chocou. — Ora, vamos, Sapphire. Não sou completamente tolo — prosseguiu em tom áspero. — Quando um homem desce para tomar o desjejum com a aparência de um predador saciado, não é difícil imaginar o que colocou aquele sorriso em seu rosto.

Sapphire teve ímpetos de lhe dizer que estava errado, mas, por sensatez, não o fez. Talvez fosse mais fácil para Alan aceitar a situação se acreditasse que ela e Blake eram amantes. Infelizmente, sabia que a amizade de ambos havia chegado ao fim, e quando seu casamento acabasse, não teria como voltar para Alan. Iria sentir saudade dele como sempre acontece quando se perde um grande amigo, mas não o amava. Seus sentimentos em relação a Alan não eram em nada semelhantes aos que nutria por Blake.

Após tomar o café da manhã, Alan insistiu em partir. Quando se viu sozinha, Sapphire sentiu-se inquieta. Em um impulso, decidiu sair para uma caminhada e avistou Blake trabalhando em um dos campos cobertos de neve ao longe. Uma pequena forma bronzeada, próximo a um Land Rover, com algo familiar na postura que fez seu coração palpitar.

Tremendo devido ao vento frio, fez o caminho de volta à casa, ainda muito agitada para se acalmar. Iria visitar o pai, decidiu. Talvez aquilo a ajudasse manter a mente longe dos próprios problemas. O pátio da Haws Farm estava deserto quando estacionou o carro. Alguém havia retirado a neve do caminho, e embora a cozinha estivesse impregnada do aroma de comida, não havia sinal de Mary. Um terror agudo e paralisante a deteve por um segundo. A imagem assustadora do pai, imóvel, morrendo, ergueu-se diante dela. A visão clareou enquanto subia, correndo, a escada com o coração disparado. A pulsação acelerada pelo medo agudo quando escancarou a porta do quarto do pai e estacou, paralisada.

Longe de estar deitado no leito, às portas da morte, o pai se encontrava de pé em frente à janela, usando uma calça desbotada e um colete de lã grossa. Parecia mais magro do que Sapphire se lembrava, mas, exceto por isso, era o mesmo pai de sua pós-adolescência: A face conservada se voltou em direção à janela. Os olhos fixos nos contornos cobertos de neve das colinas.

— Já de volta? — comentou ele, sem lhe voltar o olhar. — Quero apenas uma xícara de café, Mary, e depois... — Quando girou e deparou com a filha, o choque e algo mais que ela não saberia definir pareceram reacender a vida em seus olhos.

— Sapphire!

O quarto começou a rodar e oscilar. Ela ouviu um zumbido nos ouvidos, que aumentava de intensidade até sobrepujar tudo mais.

Contrato de SeduçãoWhere stories live. Discover now