Sapphire estava pronta quando Blake chegou. Ele avaliou sua silhueta vestida de preto com um olhar superficial ao entrar na cozinha e então provocou:
— Está de luto?
— E o único vestido que trouxe comigo.
Novamente aqueles olhos dourados observaram o corpo dela, mas dessa vez não havia nenhum calor zombeteiro iluminando suas profundidades ambarinas quando Blake proferiu, num tom frio:
— Você devia ter me dito. Conservei o guarda-roupa com as suas coisas lá em casa. E a julgar pela sua aparência, acho que ainda cabe nelas.
As palavras soaram mais como um insulto do que como um elogio, e Sapphire se
virou de forma que ele não pudesse ver o rubor rápido que lhe aqueceu a pele. Por que Blake parecia possuir a habilidade de deixá-la mal, mesmo quando ela estava bem?
— Se está pronta, acho melhor irmos andando. Reservei nossa mesa para as 20h. — Ele conferiu o relógio, a visão breve daquele pulso moreno a fez sentir uma sensação estranha. Reconheceu-a de imediato e estremeceu. Julgara ter passado há muito tempo da fase de se sentir excitada com algo tão mundano quanto o braço de um homem. Quando adolescente, bastava vê-lo de longe para sentir um friozinho na barriga. Mas aquilo tudo ficara para trás. Afastando aqueles sentimentos da mente como um eco do passado, apanhou o casaco e o seguiu em direção aporta.
Para sua surpresa, ele não viera com o Land Rover, mas sim com um BMW preto e lustroso. Blake pareceu perceber sua admiração, porque ergueu as sobrancelhas e a fitou com um olhar sardônico, enquanto a aguardava. Quando Sapphire chegou ao carro, ele abriu a porta do carona num gesto de cavalheirismo. Mas isso não era novidade, afinal ele sempre tivera um ar de sofisticação masculina. O que era uma coisa rara na fronteira, onde a maioria dos rapazes com quem ela crescera só pensava era terras e gado. Porém, ela havia morado em Londres tempo suficiente para não se sentir intimidada por Blake, certo? Alan sempre fora cavalheiro, abrindo portas e conduzindo-a ao interior do veículo, mas os dedos dele em seu cotovelo jamais provocavam aquela sensação eletrizante como os de Blake, revelavam seus sentidos traiçoeiros.
Era ridículo se deixar afetar daquela maneira por um contato tão casual. Sem dúvida, estava com muito fragilizada. Tentara não pensar em Blake por tanto tempo que agora se sentia hipersensível em relação a ele. Sim, essa devia ser a explicação, decidiu Sapphire, quando ele pôs o carro em movimento. E claro que estava ferida e tensa. Afinal, quem não estaria, após saber que o pai se encontrava à morte e que o que mais desejava na vida era o que ela mais repudiava. Vê-la casada com Blake! Não contendo o impulso, fitou-o de esguelha. Estava concentrado na estrada, os lábios cerrados em uma linha firme. De repente, a realidade a atingiu. Em que havia se metido? Apesar do calor transmitido pelo aquecedor do carro, sentia frio. Mas sua face parecia estar queimando. Não podia continuar com aquilo. O pai teria que entender. Precisava falar com Blake...
— Se está com segundas intenções, esqueça-as, não vou levá-la de volta agora, Sapphire. — A frieza das palavras rudes atingiram suas reflexões angustiadas como uma chicotada. Como ele podia adivinhar seus pensamentos? Mas estava certo a respeito de uma coisa: era tarde demais para retroceder agora. Seu pai desejava desesperadamente a reconciliação dos dois.
— Aonde estamos indo? — perguntou, mais para dissipar a atmosfera tensa no interior do veículo do que para ficar sabendo.
— Haroldgate — Blake respondeu sucinto.
Sapphire conseguiu conter seu protesto. Haroldgate era uma pequena aldeia aninhada em um dos vales, e até onde sabia, possuía apenas um restaurante. Blake a levara lá na noite em que a pedira em casamento. Ficara tão emocionada com o pedido! O Barn em Haroldgate era o lugar mais sofisticado daquela região para se comer e ela nunca havia estado lá antes. Podia recordar, vividamente, o quanto ficara impressionada e tensa com o ambiente. Expulsando tais pensamentos da mente, tentou parecer desinteressada. O Barn podia ter sido o máximo da sofisticação para uma garota desajeitada de 17 anos que nunca estivera em lugar algum, mas não podia se comparar com alguns dos restaurantes em que Alan a levava. Alan era uma espécie de gourmet, e descobrir novos restaurantes era um dos seus passatempos prediletos. Também gostava de ser visto nos lugares certos, ao contrário de Blake, que não se preocupava muito com aparência ou se era visto fazendo a "coisa certa", reconheceu Sapphire. Tampouco fazia
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Contrato de Sedução
Storie d'amoreBlake Setton casou com Sapphire com o intuito de adquirir a propriedade de seu pai. No início, ela estava encantada demais por ele para se dar conta de que Blake era apaixonado por Miranda, sua amante, e não pela esposa jovem e inocente. Porém, ao d...