Capítulo 9

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— Sapphire, temos que conversar.

Estavam sentados em frente à lareira que ela acendera logo após o jantar. Blake sugerira que tomassem o café ali e agora ela estava preocupada, temendo o que poderia ouvir. Estivera esperando por aquele momento com um misto de apreensão e angústia desde que acordara naquela tarde. Teria Blake percebido que ela ainda o amava? Iria lhe dizer que o que acontecera entre eles fora causado por algum distúrbio mental? Que nunca teria feito amor com ela se estivesse em seu juízo perfeito? Iria lhe contar sobre Miranda?

Arriscou um tímido olhar em direção a ele. Blake estava sentado na cadeira oposta à dela.

O tronco inclinado para a frente e os cotovelos apoiados nas coxas, enquanto mantinha o peso da cabeça nas mãos. Os dedos deslizando pelos cabelos negros.

Uma onda de amor a engolfou. Desejava estender a mão e tocá-lo. Suavizar o reflexo de exaustão dos olhos dourados, tocá-lo e o acariciar...

— Sapphire! — O tom de voz de Blake a advertia de que ele sabia que seus pensamentos estavam vagando. Os dedos longos entrelaçados, enquanto a observava por sobre eles. O dourado de seus olhos entorpecido e a expressão deles quase rígida. — Nunca planejei o que aconteceu esta tarde — começou de modo abrupto, fazendo com que milhares de farpas afiadas se cravassem no coração dolorido de Sapphire.

— Eu sei — interrompeu ela, concisa. — Tenho boa memória. Estou perfeitamente ciente de que não me acha desejável. Quando nos casamos pela primeira vez...

— Não seja ridícula. Claro que a considero desejável. — Dedos raivosos escorregaram pelos cabelos negros mais uma vez. — Droga, Sapphire! — rosnou Blake, impaciente. — Não é assim tão inocente. Se não a desejasse, que diabos acha que significou aquilo tudo esta tarde?

Um rubor intenso se espalhou momentaneamente pela face de Sapphire, enquanto recordava a intensidade feroz como haviam feito amor. O sentimento que experimentara no momento em que ambos foram invadidos pela mesma delirante compulsão, o mesmo desejo faminto. Rapidamente, se recordou do passado. Dos primeiros dias do casamento deles.

— Pode me desejar agora, mas quando nos casamos pela primeira vez não suportava sequer me tocar. Você...

— Não quero falar sobre o passado. — A voz de Blake soou contida e brusca, desafiando-a a não continuar. — Estamos vivendo o presente agora e, a despeito de tudo que dissemos antes de nos casarmos outra vez, deve estar óbvio para você, assim como está para mim, que não podemos viver juntos de modo platônico.

Os músculos de Sapphire pareciam estar presos por garras paralisantes. O corpo, incapaz de funcionar. E, então, enquanto uma onda gigantesca de dor a varria, percebeu que sua imobilidade era apenas uma forma de defesa. Um modo de aplacar o sofrimento, mas que fracassara miseravelmente. A dor parecia ocupar cada centímetro dela, afogando-lhe o orgulho e a sensatez. Queria gritar para Blake para não mandá-la embora. Suplicar para que ficasse a seu lado, mas, em vez disso, permaneceu calada, temendo dar voz aos pensamentos conflitantes.

— E então?

Blake esperava dolorosamente por sua resposta, e quando ela não se manifestou, prosseguiu:

— Ora, vamos, Sapphire, eu sei que era... era virgem. Esse fato em si reforça o que sinto, mas deve saber que somos extremamente compatíveis no sexo, quase explosivos — sussurrou ele. Aquelas palavras eram o extremo oposto do que esperara ouvir, e a fizeram se limitar a fitá-lo. — Vamos — ordenou ele em tom quase agressivo. — Admita isso. Quando fazemos amor, você gosta. Você...

— Sim. — A admissão simples pareceu roubar o ar de Blake. — De fato, gostei. — Uma coloração vermelho-escuro tingiu as faces de Blake. Os olhos, que exibiam ò mesmo dourado brilhante daquela tarde, encontravam-se fixos nela, rastreando qualquer expressão traidora que se estampasse no rosto de Sapphire. Inspirou profundamente, expirando de modo lento. O peito musculoso arfando pelo esforço.

Contrato de SeduçãoWhere stories live. Discover now