III

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O sol invadia seus olhos pelas pálpebras. O azar dela ainda era pouco, a ponto de ter a cama a baixo da janela, e naquela noite resolveu se deitar de ponta a cabeça. Um sino berrava nos ouvidos da garota. Ele ecoava no salão e isso fazia ele mais irritante ainda. Alessa estava já acordada, mas isso não deixou o sino menos surdante.

-Levantem-se e se troquem meninas. Quero todas no banheiro, daqui a cinco minutos. - Maria dizia batendo palmas. -Psiu! Você também garota nova! Hoje você participará de todas as aulas, ficou tanto tempo aqui ontem, nem almoçou, nem te vi no jantar. Você não come não garota? - Maria chamou a atenção de Alessa.

-Desculpe, ontem eu não estava com muita fome não, mas assim... Qual o seu nome? Apenas curiosidade. Pois se vou conviver com você, devo pelo menos saber seu nome.

-Me chame de Dona Maria, sua professora de Latim, neste instituto... Quer dizer, escola! Não, não, órfanato, é, neste órfanato. Agora pode ir indo já para o banheiro, escove esses dentes. - a mulher confusa, mostrou a autoridade que não tinha.
...

O banheiro lotado abrigava meninas que escovam seus dentes e outras tomavam banho. Alessa não de sentia confortável em meio a tantas garotas. Sempre conviveu sozinha, junto a sua mãe, nunca viu um banheiro tão grande quanto aquele.

-Oi? Não sabe escovar os dentes? Venha eu te ensino...Seus dentes são tão brancos, como faz isso? Então você sabe escovar os dentes. - a garotinha maior que Alessa viu a menina a sua frente balançar a cabeça para os lados. -Impossível, sempre quis esses dentes brancos desse jeito, e toda vida eu escovo os dentes. E nunca cheguei a esse tom, que maravilindo seus dentes.

-Obrigada, mas eu nunca escovei eles. Apenas bocejava água neles. - Alessa respondeu a garota maior com sutileza no sotaque.

-Meninas, rápido, andem, a aula de matemática começa daqui a uns minutos. - uma mulher magra e alta definição cabelos que iam aos ombros invadiu o banheiro para o aviso. -Só avisando!

-Vamos, e...Qual seu nome mesmo? Eu sou a Gabrielly! E você?

-Prazer Gabrielly, eu sou Alessa.

As duas saíram em direção a porta que dava ao corredor. O mesmo corredor branco de ontem.

-Venha, é por aqui a sala de aula. - Gabrielly apontou o caminho da sala e as duas caminharam até a porta. Gabrielly a abriu.

-Bom dia meninas, que bom que chegaram. Você é a novata certo? Alessa se não me engano, bem vinda. Eu sou sua professora de matemática Zélia. Prazer. - a mesma mulher magra alta do banheiro, de cabelo curto, agora, tinha um chapéu com um véu atrás.
...

-Vão ficar o paradas aí? Sentem-se! As outras garotas já vão chegar. - Zélia ficou rabugenta. Não parecia uma mulher da resmungo.

Gabrielly sentou-se no seu lugar de costume e Alessa sentou-se ao lado dela. Logo, o resto da turma de meninas chegou.

Uma menininha baixa de cara fechada chegou ao lado de Alessa e gritou:

-Menina! Saia do meu lugar! Rápido! Estúpida, vá caçar um lugar para você! Tia Zélia! - a megera gritava de um jeito tão agudo, que a janela quase trincou.

-Por favor Alessa, pode se sentar em outro lugar? Esse já está ocupado pela Lucy. - Alessa se levantou e andou até um lugar vazio. -Muito obrigada querida. - A mulher se dirigiu ao quadro negro e anúnciou: Comecemos a aula.

A mulher já velha explicou a sua matéria, até dar o horário da outra matéria, ciências da natureza.

O sino anunciava o fim do horário, a senhora Zélia já havia indo embora, mas o ódio de Lucy por Alessa permaneceu.

-Escute isso garota imbécil, a próxima vez que você se apropriar de algo que é meu, vera esses cabelos azuis na minha mão, esta ouvindo?! Nesse orfanato sou *eu* quem mando depois da Madre Maior. -Ela deu um cuspe na mesa de Alessa e saiu andando como se tivesse acabado de sair de uma bênção do padre.

-Nada higiénica ela. - Alessa pensou alto.

-Acho melhor você ouvir o que ela disse. Se não....Acabará igual a pobre Matilda, a coitada mal acabou de chegar e já arranjou encrenca com Lucy. Essa garota pode parecer um anjo de cachos dourados, mas quando ela tira essa máscara encarna o... Você sabe quem. - a garota que estava a frente de Alessa, a penúltima menina da fileira da direita, avisou Alessa antes que ela conseguisse se envolver e uma encrenca.

-Entendi, e... Qual o seu nome? Parece ter aparecido misteriosamente aqui. - Alessa parecia desorientada.

-Ah, desculpe, sou Evylin, acho que acabei dormindo demais e ninguém me acordou...Perdi uma aula de...de...

-Matemática! - Alessa exclamou olhando para a professora na porta, era mais uma freira, ora...Então era um orfanato de freiras, ela imaginou.

-Bom dia, minha lindas meninas de ouro, dormiram bem, meus anjos? Na paz do Senhor, não é? Ótimo. Vamos fazer nossa oração? - a mulher era jovem, parecia acabar de ter virado freira, morena, baixa, uma doçura de pessoa. Tão doce, que era alto o risco de diabetes, de quem chegasse perto dela.

Toda sala se levantou para àquilo.

Um coral de vozes surgiu na sala, era uma oração que parecia comum todos fazerem, era tão engessado, todos com um gesto com as duas mãos parecendo querer algo. Alessa, claro, não sabia de nenhuma oração, ainda mais cristã. Apenas mexia a boca como se estivesse falando, mas nem sabia o que ouvia.

-Amém! - todas da sala gritaram juntos.

-Amém. - Alessa acompanhou.

-Ótimo agora podem sentar-se. - toda sala se sentou fazendo barulho de madeira rangendo e arrastando. -Hoje veremos como as plantas respiram e produzem sua comida. Ah e também veremos os tipos de plantas. - a chuva começou a cair, lentamente, depois ficou como uma tempestade. Uma chuva forte com raios bem longes e clarões que invadiam a sala de aula.
...

-Acha que vai chover por muito tempo? Ainda não sei seu nome... - Evylin olhou para traz e encarou a garota que rabiscava o caderno.

-Alessa, Alessa Juller.

-Tudo bem, vou te chamar de Al.

Alessa não entendeu muito bem aquilo, mas deu uma risada e voltou para o seu desenho. Ela desenhava sua mãe, traço a traço, como se um artista morto estivesse baixado com seu espírito em Alessa e a inspirava com todo seu dom e talento. Mas a verdade era que o dom e talento é mesmo, da própria Alessa.

Naquele final de tarde não houve nada de interessante que possa aqui ser relatado, a não ser o grande jantar de boas vindas do padre do orfanato, Nelson Ruy, veio do norte da Inglaterra, viajou isso tudo de cavalo para voltar a sua origem, no reino de Cessabit no meio da Escócia fica localizada Sunamoon, uma sossegada vila que não espera nenhum acontecimento grande, além de chegada de padres, mas outras coisas estranhas estão para acontecer, aguarde...

Filha Da VingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora