— Eu não consegui dormir. — Ela respondeu e ele voltou a encarar o sol raiando no horizonte, despreocupado com sua companhia, visto que não era ameaça.
Annabeth se aproximou dele, observando-o guiar o navio com uma mão, enquanto a outra segurava a bússola que ele consultava. Ela se apoiou na cerca do deque e admirou a vista, apreciando brisa pacífica. Ele a encarava, vez ou outra, procurando desvendar o que se passava em sua mente. Apesar do esforço, não conseguia decifrar a loira. Parecia aproveitar a companhia do mar e do horizonte a frente, mas não pertencia a esse mundo.
Tentando ignorar a presença dela, voltou a orientar-se e moveu o timão, desobedecendo as ondas, à caminho de Tortuga. Claro que passaria nas Caraíbas primeiro, e chamaria os outros piratas, para pegarem as redes e capturarem algumas tartarugas para o almoço.
— Eu... Posso fazer uma pergunta? — Ela chamou a atenção dele.
— Já fez mesmo.
— Vocês pretendem me levar novamente para o norte? — Ela o encarava. — Seja sincero.
— Sendo muito sincero. — Ele a encarou de volta. — Eu não faço ideia.
Ela não parecia muito decepcionada, mas definitivamente estava mais descrente de qualquer possibilidade ou decisão do pirata em prol de seu desejo. Não sabia o que fazer, se não esperar qualquer boa ação ou lampejo de compaixão.
Ele pegou uma pequena corda e amarrou o timão em direção ao leste. Novamente ele a encarou, dessa vez admirando-a, mesmo que nunca admita.
— Nós precisamos decidir isso. — Ele concluiu. — Mas agora... Eu vou tirar um cochilo antes das Caraíbas, se fosse você, faria o mesmo.
Percy foi em direção aos seus aposentos, não tão distante dos de Thalia.
— Espere! — Ele parou. — Nós não podemos resolver isso agora? Por favor...
Eles ouviram alguns barulhos embaixo do convés, talvez mais piratas acordando ou simplesmente limpando suas cabines. Mesmo com nenhuma ameaça de perigo, Annabeth ficou claramente mais atenta e tensionada.
— Você... Tem tanto medo assim? — Percy quis soar zombeteiro mas mais parecia preocupado.
— Eles sugeriram tantas maneiras de me matar. — Ela respondeu. — Não é de se impressionar que eu não queira sentar e tomar um chá.
O pirata levantou as mãos em rendição e ela soltou um sorriso, o primeiro direcionado a ele.
— Nós não podemos tomar nenhuma decisão sobre esse assunto agora. — Ele retomou a conversa. — O rumo de um prisioneiro não se é discutido com o prisioneiro. Precisarei conversar com Thalia e a tripulação.
Ele saiu, deixando-a no mínimo preocupada com destino que teria, dependendo novamente dos piratas que tanto a condenaram. Talvez tivesse uma esperança em Thalia, que parece ter simpatizado com ela, mas mesmo assim era uma contra muitos.
Annabeth levou seu olhar novamente ao horizonte, tentando não se preocupar com o assunto no momento, até ser alertada pelo navio que via se aproximando. Era um navio com velas negras, que cortavam a manhã tranquila.
Uma agitação tomou conta de seu corpo, talvez alertar Thalia e Percy fosse demais, talvez aquele navio não significasse nada, mas mesmo que ouvisse os piratas rirem de sua cara, não se atormentaria por não ter avisado de um ataque, ou o quer que fosse.
Ela correu até o quarto de Percy e abriu a porta sem aviso prévio, tendo que se concentrar muito no rosto dele para não olhar o dorso malhado que exibia. Os poucos segundos que se permitiu observar, viu cicatrizes e a pele bronzeada banhada de sardas. Se ela não admitisse que achava o Jackson charmoso, podia admitir que o achava atraente.
— Percy. — Ele virou-se para ela. — Tem um navio se aproximando.
O pirata encontrou sua camisa e correu para o batente da porta, tão rápido que quase se chocava em Annabeth. Como seu quarto e o de Thalia ficavam no deque, onde era mais alto que o convés, o campo de visão era maior, e logo ele viu o navio, se agitando também.
Ele foi até o timão, tocando o sino e ouvindo a tripulação se agitar e em poucos minutos aparecer no convés, observando o navio que não estava tão longe assim e esperando as ordens do capitão.
Thalia saiu de seu aposento também, perfeitamente armada com suas adagas e espada. Ela foi até a cerca do deque e encarou a tripulação, provavelmente procurando Luke e quando seus olhares se encontraram, trocaram uma mensagem que não foi dita: Tome cuidado.
A pirata viu Percy arrancar a corda do timão e mover o leme de Neptuno antes que o outro navio se chocasse na lateral deles, como planejava.
— Eu nunca vi essas velas. — Ela disse para Percy ao observar a bandeira com um capacete de guerra e um escudo em vermelho.
— Eles não parecem ser da região, mas são piratas. — Jackson disse quase num sussurro enquanto guiava a embarcação. — Preparem os canhões, vamos prevenir o ataque!
Ele gritou para a tripulação e ouviu-se "Yo-Hoys" seguido de grande correria. Alguns piratas desceram para o convés dos canhões, enquanto outros abasteciam mais canhões no convés principal, além de pegar espadas e pistolas no pequeno arsenal.
O outro navio deu a volta, indo novamente em direção a Neptuno, mas não com o intuito de colidir, como aparentava antes. Ele foi guiado para a lateral do navio, e a tripulação estava calada, esperando a ação. Estavam todos tensos com o misterioso propósito dos novos piratas.
Ao pararem, Percy pode ver uma mulher de cabelos marrons no timão. Ela usava um chapéu de capitã, com uma bandana vermelha amarrada no mesmo. Portava um sorriso provocante e ao seu lado se via um homem, armado de espadas espanholas e chapéu de pirata, apesar de parecer não estar no comando como ela.
Os dois tinham traços espanhóis, apesar dos do homem serem mais marcados do que os dela, além das espadas e das bandeiras. Sua tripulação era definitivamente maior. O barco não parecia tão bom nem tão rápido quanto Neptuno, mas mesmo assim portava grandes canhões no convés, Percy nem gostaria de ver os laterais.
— Amigos ou inimigos? — Percy perguntou quando percebeu que a pirata não ia ser a primeira a dirigir a palavra.
— Depende. — Ela disse. Sua voz soava forte e decidida, não era de se impressionar que fosse a capitã. — Meu nome é Clarisse La Rue
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sea You [REVISÃO]
Viễn tưởng- Piratas são preguiçosos. Eles dormem e bebem em suas casas flutuantes. Não tem palavra. Nem honra. Nem responsabilidades. Verdadeiros parasitas marítimos que saqueiam navios e não se importam com ninguém além deles mesmos. - Observei seus olhos ve...