Você é um pirata, Percy

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— O que deseja, Clarisse? — Thalia se pronunciou, ganhando espaço no perigoso diálogo.

— Nós estamos em busca de uma princesa. — Um sorriso quase cruel tomou conta de seu rosto e Percy sentiu sua espinha arrepiar-se. — Viemos de muito longe pela recompensa que Atena está cobrando.

Percy não se admirou, afinal Atena devia estar desesperada, com a falta da filha. Já Annabeth pensou que seu pai foi o responsável por propor essa medida. Infelizmente, a princesa conhecia a mãe o suficiente para saber que ela se sentiria melhor apenas se vingando dos piratas por toda trilha de sangue que deixaram na família real. Atena  queria apenas provar seu poder diante do reino e dos súditos, e se havia um plano que não incluísse a morte dos piratas, esse plano certamente não era dela.

Jackson pensou no que diria para capitã à sua frente. Não queria entregar a princesa e sabia que sua irmã também não gostaria disso. Se fosse para Annabeth voltar para o Norte, ele sabia que seria mais seguro para a princesa voltar com sua tripulação.

Por outro lado, iria se livrar de um peso morto e um problema que ele não procurou. Antes dele terminar de apontar os prós e contras, Thalia se pronunciou.

— A princesa do norte sumiu? — Ela fez uma falsa expressão, e a tripulação seguiu seus passos, sem exagerar. — Ela fugiu?

— Foi sequestrada por um pirata. — O homem ao lado de Clarisse respondeu. Ele parecia menos rígido, e até soltou um pequeno sorriso. — Me chamo Chris Rodriguez, como se chamam?

Percy e Thalia não perceberam, mas Annabeth havia saído de cena, se dirigido até os aposentos de Thalia para se esconder. Ela não fazia ideia dos interesses do navio, mas mesmo assim se preveniu para um ataque ou coisa parecida.

— Somos os irmãos Read. — Grace adiantou-se. — Entramos na pirataria a pouco tempo, estamos a caminho do sul.

Se Luke não a admirava o bastante, talvez estivesse se encantando cada vez mais. A maneira como ela trabalhava sob pressão e os olhares mortais da capitã era incrível.

— Entraram na pirataria a pouco? — Clarisse questionou. — E o navio? Fora comprado?

Ok, agora talvez estivessem um problema. Neptuno era um navio de anos de existência, mais velho do que os próprios capitães, como explicariam o furto ou compra de uma embarcação de gerações?

— Não. — Percy respondeu com uma voz firme, diferente da que os lábios ansiosos de Thalia pronunciariam. — Pertencia a um capitão com poucos homens, não tivemos tanto trabalho.

Talvez alguns dissessem que Clarisse foi boba por dar ouvidos, ou que se deixou enganar pelos piratas, mas uma coisa era certa, ela não havia acreditado nas palavras do moreno.

— A caminho sul, hein? — Rodriguez retomou o assunto. — Muitos crustáceos na viagem, tenham boa sorte!

Clarisse não se despediu, apenas ordenou que içassem as velas e partiu pelo mar, ainda desacreditando das palavras de Percy, mas se poupando do combate e da dor de cabeça. Quando o navio se afastou, a tripulação comemorou, antes de levantarem novamente o debate sobre o destino de Annabeth.

— Buscaremos a recompensa? — Travis questionou. — Apenas muito dinheiro para fazer os espanhóis se mobilizarem a procura de uma princesa nortenha.

— Nós não íamos matar quem paga a recompensa? Não é esse o desejo dos capitães? — Will perguntou.

Grace revirou os olhos pelos questionamentos e desceu do deque, indo em direção a proa de Neptuno, afastando-se dos outros piratas que discutiam. Depois da visita de Clarisse e Chris, e da sobrecarga de decisões que Percy pedia seu auxílio, a pirata adoraria um pouco da paz que encontrava nas praias do sul.

Depois que Thalia se retirou da discussão sobre o futuro da prisioneira, todos os olhares caíram sobre Percy. O pirata, já impaciente, apenas observou o debate com o olhar pesando em puro tédio.

— E o plano de Thalia para usar a princesa como isca? Nós já descartamos ele? — Quanto mais pontos eram levantados enquanto eles discutiam, mais a sede de rum de Percy aumentava, juntamente com seu cansaço.

O capitão continuou guiando o timão, ouvindo os piratas discordarem ora ou outra, pensando em como Annabeth se sentiria ouvindo todas essas sugestões para a morte dela e de sua mãe.

Chega! — Percy finalmente se pronunciou. — Eu e Grace vamos pensar em propostas melhores e os apresentamos para uma votação. Até lá, icem as velas a estibordo, estamos quase nas Caraíbas.

Uma rápida movimentação aconteceu e logo as velas estavam altas, sendo preenchidas pelos ventos, levando Neptuno até as ilhas. Os piratas logo trataram de fazer outras atividades, como limpar o convés e desenrolar as redes para a captura de tartarugas.

O vento nos cabelos do moreno e o pequeno momento de silêncio em sua cabeça foram o suficiente para fazê-lo pensar na princesa. Ele gostaria de obter a recompensa. Gostaria de se livrar dos problemas, e acima de tudo, adoraria matar Atena. Mas ele também pensava em Annabeth. Ele definitivamente não gostaria de vê-la triste.

Percy amarrou a corda no timão e andou até a porta dos aposentos de Thalia, onde Annie havia se escondido durante a abordagem de Clarisse. Ele bateu levemente na porta, aproximando o ouvido da mesma para ouvir uma permissão, ou o que quer que fosse.

— Entre. — E assim o pirata o fez, observando o rosto surpreso da princesa, que se encontrava debaixo das cobertas. — Oi.

— Oi. — Ele deu um leve sorriso enquanto fechava a porta e observava o quarto, andando lentamente, sem destino algum.

Depois de alguns segundos de silêncio, Annabeth perguntou:

— O que vai acontecer, Percy? — Ouvir o medo de toda aquela incerteza acabou com ele. E mesmo sensibilizado com toda a situação, ele quase pôde ouvir a voz de seu pai. Você é um pirata, Percy. Nasceu como um e vai morrer assim.

— Annabeth... Meu plano era matar Atena e eu não vou desistir dele. Meu pai foi enganado e morto por ela. Ela o seduziu. — Percy abaixou a cabeça envergonhado, ele nunca tocava nesse assunto com ninguém além de Thalia. 

O silêncio se instalou no ambiente e o clima de tensão era quase palpável. Percy sabia que aquelas não eram as palavras que Annabeth gostaria de receber. Ela levantou da cama e andou até ele, seu rosto era difícil de encarar, ela parecia sentir raiva, dor e principalmente decepção. Parecia ter criado algum tipo de afeição ao pirata. Afeição essa que ele acabou de destruir.

— Eu... Eu me sinto tão ingênua em ter tido algum tipo de esperança que você fosse diferente dos piratas cruéis que li sobre. Mas você é um porco marítimo tanto quanto eles. Tentou ser charmoso, mas não vai funcionar mais.

Ele a prensou contra a parede, olhando no fundo daquele furação cinzento em sua íris.

— Ninguém fala assim comigo, Annabeth. — Ele aproximou o rosto, sentindo seus hálitos se misturarem, até que ele parou e recuou. — Espera aí... Você disse que eu sou charmoso? 

Sea You [REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora