Capítulo 02

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Dias atuais

Felipe

— Seja bem vindo, senhor Felipe! — Paulo curvou-se numa reverência, como se eu fosse um rei.

Eu não era um rei, e odiava ser tratado assim, mas era assim que todos me tratavam. Quando você tem dinheiro, as pessoas acham que você é um ser imortal e superior a elas. Elas não entendem que somos exatamente iguais, apenas pessoas que vão morrer e virar cinzas.

— Oi Paulo, oi Rosa! Cumprimentei os dois com um sorriso significativo.

Eu gostava dos nossos empregados, praticamente fui criado por eles. Sempre acreditei que eles eram mais minha família do que meus próprios pais. Rosa nossa governanta, cuidou de mim desde que eu era um bebê, ela limpou minha bunda, me colocou pra dormir e me deu o carinho que nunca tive da minha mãe. Já Paulo, nosso mordomo, foi o cara que me deu a minha primeira revista pornô, e isso era algo que eu jamais me esqueceria.

Peguei minha mala do chão, quando o táxi foi embora. Samara abriu a porta da nossa mansão, com um sorriso enorme no rosto. Pelo menos alguém da minha família estava esperando ansioso pela minha chegada.

Minha irmã mais velha desceu a escadaria de mármore, correndo em minha direção, pulou no meu pescoço me dando um abraço apertado.

— Eu estava morrendo de saudades, piralho! — Ela disse sorrindo e lágrimas apareceram no canto dos seus olhos.

Apesar de eu ser somente dois anos mais novo do que ela, ela sempre me incomodava, me chamando de piralho, bebê, feto, nanico, neném, criancinha. Etc...

— Como vai, Samy!

Ela se desgrudou de mim, e me encarou com olhos marejados.

— Agora estou ótima. Recuperei minha outra metade! Ela sorri, e uma lágrima escorre na sua face. Limpei a lágrima de seu rosto com meu polegar e dei um beijo no alto da sua testa. Mesmo sendo mais novo, eu era mais alto do que ela.

Apesar de sermos irmãos, não éramos nada parecidos. Samara tinha cabelos castanhos claros e olhos verdes, iguais aos da nossa mãe, já eu, tinha cabelos pretos e olhos azuis, como o nosso pai. E o tempo que passei fora me fez perceber que minha irmã estava mais magra, muito mais magra. Não que ela fosse gorda antes, ela sempre foi linda, mas agora não chegava a pesar 50 quilos pelo que pude provar quando a abracei.

— Como você está magra! — Disse, analisando-a, ela me encarou horrorizada, como se eu tivesse chamando-a de baranga.

— Apenas chegou e já está mentindo pra mim. Eu sei que estou uma baleia! — Ela se empertigou, colocando as mãos na cintura.

— Só você que acha. — Eu disse. — Cadê papai e mamãe?

— Papai está na Expensive como sempre, e mamãe na aula de yoga! — Ela deu de ombros.

— É bom saber que eles estavam vibrando de alegria, com a minha volta! Sorri ironicamente e Samara deu um sorriso triste.

Depois do acidente há um ano, meu pai comprou minha liberdade. E como eu era menor de idade e meu pai deu uma pequena quantia no valor de 400 mil reais para o juiz, que me sentenciou com apenas alguns meses de serviços comunitários, e um ano na clinica de reabilitação, eu estava bem. Meu pai teve a capacidade de comprar até mesmo os repórteres para que meu nome, ou melhor, meu sobrenome não fosse divulgado, assim a empresa Expensive e o sobrenome Vasconcelos, estariam salvos da difamação. Assim o senhor Miguel Vasconcelos, estava a salvo da vergonha que seu filho lhe causou. Nisso eu tinha que concordar com ele, pois sentia vergonha da pessoa que eu era. Tinha vergonha do que eu fiz. Fui enviado para uma clínica de reabilitação para me livrar das drogas, isso era verdade e meu pai só havia contado essa versão para os nossos familiares. Às vezes sinto nojo de mim mesmo. Eu matei uma pessoa e é só isso que eu ganho como castigo? Um ano limpando rua e pichação de muros, um ano dormindo e comendo do bom e do melhor, um ano num lugar que nada aprendi. Isso não é justiça. Quando morrer, tenho certeza que o inferno estará me esperando de portas abertas e o diabo com um lugar reservado ao seu lado, exclusivo para mim.

Eu odeio amar você! (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora