Capítulo 05

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Camila

— Boa noite, dona Juva. Estou pronta pra começar! Sorri para minha nova patroa. A senhora de meia idade, robusta, lembrava minha vó. Gostei dela de cara, e acho que ela também tinha alguma empatia por mim.

— Que bom que chegou cedo, Camila. Esse aqui é seu uniforme. O vista no banheiro e seja responsável para que ele esteja sempre impecável. Depois que estiver devidamente trajada, recepcione os clientes e anote os pedidos. Certo?

Assenti, e peguei o embrulho de sua mão. Dirigi-me para o banheiro dos funcionários que ficava perto da cozinha. Usava uma calça jeans, e uma camiseta simples branca, vesti o avental vermelho com a escrita "Lanchonete da Juva", que estava dentro do embrulho. Arrumei meus cabelos num coque alto, para manter os fios de cabelos indesejados, longe dos pratos dos clientes. Esse era meu primeiro dia de serviço. Eu nem acreditava nisso. Iria dar meu melhor para que eu pudesse ajudar minha mãe.

Naquela noite atendi seis mesas, para uma segunda feira, até que a lanchonete estava bem movimentada. E como dona Juva tinha me alertado, realmente vinha gente da grana ali. Na minha primeira noite consegui 22, 25 reais de gorjeta, e ainda por cima, dona Juva me deu o resto de fritas para levar pra casa.

Às dez horas da noite cheguei em casa com meus trocados e a sacolinha com batatinhas fritas, que já estavam frias. Encontrei mamãe me esperando na sala, com um sorriso imenso no rosto.

— Boa noite, mãe!

— Filha que bom que chegou bem. A única parte do seu emprego que não gostei, foi do horário. Acho que vou pedir para o Victor começar a ir te buscar e te trazer para casa!

— Sério mãe? O Victor? Eu ri. —Vic não me salvaria nem de uma barata!

— Mas pelo menos ele é homem... Quer dizer, tem aparência de homem.

— Deixa que eu fale com ele. Não precisa se preocupar, eu sei cuidar de mim! — Sorri pra ela e me sentei ao seu lado no sofá. — Trouxe fritas e o dinheiro da gorjeta, tome!

Entreguei para mamãe o dinheiro que havia ganhado.

— Filha, esse é seu dinheiro. Quero que fique com ele pra você! — Ela empurrou minha mão fechada que segurava o dinheiro na minha direção.

— Mas você precisa mais, o Léo precisa mais. Compre comida. Prometo que quando estiver bem financeiramente, eu gasto um pouco do dinheiro comigo, está bem?

Por alguns segundos ela me encarou, mas ela sabia que não adiantava me contradizer sobre isso, eu sei o quanto eles precisam do dinheiro e mesmo sendo pouco, já ajudava. Por fim, ela assentiu e pegou o dinheiro da minha mão.

Guardei o embrulho de batatinhas na geladeira e fui tomar banho. Antes de ir para meu quarto, fui até o quarto de mamãe, onde Léo dormia no colchão ao lado da cama de solteiro de mamãe. Ele dormia todo torto e com a coberta toda embolada ao seu redor, mas parecia estar em paz, tranquilo em seus sonhos de criança. Era nesse momento que ele podia ser uma criança normal que vivia em um mundo bom, pelo menos em seus sonhos. Nesse mundo em que vivíamos era tão fácil se perder, apesar da educação dos pais muitos ainda são levados para o lado do crime, ou pior, são mortos. Mas aqui na segurança de seus sonhos, Léo podia ser o que quisesse.

Dei um beijo na sua bochecha e tentei arrumar a coberta nele, ele se moveu e suspirou.

— Boa noite, Camila. — Ele sussurrou, virando-se de lado e chupando seu polegar.

— Boa noite, Léo.

Troquei-me, vestindo minha camiseta do Nirvana e deitei na minha cama. Fechei os olhos pensando nas coisas boas que estavam acontecendo, e rezei agradecendo a Deus pelas coisas que eu já tinha e pelas que estava prestes a conseguir.

Tentei relaxar profundamente para o sono vir, mas o barulho da vila não me deixava pregar os olhos. Gente brigando, carro de som passando na rua com a música alta, tiros podiam ser ouvidos ao longe, uma barulheira infernal. Fazendo-me revirar na cama desconfortavelmente.

Sempre acreditei em céu e inferno. Sei que o céu fica lá em cima, e que o inferno não fica abaixo de nós, pois para mim, já estamos vivendo nele.


Eu odeio amar você! (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora