Um ano atrás
Felipe
— E aí Felipe!
— Opa brother! — Jorge se aproximou de mim, me cumprimentando num movimento ensaiado que só nós dois sabíamos.
Aquela noite estava agitada. Compramos bebidas e ouvíamos música no último volume. Nossa turma sempre se reunia para festejar e azucrinar durante a madrugada. Todos já estavam bêbados e chapados há essa hora, o que não era novidade.
Mas a nossa maior diversão, eram os rachas.
Tinha pegado escondido a SUV prata do meu pai, e torrado 1500 pratas, até agora. Hoje como sempre, a festa era por minha conta.
— Que tal um pega? — Jorge indagou. Seus olhos vidrados e suas pupilas dilatadas, iguais as minhas.
— Não sei cara, tô meio chapado. — Eu dei um riso por entre os dentes, pois era o máximo que conseguia fazer.
Eu literalmente estava mal, me sentia zonzo e completamente engraçado. Essa felicidade momentânea que a droga te leva, te deixando leve e extasiado, era o maior barato. O tipo de sensação que te deixa nas nuvens, e um pouco da dor vai embora. Eu sabia que assim que o efeito passasse tudo voltaria, e eu teria que aguentar o fardo de ser um Vasconcelos. De ser o herdeiro de uma das maiores empresas do Rio de Janeiro, e ser cobrado constantemente em ser excelente, em tudo que eu fazia.
— Que é isso cara? Você é o melhor. Tá com medo de perder pra mim? — Jorge deu de brincadeira, um soco leve no meu ombro esquerdo.
— Vai amor. Vou ficar na torcida! — Michele disse, olhando nos meus olhos. Seus longos cílios balançando conforme ela piscava, seus olhos vermelhos vidrados e suas bochechas acompanhavam o tom avermelhado. "Ela estava chapadinha". Seus braços estavam enroscados em meu corpo encostado no carro. Sua coxa fazendo uma leve carícia nas minhas bolas.
"Ela é gostosa pra caralho".
Aqueles olhos pretos como a noite, e seus cabelos tingidos de vermelho vivo, sempre a deixava com aparência de uma verdadeira atriz pornô, e as roupinhas que ela usa, só servem para me deixar de pau duro, sempre.
— Só por que você pediu, gata! — Sorri para ela, que devolveu o gesto me beijando profundamente, passando as mãos pelo meu corpo e já deixando minhas partes baixas, em sentido de "alerta".
— Ganha pra mim! Ela disse com seu sorriso safado.
Sorri.
"Eu iria ganhar e com certeza ganharei muito mais do que isso essa noite".
Entrei na SUV, enquanto Jorge pegou seu Audi. Estacionamos lado a lado na sinaleira. Como era madrugada a avenida estava livre de carros, a escuridão preenchia a noite, somente as luzes dos postes criavam focos de luzes no asfalto. A turma se reuniu na calçada, gritando em torcida. O timbre alto da música do Hardwell, zunia nos meus ouvidos, fazendo até os vidros do meu carro tremerem. Michele veio ao meio, entre os dois carros, os pneus zuniam e os motores roncavam. A fumaça dos pneus que rodavam em contato com o asfalto estava se alastrando, e o cheiro de borracha queimada, infiltrando-se nas minhas narinas.
Eu amava essa sensação, essa adrenalina que corre pelas veias sempre antes da largada. O corpo fica em êxtase total e o coração batendo em um compasso que vai acelerando gradativamente, igual ao velocímetro. Essa sensação inebriante era melhor do que a da vitória.
Michele tirou a blusa, ficando somente com um sutiã preto meia taça. "O meu preferido, a propósito". E agitou a blusa sobre a cabeça, dando a largada.
Acelerei o carro a toda velocidade, disparamos pela avenida. Jorge manteve o carro próximo ao meu. Puxei a quinta marcha, chegando a 200 por hora. As luzes dos postes e as luzes que eu via na minha cabeça deixavam tudo mais excitante. Não conseguia tirar o sorriso do meu rosto. Essa alucinação, essa vibração que meu corpo exalava. A maconha tinha tomado conta dos meus sentidos, fazendo-me sentir que eu poderia voar com o carro, e nada, nem ninguém, me venceria. A droga me transformou na porra de um super-herói. Ser jovem é uma das vantagens de poder fazer idiotices sem arrependimentos. Sem culpa. Sempre ter a desculpa de que os erros só são cometidos por que somos jovens demais. Era isso que eu achava. Era essa a desculpa que eu dava.
Estava quase chegando ao destino final, a rótula no fim da avenida. Quando notei que uma sombra vinha em direção ao carro. Não consegui distinguir se aquilo era real ou era minha mente projetando luzes e sombras na minha frente. Um estrondoso baque contra o carro me assustou. Pisei no pedal do freio rapidamente e freei o carro o máximo que consegui. O carro derrapou na pista fazendo um estrondoso barulho, enquanto meu coração batia freneticamente e meu corpo suava e eu só conseguia rir. Eu ri. Eu estava na maior onda. O corpo rolou no asfalto quando o carro parou a metros do acidente. Olhei pelo retrovisor e vi o corpo caído no asfalto, e continuei a rir, até que, um lampejo de consciência me atingiu. Então fechei os olhos fortemente até eles doerem e rezei para que o corpo caído no asfalto tivesse desaparecido, que fosse apenas um distúrbio da minha mente criado pelo efeito da droga. Porém quando os reabri, ele estava lá, ainda inerte.
Então me dei conta de que eu tinha acabado de matar uma pessoa.
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Eu odeio amar você! (DEGUSTAÇÃO)
RomanceTodos os direitos de publicação são da autora. Plágio é crime. VOCÊ SERIA CAPAZ DE PERDOAR? Camila Alves mora na periferia com sua mãe e seu irmãozinho. Sua vida nunca foi fácil, sempre passando por dificuldades financeiras e a situação só piorou...