O Meu Amor

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Eu sou sua menina, viu?

Ele é o meu rapaz.

Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz.

Depois do prazer, de ter toda sua essência extraída e apreciada por seu amado, após ser feita dele e ser tornar a senhora, dona absoluta de todas as vantagens, ela se vai. 

Já era quase dia, afinal de contas.

Logo os pescadores chegariam, caminhando com passadas largas, cavando pegadas pela areia, dispostos a empurrar seus barcos para o mar, e jogariam redes em suas águas, prontos para enfrentar qualquer aventura que lhes oferecesse e desejosos de desvendar os segredos da musa satisfeita, e, quem sabe, apreciar seu canto de sereia.

Em breve homens, mulheres, velhos e crianças estariam por ali. Alguns fincando barracas aqui e acolá. Beldades estenderiam toalhas em todos os lugares, ávidas por um lugar ao sol, e ele usaria seu corpo dourado e masculino para aquecê-las. Crianças construiriam castelos de areia sobre ele, aproveitando-se de toda sua maciez e familiaridade.

Era necessário que se despedissem, o dia estava despontando no céu, suas ondas revoltas e ansiosas teriam que ser recolhidas, para que ele apresentasse um cenário adorável de praia serena.

Ele era praia, ela era mar.

Ambos se pertenciam, dependiam do prazer e das vontades um do outro.

Mais tarde, de madrugada, a frieza de suas águas seriam novamente envolvidas pelas areias quentes dele. Como uma mulher apaixonada, e um homem desesperadamente necessitado do seu amor.


"Eu sou sua menina, viu? Ele é o meu rapaz..."


FIM

O Meu AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora