Capitulo 1

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Ser ou parecer

Chegar em casa após o colégio, costumava ser ruim. Minha vontade era sempre estar lá dentro. Eu era a garota popular, que lançava looks e todas as outras se inspiram em mim. Na sala de aula fui a primeira da turma, tive muita sorte. Ao meu lado, as melhores amigas, tanta coisa pra ainda experimentar e um garoto chamado Ulisses no coração. Ele não era o garoto dos meus sonhos, mas que se dane! Qualquer outro sonho, eu o via do meu lado, segurando a minha mão.

Infelizmente, o Fundamental não dura para sempre, talvez aquele tenha sido o melhor tempo da minha vida, que pena que descobri tão tarde.  Agora sou uma estranha num colégio novo. Embora possa parecer a mesma, me sinto diferente. Frustrada, com a autoestima totalmente abalada. Nada mais parece ser como costumava ser. As coisas mudarão. Agora eu vejo que essa coisa de “NÃO TENHA MEDO DE MUDANÇAS”, como uma professora dizia no primeiro dia de aula em seu breve discurso de boas vindas, é tudo uma farsa e que o mundo em que vivo não é mais o mesmo.

Deixei de escutar funk, usar Orkut e assistir Malhação. Tudo ficou muito chato. Passei de punk pra emo, triste, emotiva, fashion, colorida. E mesmo assim me deixaram na prateleira. Troquei meu dom em ditar moda, por uma épica ousadia adolescente do século XXI. E meu Ulisses, (isso mesmo! Meu Ulisses!) por um cara chamado Ítalo, um cara mais velho que eu, foi sem querer, mas aconteceu.

Admito, que o medo de se apaixonar é inevitável, talvez seja mais uma forma de evitar o sofrimento. E por falar em sofrimento. Aquele idiota não me deixa em paz, pra onde quer que eu vá, ele me persegui. Talvez esta seja minha cina, sofrer calada, me sinto cansada, triste e angustiada, tudo por causa deste terrível barulho chamado SILÊNCIO.

Sonhar não funciona mais, utopias não se realizam. Sinto falta dos tempos em que eu era a Menina Má, acho que toda garota já passou por isso. Não levava nada a serio, fugia para as baladas, fumava haxixe com minhas amigas e minha mãe me perguntava quando eu ia tomar jeito e criar juízo. Sempre, as cinco da manhã, horário que normalmente eu estava chegando em casa.

Confesso que não sei mais quem eu sou e que vivo tentando encontrar uma tendência que preencha minha essência. Não sou melhor que as outras garotas, mas também não quero ser mais uma na vida de alguém. Enfrentar a realidade de uma jovem de 16 anos, sempre me assustou, acho que é por isso que tento ser diferente das outras, ou pelo menos não ser igual a maioria. Por isso, prefiro fazer minhas malas e ir pra longe. Viajar sempre me fez bem. Tenho tudo que preciso, minha solidão no fundo do peito e meus fones de ouvido no bolso do jeans. Sabe porque? Só a musica me entende, ao som daquelas letras que sei decor, fecho meus olhos e crio um universo onde posso ser feliz.

Saí de casa, deixando todos os meus restos emocionais, meu diário escondido sob os fundos do criado mudo (para que minha mãe não descubra meus “podres” outra vez), e um idiota que só sabia zombar de mim e me jogar sob a parede. Eu sei que fugir não é a solução, mas não sei o que acontece, não tenho coragem de enfrenta-lo.

Digo e repito! Não sou como as outras garotas, mas às vezes, eu só queria ser a Cinderela, nem que fosse por uma noite. Olhar nos olhos de um homem lindo, que me estendendo sua mão ao fim da escada, me chamaria pra dançar e diria o quanto eu estou bonita. Eu só queria um vestido azul, que ele pudesse elogiar, um baile em que estivesse do meu lado, me confessando coisas bobas e se não for pedir demais, a porcaria dos sapatinhos. Posso não ser a fã numero um da Walt Disney, mas acredito que assim como os contos de fadas, minha historia está escrita! Eu não sei se nela existe uma madrasta, fada madrinha ou uma abobora que se transforma em carruagem. Mas espero que em sua última página exista um final feliz, não precisa ser pra sempre, basta ser inesquecível.

Karen Maldonatto

O que há por trásOnde histórias criam vida. Descubra agora