6 | Check On It

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"If you don't go braggin, I'ma let you have it

(Se você não vier com gracinhas, talvez eu fique com você) 

You think that I'm teasin, but I ain't got no reason

(Você acha que eu to só te provocando, mas não tenho motivos pra isso) 

I'm sure that I can please ya, but first I gotta read you

(Tenho certeza que posso te satisfazer, mas antes preciso te conhecer)"

Check On It (feat. Slim Thug) – Destiny's Child 

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Sofrer um acidente, sem dúvida alguma, é muito doloroso. 

Imagine que você está caminhando calmamente em direção a um compromisso importante, uma entrevista de emprego, por exemplo, quando é surpreendida por um motorista imprudente que, irresponsavelmente, invade a faixa de pedestres na qual você se encontra atravessando e colide com o estúpido carro importado dele no seu delicado e deveras apreciado corpinho. 

Você ficaria indignada, é óbvio. Ficaria revoltada com a vida, o destino, carma, e, é claro, com o ser que conduzia certo automóvel que, porventura, acertou certo pedestre. Você. 

Nesse caso, eu. 

Revoltada com as ousadias que aquele imbecil teve a ousadia de dizer na minha cara, abri os olhos, flamejando por dentro, apenas para ser surpreendida com algo que, literalmente, tirou o meu fôlego. 

Minha visão, antes perfeita, agora estava tomada por uma névoa vermelha indefinida. 

Eu não conseguia enxergar. 

Nada. 

Nadinha. 

Nadinha de nada. 

Nada, nada, nada. 

O grito estridente e agudo que soou a seguir me consolou quando constatei que ao menos ainda poderia ouvir e também berrar normalmente, tal como a dorzinha irritante na minha garganta assim que o berro passou pelos meus lábios deixou claro. 

Ao menos eu não estava surda e muda, além de cega. 

Eu estava cega. Cega! Como a vida de uma pessoa pode mudar tanto no decorrer de uma semana? Uma mísera semana! 

Definitivamente, alguém lá em cima não gosta de mim, conclui, choramingando baixinho, olhando de um lado para o outro em meio a névoa vermelha que cobria meus olhos enquanto evitava mover a cabeça. 

Com base na minha formação com honras em dezesseis temporadas de Grey's Anatomy, sei que a cegueira, é claro, poderia ser momentânea ou, provavelmente, um dos muitos sintomas de um sangramento cerebral. Vide Derek Shepherd, que descanse em paz. E que já foi tarde. Amém. 

Embora eu não tenha sentido o impacto na cabeça quando fui arremessada ao chão, pensei. Mas isso não importa, o que importa agora é que estou cega. 

Cega! Aos vinte e seis anos! 

Vinte seis anos não são nada se comparados aos duzentos e nove que eu viveria naturalmente no conforto do meu lar, acompanhada de um sem fim de gatos, cachorros, papagaios, periquitos, hamsters, outros roedores fofinhos e minhas inúmeras séries estrangeiras. 

Não percebi que chorava até que senti um sopro de ar fresco no meu rosto úmido. 

— ... e é por isso que essas malditas faixas existem. Se você a seguisse em um futuro próximo, além de grato, eu ficaria mais tranquilo por saber que você, tal como os outros motoristas, estariam mais seguros — o babaca discursava incessantemente, engolindo as palavras na pressa de pôr para fora toda sua indignação. — Mas está claro para mim que patricinhas fúteis como você não se importam com nada, a não ser os próprios umbigos e suas vidinhas de merda e coloridas. Por isso e por inúmeras outras razões que não me envolvo com o seu tipo.

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