A maldição da sétima filha

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Iara era uma moça muito diferente das outras, sempre fora alta, morena e muito magra, de uma beleza estonteante, digna de capa de revista. Era diferente das outras mocinhas  de sua idade e completamente o oposto de suas irmãs, todas loiras e muito ambiciosas, era diferente, não por causa do seu cabelo, que media quase um metro e meio, o fato é que seus olhos ( um azul claro e o outro muito verde) chamavam a atenção. Mas o que tornava a moça diferente, era o fato de que ela vivia presa a um grande mistério: ela tinha o poder de prever o futuro, e era a sétima filha de um casal muito carente, e como reza a lenda, a sétima filha de um casal se tornará bruxa aos 17 anos, então, as irmãs, acreditavam que Iara era uma verdadeira bruxa. "Questão de tempo", dizia a irmã mais velha de Iara.
Foi durante a infância numa brincadeira sobre "verdade ou desafio" que a menina descobriu seus "poderes mágicos", ela advinhou dez de nove perguntas feitas por seus colegas, isso a assustou um pouco. E os colegas pouco a pouco começaram a afastar-se da menina.
Com o passar dos anos, Iara pressentia a morte de seus vizinhos e familiares, e isso a tornou temida e odiada por quase todos no seu bairro. Bastava a presença da menina de 13 anos para irritar as pessoas em sua volta. Ela foi  crescendo e junto com seu amadurecimento, cresceu também sua "fama de bruxa"... Por onde Iara passava, as vacas paravam de dar leite, o campo se tornava infértil, crianças adoeciam, e sempre a culpa era atribuída à pobre moça, que a cada dia se tornava mais melancólica e solitária no auge de seus agora, 17 anos de idade.
Houve um fato que contribuiu para a perseguição mortal dessa moça. Certa manhã, estando Iara passeando pelos campos a colher ervas e flores silvestres para presentear sua mãe, nesse breve passeio pelos verdes campos que rodeiam a ferrovia local, e estando um velho homem a observar de longe. Ela sentiu o perigo rondando a poucos metros dali, e ela prevendo o perigo que rondava o pobre homem, Seu Manoel, era o nome dele, a pobre moça tentou adverti-lo do perigo de uma picada de cobra, já que a manhã estava abafada e o mato cobria quase a cintura do homem...mas foi em vão, além de não ouvi-la, o homem, assustado começou a gritar quando ela tentou uma aproximação, na correria, ele não percebeu a cobra e foi imediatamente picado, e por se tratar de uma cobra venenosa, a alguns metros á frente, o homem caiu e veio à óbito.
Por obra do acaso, uma família de ciganos presenciou a cena, sem ver a cobra e o homem mais idoso saiu gritando aos quatro ventos que a moça, a bruxa Iara, como era conhecida por todos, matou o Seu Manoel da forma mais vil e cruel: às mordidas e bebeu o sangue dele sem piedade alguma. Ela tentou se defender, mas ninguém a ouviu!
O povo da cidade, por desconhecimento da picada da cobra e muito mais por crença na fama de bruxa da pobre Iara, atribuíram à ela a morte do seu Joaquim, e a picada...bom, a picada, foi atribuída a mordida...e bem, vocês já imaginam pra quem sobrou a responsabilidade pela morte?! Sem direito à defesa, a pobre moça foi injustamente queimada numa fogueira, ali mesmo próximo à ferrovia, e até hoje, quase 50 anos depois, no local onde Iara morreu queimada, em noites de luar, é possível ouvir os gemidos e lamentos de uma mulher, cuja voz é doce e muito fina, e se apertar os olhos e deixá-los acostumar-se à escuridão, é provável que consiga-se ver um vulto muito magro envolto em luzes verdes e azuis cruzando o horizonte nos dias quentes de fevereiro.

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