Capítulo 1 - O Encontro

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A noite estava surpreendentemente quente, o que me motivou a escolher o vestido preto curto de costas nuas que marcava meu corpo de forma escandalosamente provocante. Mas, apesar do calor, mantive o cabelo solto, caindo nos ombros em ondas suaves, pois isso me dava a falsa sensação de que estava um pouco mais coberta. Pura ilusão!

Apesar de não estar nenhum pouco empolgada com a balada para a qual estava me arrumando, pois não tenho a menor vocação para sorrir forçadamente para desconhecidos, às 22h em ponto estava na portaria do meu prédio, esperando pelo meu sócio/melhor amigo Gustavo que, ao chegar, tratou de me envergonhar diante do porteiro e das pessoas que passavam pela calçada, descendo o vidro do passageiro e soltando um belo:

- Ah, lá em casa. Entra aqui, sua gostosa! - Gritou.

- Bufei, mostrei o dedo do meio para ele e entrei no carro.

- Gata, viu?! Mais linda do que sempre. Até toparia quebrar a louça com você hoje à noite, se eu já não tivesse outros planos. Gostosa demais, Clara!

- Dá para ser menos cafajeste? – Falei com falsa indignação.

- Não! – Respondeu-me de imediato com um tom firme, porém brincalhão.

- É, eu sei. A cafajestagem é inerente a você, seu cachorro. – Sorri.

- Talvez não mais, depois de hoje.

- Veremos.

Foi inevitável abrir um sorriso para ele, vendo sua empolgação com a noite que estava por vir.

Gustavo é um homem lindo e tem plena consciência disso. A autoconfiança dele é praticamente inabalável e ele transpira charme. Não é dos mais altos, mas tem um corpo esculturalmente definido, a pele branca e lisa como a bunda de um bebê, olhos claros e cabelos castanhos, artisticamente desgrenhados. Quando o conheci, na primeira semana de aula, na festa dos calouros do curso de ciências da computação da UNIFOR, tremi na base, pois embora nunca tenha sido adepta aos contos de fadas, sexo para mim sempre foi uma necessidade vital e só de imaginar aquele corpinho lindo me consumindo em um sexo ardente fiquei instantaneamente excitada, mas quando atirei em sua direção, descobri que ele era gay. Quase não acreditei quando soube, porque ele não dá nenhuma pinta e, embora hoje em dia os estereótipos não sejam mais fator confiável para analisar a orientação sexual de uma pessoa, foi muito frustrante encarar a realidade. Ainda mais ao vê-lo gargalhar antes de soltar um: "Amor, você é muito gata, mas eu sou muito gay, me erra, porque se tentar acertar vai dar choque!", o constrangimento que senti fez-me corar como uma beterraba. Ele logo percebeu o meu estado quando me encolhi diante dos risinhos maldosos de algumas estudantes que estavam próximas a nós e se sentiu mal. Ofereceu-me uma cerveja de redenção e daí em diante as conversas não tiveram mais fim. Descobrimos uma química entre nós que ia muito além do sexo ou das relações efêmeras tão comuns na época de faculdade. De lá para cá, temos sido mais que melhores amigos, tornamo-nos sócios no trabalho e irmãos na vida.

Ainda na faculdade, Gustavo conheceu Nicolas, um lindo cordeirinho de cabelos cacheados por quem desenvolveu uma atração instantânea. Um dia, depois de várias trocas de olhares nos corredores do campus, algumas conversas na lanchonete e uma pegação flamejante atrás da quadra de esportes, ele o convidou para sair. Jantaram, beberam, conversaram e transaram até não aguentarem mais. Teria sido mais uma presa do Gustavo, mais um para adicionar à extensa lista de peguetes dele, mas ele não estava contando com a possibilidade de se apaixonar. Começaram a namorar e, depois disso, nós mal nos víamos. Os dois estavam mais grudados do que chiclete em sola de chinelo, dormiam juntos quase todas as noites, incluindo os finais de semana. Tenho que confessar que isso me deixava bastante incomodada, mas não queria bancar a amiga chata, então deixei que ele vivesse o momento, mantendo-me sempre presente quando ele precisava.

Amor... E Outros Dilemas - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora