Vinte e um dias desde a noite mais alucinante que já vivi na vida e a agonia causada pela ânsia de vê-la novamente finalmente acabaria. Cheguei atrasada de propósito à casa de praia onde estava acontecendo a festa do Nicolas, pois queria ter certeza de que ela já estaria lá quando eu chegasse, caso contrário, eu ficaria ansiosa, olhando o tempo todo para a entrada, esperando, e não poderia dar essa bandeira.
Nos últimos dias conheci uma versão de mim mesma que jamais imaginei existir. Receio, ansiedade, irritação e até um pouco de medo, eu diria. Eram sentimentos que não havia experimentado jamais em relação a alguém com quem já tivesse me envolvido. O mais estranho é que aquilo sequer havia sido um envolvimento. Estava mais para uma noite casual, como muitas que já experimentei, mas de algum modo aquela garota mexeu comigo de forma inesperada e avassaladora, não sei como e nem por que. O fato é que, de lá para cá, tudo o que eu pensava era em vê-la novamente, em ter uma oportunidade de conversar com ela e entender por que saiu daquele jeito, de tocá-la novamente, mesmo sem saber se ela queria o mesmo. Poderia ter conseguido o telefone dela facilmente, perguntando ao Gustavo, que por sinal ainda não sabia de nada, ou ao Nicolas, que com certeza sabia de algo, pelo jeito como me olhou desconfiado nas duas vezes em que nos encontramos depois daquela noite, ou ainda, abusando do meu conhecimento em tecnologia para conseguir o número através de métodos não convencionais. Mas não queria que fosse dessa forma, não queria simplesmente conseguir o número dela. O que eu queria mesmo era que ela me quisesse, que tivesse me procurado, falado comigo, nem que fosse só para dar alguma explicação, mas sua falta de atitude me levou a crer que o que fizemos naquela noite havia sido indiferente para ela.
Entrei no jardim, lindamente decorado para a poolparty, e logo avistei o Gus, a quem avisei que estava chegando. Ele me abraçou e em seguida Nicolas se juntou a nós, sem me dar a oportunidade de olhar ao redor.
- Gata, demorou muito. Achei que não viesse mais. – Gus reclamou, enquanto me levantava do chão em um abraço.
- Foi, acabei me enrolando. – Menti. – Nic, feliz aniversário! – Dei um abraço nele e entreguei a caixa com seu presente. – Bela festa.
- Obrigada, amor! Que bom que veio. – Beijou-me no rosto. – Você está um arraso, hein?! Linda. Vai fazer sucesso aqui hoje, pena que o público não te atrai. – Riu com ironia.
- Obrigada! – Sorri. – E com relação ao público, nunca se sabe. – Ironizei de volta, com um sorriso no rosto, pois sabia o que ele estava querendo dizer.
- Olha! Acho que essa festa vai ser mais interessante do que eu pensei. – Brincou.
- Eu perdi alguma coisa? – Gus perguntou confuso.
- Não, só estamos avaliando as possibilidades. – Nicolas respondeu e eu sorri, divertida.
Dei uma bela olhada em volta, na esperança de vê-la, mas antes de acabar a ronda visual, Nicolas interrompeu.
- Procurando alguém?
- Não. – Respondi rápido. – Apenas... Avaliando as possibilidades. – Rimos.
- Bem, tenho que dividir atenção entre meus convidados. – Deu-me um beijo rápido e virou para Gus. – Amor, veja o que a Clara quer beber, se quer comer algo e enturme-a com o pessoal. Clara, minha linda, fique à vontade, ok? Daqui a pouco eu volto.
- Ok, Nic, obrigada! – Pisquei para ele, e ele saiu.
- Então, a quem quer que eu te apresente primeiro. – Falou sorrindo, pois já sabia minha resposta.
- Menos apresentações e mais bebida, por favor.
- Certo, você senta ali. – Apontou para uma mesa vazia, próxima a piscina. – E eu vou pegar cerveja e uns petiscos para nós. Depois caímos na piscina. Segura aí que eu já volto. – Saiu em disparada.
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Amor... E Outros Dilemas - Degustação
RomanceNem Clara e nem Júlia estavam dispostas a sair de casa àquela noite, mas ambas, convencidas por seus respectivos amigos, resolveram ceder. Clara, racional, realista, dominadora de seus próprios desejos, conhecida por muitos como a rainha do gelo; Jú...