Capítulo 4 - O Dia Seguinte

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Acordei-me com a sensação de ter dormido uma eternidade. Meu sono foi profundo e relaxante, e, ninguém poderia me julgar, pois depois de uma noite alucinante daquelas, quem não dormiria o sono dos justos? Não sei por quanto tempo dormi, mas estava revigorada. Virei para o lado com um sorriso no rosto para olhar para ela, já planejando começar tudo de novo, mas para o meu espanto ela não estava lá. No primeiro momento achei que estivesse no banheiro e até olhei em direção à porta, tentando ouvir algum barulho, mas nenhum som saiu de lá. Sentei na cama e olhei para o chão, procurando sua roupa, mas só o meu vestido estava lá. Não acredito que ela foi embora assim, sem sequer me dar tchau. Normalmente isso nem importaria, na verdade, em outra situação, isso seria um grande alívio. Sempre que eu dormia com alguém evitava passar a noite, pois temia o constrangimento da manhã seguinte. Mas com ela, desde o primeiro momento em que começamos tudo isso, sabia que seria diferente. Não sei como e nem por que, mas eu sabia. Meu coração apertou e senti um frio na barriga. Estava chateada... Não... Estava triste, sentida... Magoada. Uau! Será que é isso que se sente quando se é rejeitada? Vamos lá, pare como isso, garota. Essa não é você. Eu não queria acreditar, mas tinha acabado de cair na minha própria teia. Respirei fundo e voltei a olhar para o lado da cama em que ela havia dormido. Olhei para o travesseiro e vi um papel sobre ele. Achei que ela tivesse deixado o número do telefone lá, mas quando o peguei, para minha surpresa e decepção, nada de telefone, ao invés disso uma palavra, seguida de sua definição e de um agradecimento:

"DILEMA:

Circunstância árdua e de difícil resolução em que é necessário escolher entre duas opções contraditórias, contrárias ou insatisfatórias; escolha excessivamente difícil.

Obrigada pela noite sensacional.

Beijos!

- Júlia. "

Dilema... Fiquei ali parada, não sei por quanto tempo, feito uma idiota, lendo e relendo aquele pedaço de papel e tentando entender a mensagem implícita nele. Que escolha ela teve que fazer? Ficar ou ir embora? Só podia ser isso, mas não entendo o dilema. Será que pensou na namorada? Será que elas haviam terminado mesmo? Ou será que tinham só dado um tempo e ela estava se sentindo culpada? Caí de costas na cama de novo e olhei para o lado, ainda decepcionada com a situação. Senti um roçar estranho sob minha perna e estiquei a mão para alcançar o tecido que estava me incomodando. Era a calcinha de renda vermelha, a calcinha dela. Por que ela não pegou? Dah, por que estava embaixo de mim e isso significava que ela teria que mexer comigo e não queria me acordar. Fiquei olhando para a delicada peça em minha mão e... flashes. Jesus, quem sou eu? Não estou me reconhecendo. Involuntariamente virei para o lado, peguei o travesseiro que ela havia usado e o abracei, como uma idiota apaixonada. O cheiro dela estava lá, e delirei, lembrando de tudo. Depois de um tempo deitada, comecei a analisar a minha própria cena. O que eu estou fazendo? Que tipo de pessoa patética fica cheirando travesseiro e olhando para calcinhas de outras pessoas? Chega disso. Já chega! Se ela não quis ficar é porque não estava com vontade. E se quisesse me ver de novo, teria deixado o número de telefone. Começou de repente e acabou de repente. Fim da história. Levantei e fui para o banho. Peguei a toalha e estava molhada. Deduzi que ela havia tomado um banho antes de sair. Fiquei imaginando por quanto tempo ela havia ficado ali acordada, enquanto eu dormia feito pedra. Que merda, por que tenho que ter o sono tão pesado? Mais uma vez tentei afastar os pensamentos de minha mente. Tomei um longo banho, vesti um short e uma camiseta e fui para a cozinha em busca de algo para comer, pois estava faminta.

Já na cozinha, encontrei meu celular sobre o balcão, descarregado. Fui até a sala para pegar o carregador e vi a garrafa e as taças de vinho abandonadas. Fechei os olhos e respirei fundo. Tira isso da cabeça, Clara! Foi uma noite só, como várias outras que você já teve. Que porra é essa? Peguei o carregador, recolhi garrafa e taças e voltei para a cozinha. Pluguei o celular no cabo e o liguei na energia. Caminhei até o armário, alcancei uma tigela, uma caixa de cereais, peguei o leite na geladeira, a colher na gaveta e me acomodei no balcão. Café da manhã dos campeões. Liguei o celular e dezenas de mensagens começaram a chegar. Ignorei a maioria, mas respondi a da minha mãe, que queria confirmar se eu almoçaria em sua casa naquele domingo. Respondi que sim e fui para as próximas. Várias mensagens do Gustavo, perguntando como eu tinha vindo embora, por que eu não tinha ido falar com ele, pedindo-me desculpas por ter sumido com o Nicolas, perguntando onde eu estava e por que não estava respondendo e depois dizendo que ia ligar para a polícia, se eu não retornasse. Busquei o nome dele nos contatos e disquei.

Amor... E Outros Dilemas - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora