— Meu nome é carai-de-asa! — gritou a plenos pulmões.
— Calma, senhor Batalha. Por que o senhor está gritando comigo? Ademais, creio não ser possível atribuir tal alcunha ao senhor em uma publicação de porte como é o caso da revista para a qual trabalho.
— Seu miserávi, como você pergunta meu nome e acabou de me chamar por ele?
— Falo do nome completo, senhor Batalha.
— Então explique! Deixe de enrolada. Anote aí, Raimundo Batalha da Conceição. Você tome cuidado com o que vai escrever nessa revista.
— Apenas os fatos, senhor Batalha.
Batalha forçou o ar pelas narinas. Seu bigode estremeceu. Quando ele falava com calma a escova de longos pelos cinzentos encobria a sua boca. Naquela ocasião sua boca estava totalmente exposta.
A embarcação desaparecia no horizonte. A perseguição acabou em um braço de rio com um desaforo final. E havia iniciado com a leitura de uma página de jornal.
*
— "Lampeão aterroriza quatro vilarejos em menos de uma semana" — leu Cicinho, em voz alta.
— Lampeão? Quem danado é Lampeão? — inquiriu Batalha.
— Lampeão, ora. Virgulino Ferreira da Silva, se não me engano — Cicinho falou com certa indignação perante a ignorância do amigo.
— E num era Lampião o vulgo desse condenado?
— Aqui no jornal está escrito 'Lampeão'. Apenas li.
— Será que num é outro cabra? — perguntou André sorrindo.
— Não, acabei de confirmar. Mais pra frente a matéria confirma ser o tal Virgulino mesmo.
— Será que num é dois cabra batizado com o mermo nome e pra se diferenciá cada qual pegou um vulgo diferente?
Os cinco voltaram o olhar para André. O vesgo apenas sorriu e deu de ombros. Depois disparou:
— Vai ver então que erraram a escreveção do nome.
— Também não, — disse Cicinho. — Aparece mais de uma vez na matéria, é 'Lampeão' mesmo a grafia — e bateu no jornal com os nós dos dedos.
— Certo, certo. Tá certo.
André bebericou da cachaça encerrando sua participação na discussão. Mas quem o conhecia sabia: ainda viria mais.
André então baixou o copo e alargou o sorriso. E veio mais.
— E os outro jornal? Quando tu comprou esse aí, tu viu se os outro tava escrito desse jeito?
— Você deve entender bem pouco sobre a produção de um jornal, André.
— Sabe mó de quê eu penso isso? Vai que o jornalista que bateu esse aí tava numa máquina com as letra 'i' trocada com as letra 'e'.
— Vou me corrigir, André: Você não entende é nada sobre a produção de um jornal.
— Cicinho, carai!, deixe André de mão e leia o resto da merda da matéria! — Batalha explodiu. Seu bigode balançando como uma cortina sobre uma janela aberta.
André soltou uma risadinha e tornou a bebericar de seu copo.
— "Indignados" — prosseguiu Cicinho, — "comerciantes e políticos uniram-se para arquitetar um estratagema capaz de cohibir os actos vis dos bandidos e tentar barrar sua força cada vez mais crescente. Uma das estratégeas é a de oferecer recompensa em dinheiro pela captura ou"--
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Raimundo Batalha contra Cangaceiros e Volantes
Short StoryÉ em uma mesa de bar, em uma cidade no interior do Nordeste Brasileiro, que Raimundo Batalha tem o terrível pensamento: Se eu morresse hoje, sera como se eu nunca tivesse existido. Com essas palavras em sua mente e muitos palavrões na ponta da língu...