Primeiro

48.4K 2K 346
                                    

Não escolha pelo bonito, pelo acessível, pelo proveitoso, pela submissão e nem muito menos pelo conveniente. Escolha pelo qual faça seu coração estremecer.

____________________________________________

Pov AnaBell

Pode-se dizer que minha vida começou no dia de meu nascimento, mas eu costumo acreditar que só vou nascer depois de me libertar. Meu nome é Ana, AnaBell para ser mais exata. Eu tenho dezessete anos e vivo em San Diego, na Califórnia. Sou de classe média. Não tenho melhores amigos e acho que nunca vou ter, não faço o tipo de garota popular nem nada, sou sozinha e já me conformei com isso.

Vivo com meu papá, um alcoólatra viciado em jogatina, já minha mamma morreu no meu aniversário de sete anos. Eu nunca soube a causa de sua morte e toda vez que Não me sinto bem em comemorar essa data, mas já meu pai...

Nos últimos dez anos o ciclo se repetia e eu era obrigada a comemorar uma data a qual eu nem dava importância. Esse ano meu papá fizera uma pequena festa com alguns amigos próximos e umas pessoas que diziam ser meus tios. Achei estranho o fato de ele convidar pessoas para "nossa" comemoração, pois, ano após ano sempre fora eu e ele a beira da praia comendo alguma coisa sozinhos e solitários. Largados e imensamente amaldiçoados por um passado cruél.

Na minha percepção este mês só ouve coisas estranhas vindas de meu progenitor. Começou com ele passando vários dias fora de nossa casa, tudo bem que depois da tragédia ele se tornou esse viciado, mas ele nunca havia passado mais que uma noite fora.  Depois vieram os agrados um presente hoje. Um abraço de bom dia depois, até um "Eu te amo" saira de soslaio dos lábios de meu papá. E no meu aniversário aquilo tudo de festa e convidados.

Meu papá nunca fora homem de demonstrar sentimentos, sempre fechado em seu próprio universo. Acredito que tenha puxado isso dele. Já minha mãe pelo pouco que me lembro era carinhosa, afetuosa e dona de um sorriso que facilmente derreteria as calotas polares. Os dois, eram realmente o contrário um do outro e por isso certamente completavam-se.

Meu papá nunca abraça e nem fala "Eu te amo" a ninguém. Segundo ele a única pessoa que poderia fazer ele passar por cima do orgulho e demonstrar quaisquer sentimentos, já não estava entre nós. E isso de certa maneira sempre me machucou. Herdei isso dele, o fato de não desmontar afeto. Com toda a certeza eu tinha sentimentos, na verdade, era cheia deles. Mas claro, nunca na frente de ninguém, afinal, eu era orgulhosa demais para demonstrar fraqueza á alguém. Outra honrosa, ou não, qualidade que herdei de meu papa.

Todo dia é um inferno. É um inferno eu ainda estar viva. É um inferno ter que ir para o colégio, mesmo sabendo que é a única coisa que me dará um futuro promissor. É um inferno colocar todos os dias um sorriso no rosto.

Converso, sorrio e digo "Olá, eu estou bem e você?", mesmo não sendo verdade . Não tem o que se fazer, ninguém tem culpa de minha vida ser "fodidamente fodida". Sou uma adolescente e isso é verdadeiramente um "pé no saco". Uma quase adulta, uma quase criança e uma quase respeitada por todo mundo.

A única coisa que tem me feito continuar e que me tira da dura realidade são os livros da Biblioteca Cetral, onde trabalho atualmente. Claro que meu papá nem desconfia. Por ele, eu mal sairia de casa e treinaria apenas para servir ao meu marido quando eu me casasse como ele mesmo já me disse uma vez.  Meu papá é extremamente marxista, certa vez dissera ele com essas palavras :

"Mulher foi feita apenas para procriar e cuidar da casa e de seu marido".

Não o culpo, sei que sua criação na Itália foi essa. Minha mamma também era submissa a ele, creio eu que nunca se após a uma só fala dele.

Há algum tempo eu venho juntando umas finanças, especificamente desde que comecei a trabalhar. Fora isso ainda tenho uma herança que herdei de minha mamma, guardada em uma conta em Napoli, na Itália. Essa quantia daria para mim viajar para longe, fugir e começar uma vida nova e isso era o que mais queria, mas ainda sim, havia meu papá, que nunca deixaria que isso acontecesse.

Algo sempre me falta, vivo pela metade e me parece que estou predestinada há isso; Viver em uma constante incógnita que é a minha vida.

Nunca fui de ter paixões e espero que minha vida continue assim. Não é que eu tenha medo do amor, eu só sou muito insegura perante esse sentimento, pois perdi quem eu mais amava de repente e isso nunca será reparado. Mas se por um acaso o amor bater na minha porta, só peço  que essa paixão seja arrebatadora e finalmente me dê a sensação que tanto procuro, de estar cem porcento inteira pela primeira vez em muito tempo.

Em fim, todos sabemos que o amor pode machucar, mas creio eu, que  ele mesmo acabará nos salvando do abismo em que ele mesmo nos colocou.

____________________________________________

* Comentem e votem *

 

Cárcere Privado [ P A R A D A ]Onde histórias criam vida. Descubra agora