Não sou ela

Segredos

Charlotte 

Desgastada mentalmente, é assim que me sinto a todo momento e o que me deixa ainda mais impotente, é não ter ideia do tempo  que estou presa. Passo a maior parte sentada em uma cadeira de madeira olhando para o vazio do quadrado se tornou uma espécie de lar desde o dia em que tudo aconteceu, minha unica companhia era uma caixa que estava me enlouquecendo e Mary que sempre aparecia para trazer comida e água.

Olhei o conteúdo da caixa diversas vezes até começar a entender do que se tratava aquilo, era uma espécie de dossier sobre a minha vida, isso já era óbvio e totalmente assustador. Mas a minha maior descoberta era sobre Amélie, ela fazia parte da minha vida.

Não sei exatamente o seu parentesco comigo, só sei que ela me amava e tentava me proteger e isso fez com que uma conexão dentro de mim em relação a ela fosse despertada.

Provavelmente a única pessoa que poderia ser capaz de responder todas as minhas perguntas, é a criatura que me entregou a caixa. Ela pode ser a Amélie? Pode! Ela pode conhecer a Amélie? Pode! Ela pode ser alguém que viveu comigo no Lar? Pode!

Ela podia ser tantas pessoas, que a minha busca por respostas deixava-me ainda mais ansiosa para vê-la novamente. A cada sombra que eu via passar pela entrada de luz do local em que estava ou cheiro que eu sentia, fazia o meu coração acelerar esperando pela sua presença e essa esperança sempre se dissipava.

E cada vez que penso nisso, relembro da minha família e dos meus amigos. Será que ainda procuram por mim? Ou já me tornei um caso encerrado? Eu sei que Alexander e Melissa não vão parar nunca de me procurar, mas me sinto péssima em saber que posso me tornar um fardo para eles carregarem por causa dessa busca que pode ser sem resultados. 

— Coloque a venda! —ouvi a voz de Mary e a obedeci.

Ouvi a voz dela me traz conforto. 

—O que vai acontecer? —perguntei curiosa colocando a venda.

—Vamos conversar um pouco. —ela disse sem demonstrar emoção alguma.

— Sobre a caixa?

Não obtive resposta.

Alguns minutos se passaram e percebi que estava sozinha novamente. Mary era diferente dos outros, ela parecia se importar comigo e isso me deixava um pouco mais tranquila, algo no meu coração dizia que se tentassem algo contra mim, ela me protegeria. 

— Charlotte? —era Mary novamente.

—Oi.

— Acho que finalmente chegou a hora de você começar a descobrir tudo. —quando escutei aquelas palavras meu coração disparou.

— Estou pronta.

Não estava pronta na verdade, mas era da  verdade que eu precisava e não importa a ocasião.

—Eu irei apenas começar a tecer o fio da sua história, tem coisas que não poderei te contar porque não sei, como o inicio da sua vida e quem vai finalizar e pode tirar todas as suas dúvidas, é a pessoa que te entregou a caixa. —ela disse calmamente.

— Pode começar. —suspirei ansiosa.

— Tudo começou quando você era apenas uma criança, nós duas já nos conhecemos, éramos duas garotinha. — senti um barulho de metal sendo arrastado no chão. — Mais duas garotinhas do Lar para crianças perdidas, eu sou mais nova que você um ano e quando eu cheguei lá, você já estava.