Capítulo 5.

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Estava anoitecendo. Minha mãe disse que íamos dormir um pouco antes de partir. Meu pai se certificou de que havia gasolina suficiente no carro. Mesmo assim fez questão de abastecer mais. Como a viagem era longa tínhamos que sair cedo para não chegarmos ao destino sobrecarregados. Eu não mostrava tanto entusiasmo mas também não mostrava tristeza. Eu estava laicra melhor dizendo. Então antes de dormir minha mãe disse:
-filha, arrume suas coisas agora. Não quero atraso na hora da saída. Vamos apenas tomar um banho e partiu Santa Catarina.-disse ela dando pulos de alegria parecendo uma criança
Sorri e ela correspondeu só que dando altas gargalhadas.
-tudo bem mãe -disse segurando pra não rir daquela situação.
Ela saiu e entrei pro meu quarto para preparar minhas malas. Eu não tinha tantas roupas. Como vocês sabem eu era muito discreta então não fazia questão de ter aquela "parede" de roupas. O que tinha para mim era suficiente. Guardei-as na mala e pronto. Meu quarto era um verdadeiro quarto de menina. Suas paredes eram rosas e eu tinha um baú cheio de lembrancinhas de amigos meus e parentes falecidos. Eu não queria deixar tudo aquilo para trás. Sai com pressa do quarto para ver se meu pai havia chegado, me deparei com ele prestes a dormir. Então perguntei:
-pai, sei que está indo dormir mas por favor, será que tem como o senhor colocar meu baú no porta-malas?
-tudo bem... -disse ele com desânimo. -mas pra que vc quer esse baú?
-pra levar minhas coisas especiais ora
Respondi achando sua pergunta muito insignificante. O que custava me fazer esse favor? Já não basta ter que me mudar, largar tudo que conquistei, meus amigos. Se não puder levar minhas lembranças tá difícil viu.
Vendo minha cara de insatisfação se levantou e foi ao meu quarto para pegar o baú. Finalmente né. Eu queria muito meu baú. Dentro dele havia os melhores presentes meus já recebidos. Nunca que eu os deixaria para trás. Depois que meu pai colocou veio até mim:
-pronto filha. Boa noite, durma bem.-disse ele me dando um beijo na testa.
Fui para meu quarto. Estava cansada e triste. Me deitei mas não consegui dormir, a insônia me perseguia insistente. Virava para um lado, virava para o outro e nada de fechar o olho por um minutinho sequer. Era 3h30 da manhã. Finalmente consegui dormir um pouquinho. Meu pai estava tomando banho e pude escutar minha mãe colocando os pratos sobre a mesa para comermos e partir para a viagem. Olhei para a janela, ainda estava escuro, o que não me motivava nem um pingo pra levantar. Embrulhei a cara e tentei dormir. Não demorou nem cinco minutos para minha mãe vir me chamar e pra piorar minha situação eu havia trancado a porta então seria obrigada a levantar e abrir a porta para minha mãe:
-toc toc, filhaa, vamos, levante. Temos que sair
-ah nem mãe, estou com sono. Vamos esperar o dia amanhecer direito, por favor?
-nada disso, eu bem que disse pra mocinha aí dormir cedo. Rápido, abra essa porta e não ouse fechá-la de novo. Veste um moletom e vem comer! Seu pai já está se servindo
Tem coisa pior que isso? E eu achando que minhas férias seriam maravilhosas, haha...
Me levantei resmungando, e fiz tudo como minha mãe ordenara. Tomei um banho rápido, vesti o moletom, fiz um coque no cabelo e fui as pressas para a mesa antes que minha mãe gritasse novamente rs.
-eu bem que disse pra vc ir dormir cedo senhorita Érica. Olha essa cara de sono. Certeza que ficou a noite toda lendo aquelas histórias bobas.
-claro que não. Eu apenas não consegui dormir.
Óbvio que ela não acreditou mas não dei muita moral... eram quase 4h40. Já íamos partir. Pedi apenas alguns minutos, eu queria me despedir do meu quarto. Eu não falei que queria fazer isto, disse que precisava pegar uns adesivos. ela com uma cara de insatisfação deixou mas disse para mim ser rápida.
Entrei no quarto, tava tudo vazio, havia somente meu colchão, o guarda roupa vazio e minha escrivaninha. Não queria chorar então apenas quis guardar minha última lembrança. Peguei uma pulseira que estava na cabeceira da minha cama, fechei a porta e infelizmente me despedi de São Paulo. Já dentro do carro papai perguntou:
-todos prontos?
-siiiiiiiiiiim -disse minha mãe no maior entusiamo!
-Érica?
-sim pai, vamos...
Por fora eu queria mostrar um pouco de alegria mas minha única vontade era de chorar, chorar pela dor de dizer meu adeus a minha cidade natal.

confissões de uma come-dorme.Onde histórias criam vida. Descubra agora