Abro os olhos, está tudo desfocado. Tento levantar-me. Sinto uma dor aguda na cabeça e caio novamente no chão com a dor. Levo a minha mão até ao ferimento e sinto qualquer coisa molhada; sangue. Faço outra tentativa para me pôr de pé, indo mais devagar desta vez. Ainda está tudo desfocado, mas consigo sentar-me. Dobro as pernas e apoio os meus braços nelas, e por sua vez, apoio a minha cabeça nas mãos. Já está tudo a ficar mais nítido, então ganho balanço para me levantar, mas tenho uma tontura então apoio-me rapidamente a um dos parapeitos de pedra para não cair outra vez. Espera. Parapeitos de pedra? Então mas... Olho em volta e estou no mesmo sítio de ontem, quando fui... Quando fui... hm... Fecho os olhos e tento lembrar-me dos acontecimentos da noite anterior, até que eles vão voltando. Olho em volta mais uma vez em busca de ver algum resquício da noite anterior, afinal, depois de ficar inconsciente não me lembro de mais nada. Vou até ao local onde me agrediram, mas só vejo pingas de sangue.
São sete da manhã e é mesmo melhor meter-me a andar antes que as pessoas do bairro comecem a acordar, pois ninguém me pode ver, ninguém pode saber.
Agora que conheço o caminho, volto muito mais depressa para casa, utilizando os atalhos que Zac me ensinou.
Quando chego ao Ramwheels, o sítio de convívio de praticamente todos os jovens de hoje em dia, abro a porta da loja, e fecho a mesma com o mínimo de barulho possível. Tento esquivar-me o melhor que posso dos expositores para não ir contra nenhum e atravesso a loja com sucesso. Primeira etapa concluída. Saio pela porta que dá acesso à parte do bar e ziguezeio por entre as cadeiras e mesas e tento alcançar o balcão. Entro pela bancada principal, passo pela porta que vai dar à cozinha e por entre caixotes e produtos de limpeza que foram usados na noite anterior, chego à porta da minha casa.
Não sei se lhe posso chamar casa, mas é o sítio onde durmo, me alimentam e se preocupam minimamente comigo. Então é a isto que chamam lar, certo?
Subo as escadas de madeira muito silenciosamente, mas a dada altura piso um degrau que range. Contraio-me, estaco completamente e respiro fundo. Quando estou pronta para retomar o caminho e chegar à reta final que está agora tão próxima, uma luz acende-se revelando a silhueta da última pessoa que queria ver agora. Vem aí sermão, é melhor meter-me confortável, penso. Subo o resto das escadas, suspiro e encaro finalmente aquele olhar tão familiar de desapontamento, e então, as palavras zangadas voam daquela boca como tantas outras vezes antes.

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All Ways
Teen FictionVárias raparigas, cada uma com uma história conhecida por todos, incompreendida pela maioria. Segredos, omissões e muita adrenalina compõem esta história deixando-a inesquecível. Vem conhecer a história destas adolescentes que se escondem atrás de u...