Não acredito nos meus olhos, é a Rachel, Rachel Jones. Houveram tantos rumores sobre ela que nem sei em qual acreditar. Ouvi que ela se tinha suicidado, o que claramente não é verdade, que tinha mudado de cidade com a mãe, que se tinha fartado da escola e simplesmente fugido de casa e até ouvi que a mãe tinha tido um caso com o diretor, e que a relação entre os dois acabou tão mal que ele a expulsou da escola como vingança. No entanto cá está ela, diante dos meus olhos.
Quando consigo atenuar o meu espanto e raciocinar minimamente, apercebo-me do que está a acontecer. A professora foi até ela e deu-lhe as instruções necessárias, Rachel dá uma vista de olhos a todos nós e sai da sala. Não sei como caracterizar este momento, mas estranho foi de certeza.
Várias questões se formam na minha cabeça e não consigo evitar pensar nelas, passando a aula toda entretida com as minhas várias conspirações. Ela andou nesta escola pelo menos 2 anos antes de lhe ter acontecido seja lá o que aconteceu, e um desses anos foi comigo, é impossível ela não se lembrar de onde fica a sala, certo? Então para que raio é que ela foi bater à porta da sala A1.07 para saber onde ficava a sala A1.02? Mesmo que ela não se lembrasse, o que eu duvido imensamente, não era preciso ser-se muito perspicaz para dar com a sala. Não faz sentido, e cada vez estou mais certa de que não foi sem querer que ela veio a esta sala.
De repente a campainha toca, pondo fim aos meus pensamentos, no entanto, arrumo as minhas coisas e dirijo-me à secretaria.
-Bom dia, poderia dizer-me quem teve aulas agora mesmo na sala A1.02?
-Tenho cara de quem recebe dinheiro para dizer coisas tão pormenorizadas aos alunos? – responde-me Célia, a funcionária mais desprezível desta escola.
-Não lhe estou a pedir que me dê o código da sua conta multibanco, senhora – respondo azedamente, imitando a sua cara de poucos amigos.
-Há algum problema? – diz o diretor da escola, que tem pelos vistos estado a ouvir a conversa e decidiu intervir.
-Gostaria de saber uma informação inofensiva e a funcionária está a ter problemas em me responder.
-Qual é a informação? – pergunta o diretor com bem mais paciência do que Célia, a funcionária.
-Ontem deixei o meu carregador na sala A1.02 e hoje de manhã quis ir buscá-lo, mas a professora não me deixou sair da aula, então gostaria de saber quem teve lá aulas agora porque de certeza que o encontraram e ficaram com ele. – Okay, menti um bocadinho, mas não fez mal a ninguém, exceto à Célia que me olha com os olhos semicerrados, e eu preciso mesmo, mesmo, mesmo de saber essa informação se não, não ia ter descanso.
-Ah mas qual é o problema então dona Célia? – replica o diretor.
Quase instantaneamente ela tira a sua cara de sapo raivoso e mete um sorriso de orelha a orelha, coisa que eu nem sabia que a senhora era capaz de reproduzir pois em quase 4 anos que ando nesta escola que nunca vi esta mulher a dar sequer um meio-sorriso, quanto mais um sorriso que mostrasse os dentes todos. Ela responde finalmente num tom doce. Juro por tudo, se não conhecesse esta senhora de meia idade que sorri e fala melodiosamente neste preciso momento e entrasse agora nesta sala, iria achar que era uma princesa da Disney. Daqui a bocado devem entrar os passarinhos e os 7 anões com certeza. O problema é que eu sei que ela não é a princesa, é a bruxa, e estava pronta para me dar uma maçã envenenada se o meu príncipe não me viesse salvar. Ok, chega. Eu acabei de utilizar uma metáfora onde o diretor da minha escola é o príncipe que vem salvar a suposta princesa, eu, ew, que nojo, agora estou enjoada, o senhor tem idade para ser meu pai.
Abano a cabeça para afastar a minha dolorosa imaginação fértil e lá está Célia, a dizer que o único problema a que eu me referia era o facto de ela não encontrar os papéis, mas encontrou finalmente quando o senhor diretor apareceu, como por magia, olha que ironia.
Como não podia ficar para trás, reproduzo um dos meus melhores sorrisos e limito-me a dizer:
-Obrigada dona Célia, não sei o que era esta escola sem a senhora!
O diretor tem um ar satisfeitíssimo, mas na verdade não sabe de nada o pobre homem, que inocente, não acho mesmo que ele seria capaz de expulsar uma aluna por ter acabado mal um relacionamento com a mãe da mesma.
Viro costas e vou embora a olhar para o papel, e quando leio e chego à parte onde diz claramente que não há nenhuma turma a ter aulas na sala A1.02 neste dia a esta hora faz-me querer ir beijar a Célia. Credo, não. Retiro o que disse. Que nojo.
Decido ir ao meu telemóvel tirar foto ao documento, caso o perca, não gosto nada de perder provas, especialmente se as mesmas forem explicitamente incriminatórias.
Quando desbloqueio o telemóvel vejo que tenho várias novas mensagens, e são do mesmo número que me mandou ir para aquele beco de madrugada ainda na noite anterior.
Ai Deus, outra vez não!
Sem mais demora, desbloqueio o telemóvel e começo a ler.
Fodeu.
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All Ways
Teen FictionVárias raparigas, cada uma com uma história conhecida por todos, incompreendida pela maioria. Segredos, omissões e muita adrenalina compõem esta história deixando-a inesquecível. Vem conhecer a história destas adolescentes que se escondem atrás de u...