Eu estava viva, pelo menos essa era a palavra para dar ao momento que eu voltava a mim e sentia meu coração bater, tudo bem que aquilo não era vida, eu me sentei na cama sem sentir boa parte do meu corpo e olhei pela minha janela, cheia de grades, mas dava para ver o lado de fora, hoje estava chovendo, o vento balançava as arvores em um constante vai e vem, e as gotas de chuva escorriam pela janela, fechei meus olhos e por um momento fiquei ouvindo apenas a agua cair no telhado da clinica aquele era meu único momento de paz sabe se la quando choveria novamente, e sabe se la se eu estaria viva para ver a próxima chuva, os medicamentos estavam cada vez mais fortes, e as torturas cada vez pior, a única coisa boa ali era aquele momento, onde eu tentava respirar mais devagar para diminuir a dor em meu peito, a chuva havia diminuído mais isso não era ruim agora eu conseguia ouvir o canto de um ou dois pássaros bem suave ao longe, logo toda aquela paz foi interrompida pelo som do alto falante do meu quarto, todos os dias de manha era a mesma coisa, a mesma musica acho que era um tipo de tortura musical, voltei a deitar na cama e olhar para o teto escuro, ficava me perguntando como meus pais tiveram coragem de fazer isso comigo, os pais deveriam amar e cuidar de seus filhos, pelo menos era assim que deveria ser, e eles me jogaram em uma clinica para me curar dos meus demônios, eles queriam eliminar uma parte minha, queriam me curar, me curar de ser eu mesma, me curar das minha opções e gostos, para eles era demais serem pastores famosos, serem seguidos por muitos e terem uma filha desviada dos caminhos que eles achavam ser os caminhos de Deus, era demais eu gostar de mulheres e não de homens.
Quando isso tudo começou lembro que eu tentei mudar, eu ficava horas e horas no meu quarto sentada com revistas com ao garotos bonitos da minha adolescência e ficava horas e horas olhando para eles repetindo " Você deve gostar de garotos, se gostar de garotas vai para o inferno" essa era a frase que eu passei há ouvir dos meus pais desde que me assumi com quatorze anos, sempre achei que o inferno fosse um lugar subestimado que nem existia, e que talvez se existisse seria conhecido após a morte de cada pecador, mas estava ai mais uma coisa que me enganei, o inferno existia sim, e eu morava dentro dele já há dez anos, talvez isso fosse o inferno, viver em purgação até meu ultimo dia.
As coisas se tornavam piores a cada dia, logo o alto falante se iniciou, e a tv presa a parede ligou, era como todos os dias, eu passaria horas e horas assistindo pornografia, de algum modo algum médico idiota achava que me expor a filmes pornô com homens e mulheres me tornaria heterossexual, aquilo provavelmente devia ser um absurdo aos olhos de muitos, mas também era certo aos olhos de muitos outros e talvez por isso ainda acontecia, eu havia sido tirada de tudo, eu não tinha contato com ninguém, há não ser médicos e enfermeiros, minha vida se resumia a momentos de tortura, e momentos de alivio por ainda estar viva, mas que vida era essa que eu levava, a dez anos torcendo para continuar viva, mais para que eu queria continuar viva? Eu jamais iria sair dali, não tinha como curarem isso, eu não era doente, eu apenas amava uma pessoa do mesmo sexo isso não é doença, talvez eu já esteja cansada desse projeto de vida falida.
Ouvi um barulho na porta e estranhei quase ninguém entrava ali aquele horário, a televisão desligou e um sinal vermelho apareceu na parede, era um sinal de silêncio, eu o conhecia bem, eu deveria permanecer quieta e se falasse algo eu sofreria consequências e talvez eu nem aguentasse essas consequências, me mantive quieta em meu canto enquanto via a porta se abrir lentamente, eu já havia parado de tentar fugir há muito tempo, antes qualquer brecha era o suficiente para que eu derrubasse alguém e tentasse sair correndo, mas eu estava cansada, e também eu fugiria para onde depois? Eu não tinha mais nada, meu irmão, minha mãe, meu pai, minha prima todos me queriam presa ali, afinal se me quisessem fora me tirariam dali, mas nem visitas eu recebia, quem dirá receber qualquer tipo de alforria.
A luz entrou pela porta e meus olhos ficaram atentos, eu confesso que estava assustada com medo, eu me lembro de apenas torcer para nunca ser o Dr Gold ou seu filho Killian, eu odiava aqueles dois, eles me causaram a pior dor ali dentro, eles eram monstros sem coração, mas logo a pessoa entrou e naquele momento meu coração acalmou, e bateu lentamente, respirei fundo e continuei olhando para ela, a visão mais bela que adentrava meu quarto naqueles dez anos, era a terceira mulher que eu via naquele cubículo, Dr Ingrid e Elsa, faziam parte do corpo de médicos do hospital, mas elas eram dois demônios não deixavam nenhum dos homens que me feriam para trás, mas aquela mulher ela parecia diferente, claro que eu podia me enganar, mais eu era humana e estava ali para errar e aprender, continuei olhando para ela em busca de mais detalhes ela ainda estava de lado apoiando algumas coisas em uma pequena mesa que tinha ali presa na parede com uma mão francesa, fiquei observando com medo de fosse mais um tratamento, mais parecia que só haviam gases, e alguns remédios e uma prancheta e caneta ali, ela tinha cabelo escuros, vestia um jaleco bem acentuado na cintura, eu sabia que provavelmente eu estava sendo filmada e que olhar tanto para aquela mulher provavelmente me traria problemas, mas eu sempre arrumava problemas, ela usava uma sai ou vestido preto ainda não conseguia ver com clareza, enquanto ela ajeitava as coisa ali, jogou seu cabelo para trás o passando atrás da orelha e enfim se virou para mim, e meu coração batia lento mais pesado, ela era linda, seus traços forte e bem marcado, sua boca de um vermelho desejável e tentador, agora eu podia ver sua roupa, ela usava uma saia meio que social preta e uma blusa roxa, não pude evitar pousar meus olhos em seu decote generoso, ela me olhava certeiramente, e diferente dos outros médicos, ela me olhava como uma pessoa e não como um animal como todos os outros me olhavam, ela deu alguns passos a frente e puxou uma cadeira que trouxe com ela e se sentou em minha frente, ela cruzou as pernas e eu seguia cada movimento dela com os olhos, ela molhou os lábios para falar, e pude ver uma cicatriz no topo do seu lábio superior, normalmente cicatriz deixam as pessoas feias, mas ela senhor, aquele pequeno corte dava um ar sensual aquela mulher que me fez sentir meu corpo queimar, ela passou a mão em seu cabelo o jogando para trás e ele voltou a cair suavemente para frente, ela me olhou e provavelmente notou que eu a olhava e me sorriu, ao respirar fundo mais uma vez senti seu perfume, aquele claramente era a melhor sensação que senti naquele lugar, eu pude viajar por alguns segundos naquele perfume que era um misto de doce e madeira.
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Indestrutível - SwanQueen
FanficOs pais deveriam proteger e cuidar dos filhos não é ? estar sempre lá, e ensinar coisas mas a única coisa que meus pais me ensinaram é que ser diferente é errado, fui deixada, largada, abandonada em uma clinica, onde o lugar mais calmo é minha cela...