Capítulo 4: Eita

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EITA

Você acha que eu deveria fazer isso? Porque eu sinceramente não sei se é uma boa ideia. — coloquei as mãos na cintura e encarei Romeu que estava deitado de barriga para cima na minha cama, muito distraído em brincar com o raio de sol que entrava pela janela. — Você sabe que eu não tenho muitas ideias boas, mas essa realmente parecer ser uma, mesmo que eu tenha certeza que seja péssima... Que confuso isso!

A verdade é que tudo era uma perfeita confusão dentro de mim desde o natal.

Gabriel teve essa maravilhosa ideia em me presentear com um vale presente para o cinema e, desde aquele dia, o vale parecia brilhar em neon dentro da gaveta do meu criado mudo. Se fosse só isso, um vale brilhando metaforicamente, a minha vida estaria completamente tranquila. Mas é claro que quando a confusão chega, ela chega para arrasar com tudo.

Então além do vale brilhante, eu tinha esses pensamentos confusos e contraditórios e essa vontade estúpida em usar aquele vale. Usar aquele vale com Gabriel. O que me matava um pouquinho e me deixava irritada demais porque eu sabia que ao aceitar usar aquele vale com ele, eu estaria abraçando um clichê.

E, mesmo sabendo, eu não me importava muito.

Talvez um pouco, mas não tanto quanto eu gostaria.

— E estranhamente, mesmo ela sendo péssima, eu quero muito fazer. —o que, de fato, tornava a situação pior do que ela já era. — O que você acha? Porque você não podia ser que nem o gato falante da Sabrina, hein?

Romeu continuava mais interessado em brincar com os raios de luz enquanto eu praticamente queimava os meus neurônios e queria chorar. Eu precisava de duas coisas: um copo bem gelado de coca-cola e tirar essa ideia ridícula de querer usar o vale presente com Gabriel. Porque, sendo sincera, aquela era uma péssima ideia.

— Péssima ideia, péssima ideia, péssima ideia. — bati a testa contra a parede uma, duas, três, quatro vezes e depois resmunguei pela dor. — Porque eu acho que quero ir no cinema com Gabriel mesmo quando sei que isso é uma péssima ideia?

Se Romeu me respondeu? Não.

Se a resposta foi enviada diretamente por anjos? Não.

Se Deus sussurrou a frase no meu ouvido? Também não.

Se eu voltei a bater a cabeça contra a parede em busca de tirar aqueles pensamentos de dentro da cabeça? Sim.

Se aquela foi uma péssima ideia e muito inútil? Com certeza.

A única coisa que consegui com aquilo foi ter uma real dor de cabeça e talvez até mesmo um galo na testa. É, talvez eu precise de gelo. Depois de olhar no espelho, eu constatei que com certeza eu precisaria de gelo.

Quando me virei em direção a porta, pronta para ir até a cozinha em busca de um pouco de gelo, quase gritei de susto ao ver a figura de Jude parada no corredor, me encarando como se eu fosse louca.

— O que você está fazendo fora do seu quarto? Você nunca sai do seu quarto quando está em casa nas férias!

Jude, com certeza, é uma dessas pessoas que prefere ficar trancada em casa, a base da internet e vivendo de comida consideradas não-saudáveis nas férias - e fora delas também. O que não é muito justo nessa situação toda? Ele não engorda, tem notas ótimas na faculdade e um emprego muito bom já que é um designer incrível. Jude é uma pessoa de outra dimensão. Ninguém é como Jude. Sério.

— Não saio mesmo, mas você batendo seja lá o que você estivesse batendo nessa parede me deixou extremamente irritado. Paredes vizinhas e finas. — ele fez uma careta e continuou a me encarar. — O que você tem hoje? Você é estranha ao natural, mas hoje... Hoje você parece mais estranha e mais ansiosa do que seu normal.

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