Houve um tempo em que eu acreditei que após a morte, tudo estaria acabado. Não haveria mais dor nem tristeza, onde a solidão seria o remédio que curaria as dores que carrego na alma.
Eu poderia nunca ter entrado naquele carro, mas se não tivesse entrado, não estaria aqui, tentando me decidir se morrer é ou não a melhor opção.
Era uma noite de inverno, estava absurdamente frio e eu havia bebido mais do que estou acostumada. Helena e eu estávamos comemorando meu aniversário de 19 anos e ela parecia não estar nem um pouco interessada em ir embora.
- Ai, Sophia. Não seja careta, tome mais uma cerveja – disse ela, enquanto se agarrava á Marcos, um carinha que ela havia conhecido mais cedo. Eu realmente não conseguir entender o que ela viu nele, apesar de ser muito simpático, ele fedia a esgoto.
Olhei para o relógio que ficava na parede do lado oeste do bar, já passava das 3 da manhã e já não havia quase ninguém no local, apenas alguns poucos casais bêbados. Por alguns instantes senti que não deveria estar ali, senti uma vontade desesperadora de ir para casa.
- Não, Helena. Não me sinto bem – Não menti, pois de fato algo em mim não estava bem, talvez já estivesse bêbada, - Você vem comigo?
- Hmm, Marcos e eu temos outros planos – Disse ela, dando um sorrisinho sarcástico. – Pode ir sem mim, amiga. – ela então se voltou para Marcos que esboçou um cara de felicidade ao notar que eu estava de saída.
Peguei minhas coisas e fui para o lado de fora da boate, estava tentando chamar um taxi, mas a linha estava ocupada. Santo Deus estava muito frio do lado de fora. Encolhi-me em um cantinho e notei que um vulto vinha em minha direção, ao tempo de piscar e voltar a olhar na direção de onde avistei o vulto, ele desapareceu. O álcool estava me fazendo ter pequenas alucinações.
Lembrei-me que havia um ponto de ônibus a 4 quadras de onde eu estava e ainda não tinha conseguido fazer a ligação para o taxi. Resolvi caminhar até o ponto e ir de ônibus para casa, já que eu estava cansada demais para tentar conseguir um taxi.
A cidade inteira dormia e eu era a única pessoa caminhando na rua. Nunca havia reparado como a noite é silenciosa e eu aprecio o silencio. Todas as casas com suas luzes apagadas e a única claridade disponível eram as lâmpadas de ruas. Um cachorro passou por mim e eu me assustei.
Fui tomada por uma estranha sensação de estar sendo seguido, o medo fez com que todos os pelos da minha nuca se ouriçarem. Continue andando, não pare. Uma vozinha sussurrava em meus ouvidos. Continue, não olhe para trás.
Por algum motivo a temperatura pareceu cair ainda mais e o frio me deixava mais lenta. Corra, corra muito – Não pensei duas vezes e obedecia aquela voz e corri desesperadamente, olhei para trás e não vi ninguém. Cheguei ao ponto e lá fiquei por um bom tempo, até que ônibus passou, mas não parou, o motorista nem sequer notou que eu estava aguardando.
Merda! Terei que ficar mais um pouco. Ainda sem sucesso ao tentar chamar um taxi.
Então senti a gélida faca encostada á minha cintura. Olhei para o lado e ali estava o mesmo vulto que havia visto no beco da boate. Era um homem louro, ele estava visivelmente nervoso, falava com dificuldade.
- Calada, ruiva. Passe-me a bolsa. – Não sei se era o medo ou o frio, mas eu fiquei sem reação, travei por completo. Meu coração batia descompassado, meu corpo não respondia aos comandos indicados pelo cérebro. – Você cheira bem, ruiva. Acho que não quero só sua bolsa – ele então segurou meus cabelos e eu comecei a chorar.
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MEDEIA - (Trilogia Celestial - livro 1)
FantasySophia nunca soube o paradeiro de sua família, cresceu em um orfanato e acabou sendo adotada quando já era praticamente uma adolescente. Há milhares de anos, o Celestial criou a profecia: Em mundos distintos, o bem e o mal existem para se amar e o...