CAPÍTULO 6

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Já fazia um bom tempo desde que as conversas na sala se calaram. Martin, Daniel e Lion já devem estar dormindo. Ajusto a manga da camisa de Diana. O medo faz minha respiração ficar pesada, meu coração bate acelerado e mesmo estando frio, sinto minha testa ficar suada, levo as mãos até minhas têmporas na tentativa de me acalmar e noto que estou trêmula.

Coloco a mão na maçaneta fria e a giro devagar, sentindo-a destravar, empurro a porta, revelando a escuridão da sala, que só não é total porque uma vela está acessa sobre a mesa de centro. Olho ao redor e noto os vultos adormecidos. Martin e Daniel estão cada um em um saco de dormir. Daniel murmura palavras que eu não entendo. Martin não emite som algum. Lion está no sofá, virado de costas pra mim. Passo entre Martin e Daniel, pisando com a pontinha dos pés, tentando ao máximo não deixar as botas fazerem barulho.

Lion se mexe, meu coração congela, olho por cima dos ombros, mas ele ainda está dormindo, apenas mudou de posição. Solto o ar que estava preso nos meus pulmões. Destranco a porta da sala e saio fechando-a devagar. O vento está forte, o céu está negro, mas pequenos clarões rompem distante, sinal de que logo a chuva vai chegar. Sinto meu corpo inteiro se arrepiar, me arrependo de não ter pegado algum casaco de Diana.

Corro em direção ao estábulo e vou até a baia de Gaara, pego a sela que estava pendurada na parede lateral.

– Gaara. – Sussurro, fazendo o animal se levantar assustado. – Ei, garoto. Shiii. – Faço com os lábios e acaricio a sua testa. – Se acalme, sou eu.

Dou graças a Deus por ele se acalmar, coloco a sela por cima dele e ajusto as laterais, prendendo bem todos os fechos. Puxo Gaara pelas rédeas e ele se segue sem protestos.

– Bom menino. – Digo, o mais baixo que posso.

Saímos de dentro do estábulo e uma chuva fina começa a cair. Me preparo para montar, mas congelo quando uma voz vem do meio da escuridão.

– Ora, Ora, Sophia. – Diz, saindo da penumbra.

Sinto todos os meus músculos travarem quando reconheço meu interlocutor.

– Ezequias! – Minha voz sai engasgada com o choro que brota na minha garganta. Como é possível ele estar vivo?

– Você achou mesmo que eu estava morto? – Ele caminha em minha direção e eu recuo, soltando as rédeas de Gaara. Penso em correr de volta pra cabana, mas vejo duas pessoas estranhas bloqueando o meu caminho.

– Por favor, me deixe em paz. – Grito, na tentativa de fazer Lion me ouvir.

– Ah, não se preocupe. Dessa vez eu não quero machucar você. – Ezequias ri e os outros também.

Corre, corre o máximo que você puder.

A voz na minha cabeça é a mesma que ouvi na noite em que Ezequias me esfaqueou. A chuva começa a engrossar, me viro na direção contrária e começo a correr. Ezequias vem logo atrás, seguido pelos dois comparsas. Entro na floresta e tudo o que vejo são alguns galhos dos quais preciso desviar.

– Sophia! – Ezequias grita. – Não adianta correr, vou pegar você. – A voz dele ecoa atrás de mim.

Continue correndo.

Minha ferida dói, minhas roupas estão molhadas e preciso desviar de galhos e mato. Sinto minhas pernas vacilarem, estou cansada e com medo. Quero acordar do pesadelo, mas tudo o que consigo fazer é continuar correndo.

Por um instante penso que minha vida chegou ao fim, quando alguém me puxa no meio da escuridão e me prende junto a uma árvore. Com o corpo colado ao meu e a mão cobrindo a minha boca, vejo Lion, que leva um dedo indicador até os próprios lábios em sinal de silêncio. Balanço a cabeça em sinal de afirmação. Alguém passa correndo por nós, mas não nota a nossa presença.

MEDEIA - (Trilogia Celestial - livro 1)Where stories live. Discover now