Já passa das 8 da manhã quando eu finalmente resolvo me levantar da cama. Helena provavelmente está dormindo, claro que está. Somente eu sou louca pra acordar cedo em um domingo. Espreguiço-me na porta do banheiro e sinto a minhas pernas tremerem ao me lembrar do sonho da noite anterior. Uma estranha sensação invade o meu corpo, instantaneamente, ergo a blusa do pijama e analiso a lateral da minha cintura, na tentativa de encontrar a ferida, mas não há nada, nem um único sinal de que eu fui perfurada por uma faca.
Tomo um banho quente e rápido, escovo os dentes e vou até a cozinha, onde me sento à mesa, abrindo um pote de biscoitos e dando uma mordida generosa. A explosão de sabores em minha boca me traz uma sensação de nostalgia, como se aquela mordida no biscoito já estivesse acontecido, o sabor familiar desce pela minha garganta.
Goiva!
A criança do meu sonho havia me vendido uma caixa de biscoitos igual a caixa que seguro em minhas mãos. Pergunto-me, como é possível um sonho ser tão real ao ponto de me fazer lembrar do mesmo sabor do biscoito.
– Acordou com as galinhas? – Helena diz, vindo em minha direção e se sentando ao meu lado. – Depois de ontem, pensei que dormiria até o fim da tarde.
Ela me dá uma piscadinha e joga o cabelo para trás. Noto o roxo em seu pescoço, e Deus me livre de imaginar o que ela e Marcos andaram fazendo na noite anterior. Mas, o que realmente quero saber, é o que eu fiz na noite passada.
– O que você quis dizer com "depois de ontem" – Enfatizo, fazendo aspas com os dedos.
Helena dá um riso meio assustador e morde o biscoito que está em sua mão.
– O showzinho que você deu lá no bar, Sophia. – Diz, com a boca cheia, e com migalhas saindo pelas laterais. – Você não se lembra?
Sinto o minhas mãos tremerem, busco nas memórias, qualquer resquício de lembranças da noite anterior. Mas, tudo o que consigo me lembrar, é de sair do pub e caminhar em direção ao ponto de ônibus.
Flashes do meu sonho se misturam com memórias que já não tenho certeza se de fato existiram ou não.
– Você realmente não lembra? – Ela coloca a mão no meu ombro e respira fundo. – Ruiva, você bebeu muito. Misturou vodca com cerveja. Depois começou a dançar com o Lucas.
– Quem é Lucas? – Eu realmente não me lembro de nada. – E desde quando você me chama de Ruiva?
Helena continua rindo do meu desespero. Me levanto e vou até a pia da cozinha, abro a torneira e jogo um pouco de agua gelada no meu rosto. Mesmo com o frio que faz lá fora, sinto o ar ficando abafado e começo a suar.
– Desculpe pelo Ruiva. – Diz ela. – Mas se você não consegue se lembrar de nada do que aconteceu na noite passada, então, já consegue imaginar que você bebeu muito, ao ponto de sua mente ter apagado as lembranças.
Ela se levanta e caminha em direção ao quarto, de onde é possível ouvir o ronco baixo e nojento de Marcos, me deixando sozinha na cozinha.
Fico por um tempo olhando pela janela, o tempo lá fora está cinza e sombrio. As folhas do carvalho da vizinha estão caídas no chão. Elas reluzem em tons de âmbar e vermelho terra. Elas me fazem lembrar dos olhos de alguém. Lion!
Fecho os meus olhos e me abraço, deixando os meus pensamentos voltarem ao meu sonho da noite anterior.
"Corre, corre o máximo que você puder."
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MEDEIA - (Trilogia Celestial - livro 1)
FantasySophia nunca soube o paradeiro de sua família, cresceu em um orfanato e acabou sendo adotada quando já era praticamente uma adolescente. Há milhares de anos, o Celestial criou a profecia: Em mundos distintos, o bem e o mal existem para se amar e o...