Daniel - CP 2

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Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou
manso e humilde de coração;
e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Mateus 11:29-30
Irmão Daniel é um espírito iluminado que atua como principal dirigente da Colônia de Catarina de
Alexandria, a Colônia Amor & Caridade. Ele coordena uma equipe composta por dezoito espíritos de
muita luz que o auxiliam na organização e todo funcionamento da Colônia. Essa seleção de colaboradores
é formada, em sua maioria, por médicos que viveram encarnações na Terra e hoje cuidam, dentro de cada
uma de suas especialidades, dos pacientes da Colônia. Cada colaborador tem suas responsabilidades,
sempre divididas por setores. Tudo é muito bem organizado e administrado. Toda semana há encontros
entre todos, para juntos decidirem o melhor acompanhamento de todos os espíritos que estão vivendo em
Amor & Caridade e, ainda, de todos os espíritos encarnados assistidos nas casas espíritas do plano
terreno também.

A Colônia Amor & Caridade é composta por treze grandes galpões, sendo que três deles são dedicados
especialmente à recuperação, transição e realinhamento, tudo através de terapias do sono e passes dados
pelos espíritos assistentes. Outros quatro galpões servem de enfermaria, onde os pacientes na idade
adulta que desencarnam em hospitais, muitos deles vítimas de câncer, são acolhidos. Outros dois são
especialmente destinados às crianças, também vítimas de câncer.
Há ainda um galpão, o maior de todos, onde funciona o setor administrativo, com salas e amplos teatros
onde são feitas as reuniões com os espíritos que trabalham no plano material, seja nas casas espíritas, em
centros cirúrgicos ou nos hospitais. Os três galpões que faltam mencionar funcionam como centro de
treinamento e escola.
Há em toda colônia amplos jardins, lagos e praças, onde os espíritos se encontram para o lazer e orações
contemplativas. As praças são extensas e muito bem gramadas, com diversos brinquedos para as
crianças, balanços, pedalinhos, escorrega, entre outros.
Daniel não foi escolhido para presidir e administrar a Colônia Amor e Caridade à toa. Sua trajetória
espiritual é marcada por vidas dedicadas ao amor ao próximo e à evolução espiritual.
Os primeiros anos da vida religiosa do Frei Daniel de Samarate decorrem do ano de 1896. Tinha apenas
20 anos de idade mas já era considerado um professor respeitado pela comunidade religiosa local.
Estudou Teologia com esmero e dedicação, sempre cultivando grandes ideais em seu coração. Com o
ardor de seu espírito iniciante, pediu para ser enviado como um jovem missionário na nova Missão
Capuchinha que iniciava suas ações nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Os superiores aceitaram prontamente seu pedido, provavelmente percebendo o forte desejo do rapaz em
contribuir e também evoluir espiritualmente. E foi assim que, no dia 08 de agosto de 1898, Frei Daniel

partiu com destino ao Brasil na companhia de outros jovens frades repletos de entusiasmo e sonhos,
assim como ele. Mas todos esses adolescentes promissores precisavam de um tutor à altura, que
acompanhasse essa evolução espiritual de perto. Para tal missão foi escalado o Reinaldo Panigada de
Paullo, que havia chegado à Itália exatamente com o propósito de procurar e recrutar reforços cheios de
energia para colaborarem com o projeto cristão. Apenas três anos depois, Frei Reinaldo seria um dos
mártires da Revolta de Alto Alegre.
Em setembro, Frei Daniel chega ao Nordeste e, destinado à cidade de Canindé, no Ceará, continua com
fervor o estudo da Teologia e do Evangelho, empenhando-se de corpo e alma para aprender a língua
portuguesa a fim de entregar-se totalmente a serviço do novo povo. Na virada do século, logo no início
do ano de 1900, Frei Daniel foi transferido para a Colônia agrícola de Santo Antônio da Prata, no Pará,
como diretor dos meninos indígenas, que encontraram abrigo neste colégio. Daniel ali permaneceu por
quase 14 anos de luta e dedicação, período no qual foi contagiado pela lepra, doença que o obrigou a
viver isolado no futuro. Mas isso em nada atrapalhou Daniel nesta primeira e nobre missão. Entregou-se
com todo o ardor e caridade no coração, organizando com carinho e devoção a vida das crianças.
No entanto, alguns acontecimentos muito tristes, tanto para Daniel quanto para a missão, estavam prestes
a acontecer, para colocar à prova o empenho, a coragem e as virtudes humanas e cristãs de Frei Daniel.
Tudo aconteceu nas primeiras horas do amanhecer do dia 13 de março de 1901. Estamos falando de uma
tragédia terrível e sem precedentes. Quatro frades, sete freiras e cerca de duzentos fiéis foram
massacrados cruelmente por um grupo de Índios Guajajaras que não toleravam as normas disciplinares
introduzidas pelos missionários. Não se sabe se influenciados por políticos e donos de terra locais, os
índios empunhavam armas de fogo e haviam fechado há tempo os olhos à santa novidade do Evangelho.
Em face dessa hecatombe e dos cadáveres insepultos, terrivelmente deformados pela ação rápida e
impiedosa das armas, Frei Carlos de San Martin Olearo, então Superior Regular das Missões do Norte,
sofre uma queda física, psicológica e moral. Com isso, perde de forma irremediável a memória e a
capacidade de atuação, de modo que toda a administração da Colônia agrícola de Santo Antônio da Prata
acaba por recair sobre os ombros de um jovem e promissor missionário de apenas 25 anos. Isso mesmo:
Frei Daniel. Foram então treze anos ininterruptos de apostolado santo, repleto de realizações sociais e
grandes feitos. Tudo realizado com uma força inexplicável, que provavelmente vinha da forte convicção
de ter sido enviado pelo bom Deus em pessoa.
Por treze anos consecutivos, Frei Daniel foi missionário no verdadeiro e mais profundo sentido da
palavra. Por todos estes anos, cuidou dos índios e de seus filhos, sempre de modo especial. Viveu com os
índios mais do que todos os outros missionários, atuando exemplarmente como um hábil timoneiro na
condução das pessoas da selva para o esplendor da cruz. Daniel desencarnou aos 41 anos de idade, no
dia 25 de novembro de 1916, no retiro São Francisco, próximo ao asilo dos leprosos do Tucunduba.
...
Depois da conversa com Nina, Daniel retorna à sua sala sendo acompanhado por Marques, que estava um
tanto quanto afoito e esbaforido, o que não deixava de ser comum, tendo em vista que o assistente era
conhecido por todos pela sua ansiedade sempre latente.
– Irmão Marques, percebo-o com certa dose de ansiedade.
Marques então se pôs a falar, praticamente sem um respiro, para recobrar um pouco do fôlego que parecia já lhe faltar:
– Então, irmão Daniel, será que não seria melhor partirmos logo para as regiões umbralinas para o
resgate da menina Soraya? Como sabes, recebemos a informação segura de que ela está pronta para ser
resgatada e, por isso, assim sendo, deste modo, temos que partir o quanto antes pois a vibração positiva
enviada pelos familiares a estão acordando, fazendo com que seu espírito esteja reverberando essas
energias para o resgate e assim...
Sorrindo e, como sempre, muito calmo, Frei Daniel o interrompeu, com gentileza, claro.
– Meu querido Marques, fique tranquilo. Está tudo seguindo a ordem natural, está tudo transcorrendo
como o previsto. E isso inclui levarmos nossa irmã Nina conosco. Vimos que ela pediu um tempo para
decidir, como sei que realmente ela precisa deste tem-po, vamos concedê-lo, logo, teremos que aguardar.
Mas, por hora, podemos fazer o seguinte: o que você acha de chamarmos a irmã Sheila para que você a
acompanhe em uma nova visita à Nina logo mais? Vocês podem realizar um passe nela e conseguirão
certamente motivá-la ainda mais. Logo, logo, ela estará se sentindo mais apta e confiante para nos
acompanhar na missão.
–Ótimo, excelente, muito boa idéia, claro, farei isso agora mesmo, neste exato momento, sem perder
tempo...
– Isso mesmo. Então pode ir, Marques.
Com passos curtos mas extremamente ágeis, Marques deixa a sala do Daniel e caminha rapidamente
pelos jardins da colônia até chegar à enfermaria de número três, para convidar a irmã Sheila para a nobre
tarefa. Depois de ajudar Sheila em alguns afazeres, eles finalmente se dirigem para a enfermaria em que
Nina está repousando. Chegando lá, percebem que Nina ainda repousa em sono profundo. Há uma música
instrumental muito bonita, bem baixinha, tomando todo o ambiente da enfermaria. O som das teclas do
piano e dos acordes do violino parece flutuar no mesmo ritmo dos fluidos de cor violeta que pairam
sobre as macas. Dra. Sheila e Marques começam o passe, colhendo justamente estes fluidos que
percorrem o ar e os direcionando para o peito de Nina.
Sheila comenta que Nina é um espírito de muita luz e que a recente tarefa cumprida por ela na Terra,
apesar de elevá-la ainda mais, foi muito desgastante, tendo deixado cravado em seu coração alguns
sentimentos de insegurança. Mas Sheila também pressentiu que, logo, logo, ela estaria prontamente
recuperada e preparada para as novas tarefas do mundo espiritual.
A sensibilidade da irmã Sheila dificilmente se equivoca. Nina realmente é um espírito muito iluminado
que durante muitos anos atuou na terra em sucessivas encarnações, somando um total de dezoito.
Encarnou em vários países e em diversas missões. Viveu como enfermeira, tendo atuado bravamente na
Segunda Guerra Mundial. Viveu também como deficiente mental e deficiente física, passando por provas
muito difíceis, sempre resignada e focada em sua melhora espiritual. Durante muitas encarnações foi
freira de irmandades, cumprindo uma nobre missão determinada por ela mesma. Ainda assim, Nina
precisa de repouso e passes para encontrar seu reequilíbrio no mundo espiritual, após mais uma
encarnação de provas e missões.
Nina despertou do sono depois de um bom tempo transcorrido após o passe que Sheila e Marques
aplicaram nela. Logo que despertou, chamou por Lucas, um dos enfermeiros que caminhava pelo corredor
que passa entre as macas para conferir se estava tudo bem. Assim como Nina, havia alguns espíritos recém-desencarnados repousando. Assim que avistou Lucas, Nina o chamou sussurando para não acordar
os demais. Pediu que assim que fosse possível, o irmão Daniel fosse chamado pois ela gostaria muito de
falar com ele. Lucas não pensou duas vezes. Foi na mesma hora ao encontro de Daniel para passar o
recado:
– Irmão Daniel, irmão Daniel, irmã....
– Sim, irmão Lucas, como está Nina?
Daniel interpelou Lucas já com um leve sorriso no rosto, como
se soubesse o porqu e da vinda dele ao seu encontro e até mesmo o porque do próprio chamado de Nina.
Lucas respondeu meio desconfiado pois talvez nem fosse preciso dizer o motivo de sua vinda.
– Nina parece muito bem. Despertou com muita sede e imediatamente pediu que o chamasse pois
desejava falar o quanto antes com você.
– Muito obrigado, Lucas. Assim que terminar alguns afazeres inadiáveis irei ao encontro dela.
Algum tempo depois, Daniel entra pela porta principal da enfermaria e caminha vagarosamente até
chegar ao leito de Nina.
– Olá, minha querida, como está você?
– Olá Daniel, que bom revê-lo. Estou bem, me sentindo muito melhor, mais disposta. Posso até dizer
revigorada. Gostaria de conversar um pouquinho com você para saber um pouco mais sobre a missão.
– Claro, minha querida, à disposição.
– Então, quais seriam, assim, como vou dizer, os riscos reais que podemos enfrentar em uma missão
desse tipo nas regiões umbralinas? Sinto-me mais forte. Sinto meu corpo fluídico em expansão, como que
retomando minhas forças espirituais tão desgastadas e cansadas de tanto sofrimento físico vivido nos
últimos tempos, devido à enfermidade de minha existência no plano material.
Com os olhos já meio emaranhados de lágrimas, Nina prossegue, neste momento segurando uma das mãos
do Frei Daniel, que a estendeu em seu consolo.
– A saudade de meus pais ainda é muito grande dentro do meu peito. Até consigo ouvir minha mãe, que
tanto amo, sofrendo, chorando, não compreendendo a minha doença. A tristeza que ela ainda carrega
dentro de si me faz ficar mais triste e muito sensibilizada com todo este sofrimento.
– Minha doce Nina, você é um espírito elevado que está nessas condições porque não desligaram os
aparelhos que mantém seu corpo físico vivo. Quanto menos você pensar nessa condição, mais fácil será
seu desprendimento do corpo físico. Há neste momento pequenos laços fluídicos a mantém conectada ao
seu corpo no plano material. A força do seu pensamento é tudo neste momento e será decisivo. Vibre seus
sentimentos para que essa condição em que você se encontra agora seja resolvida. Procure não pensar em
tudo o que te fez sofrer e logo você verá que estes pequenos laços serão, um a um, desfeitos, libertando
você dessa angústia profunda que ainda te aflige.
– Era exatamente sobre isso que eu estava refletindo, Irmão Daniel. Meu tempo na Terra foi encerrado,
de forma abrupta, ao menos nesta jornada. Não posso manter esperanças para meus familiares que lá
ficaram. Rogo a todo o momento que nossa Mentora envie espíritos de luz para nos ajudar, intuindo minha família a desistir de esperar por um coração novo que, sabemos, nunca chegará.
– Verdade, querida Nina. Também venho orando para nossa Mentora para que ela interceda junto a seus
familiares para, logo, logo, livrarem você dessa angústia tão dolorosa. Mas você sabe que os propósitos
de Deus não são questionáveis, não é mesmo? Simplesmente temos que aceitar as vontades do Pai, sendo
pacientes e compreensivos.
– Claro, meu querido Irmão Daniel. Esta certeza é uma das luzes calorosas que me reconfortam a seguir
superando as adversidades.
– Oremos, irmã, oremos. Deus escolhe os melhores soldados para conferir a eles as provas mais
desafiadoras. Ele conhece, ainda mais do que você mesma, a sua própria capacidade. Vamos fazer o
seguinte: vamos esperar pelo próximo dia. Quem sabe as coisas não melhoram, não é mesmo?
– Sejamos pacientes então. Obrigada, irmão , obrigada.
– Fique em paz, Nina.
Daniel então retorna à sua sala. O gabinete onde ele trabalha diariamente é um lugar muito especial no
mundo espiritual. É uma sala ampla com uma grande mesa ao centro, algumas cadeiras confortáveis à
frente, em um total de três. Tudo branco. No lado esquerdo da mesa, há um grande vaso adornando a sala,
recheado com uma planta cheinha de lindas flores na cor lilás. No lado direito, há uma pequena porta
branca que dá acesso a um cômodo onde fica um altar. Ao centro deste altar consegue-se enxergar, vindo
de cima, do teto, um raio de luz intenso e brilhante, mas que não ofusca os olhos nem machuca. É
cristalino como um grande diamante em forma de vapor, mas como se tivesse sido polido em forma de
cruz. Logo à frente, há um pequeno banco, também branco, onde Daniel costuma ficar por longos
períodos em oração e prece. Nas paredes da pequena saleta, grandes vitrais começam no chão e vão até o
teto. É possível ouvir uma bela melodia repleta de solos de violinos, piano e harpas angelicais que
trazem muita paz e tranquilidade para os espíritos de luz, que costumam se afeiçoar com esse tipo de
música.
Daniel adentra a pequena saleta do oratório e senta-se para fazer uma prece por Nina:
Querida Mentora Espiritual, nossa estimada Catarina de Alexandria. Vós que foste a grande mestra
de nossa evolução, auxilia-me com a nossa irmã Nina. Precisamos seguir com as provas de evolução
desta querida irmã mas, para tanto, precisamos do seu desprendimento total da encarnação anterior.
Rogo a ti misericórdia. Se possível, que sejam enviados espíritos de luz para nos ajudar a intuir a
família de Nina a autorizar que sejam desligados todos os equipamentos que mantém seu corpo
material vivo. Para tanto, peço-te ainda, humildemente, apenas se for possível, que nos seja permitido
realizar uma viagem à Terra a fim de também influenciarmos, de alguma forma, os familiares a tal ato,
para que possamos seguir em frente. Peço-te que nos ajude a confortar estes mesmos familiares e
amigos, que lá estão a sofrer na esperança de vida de nossa querida Nina. Sabedores somos de vossa
grandeza, em nome de Jesus, rogamos a ti misericórdia e compreensão para todos. Graças a ti.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás
comigo.

5 DIAS NO UMBRALOnde histórias criam vida. Descubra agora