"Fruto?"

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C A P Í T U L O - 3

Fomos até a tal biblioteca antiga, estava um trânsito imenso, pois a rainha da Dinastia Rhoncelliana da França estava a caminho do Castelo de Narcis para visitar seus amigos e parentes da realeza. Então, os britânicos estavam em festa para alegrar a soberania. Depois de algumas horas, conseguimos chegar no local. E quando entrei na biblioteca, pedi para falar com a Anne, filha de Heloise, minha avó.

Quando a vi chegando, pela primeira vez eu tive medo dos meus próprios pensamentos. Cara, ela era simplesmente, idêntica a mulher dos meus sonhos. Seus olhos continham a mesma distinção, a heterocromia: um olho claro e outro escuro. Enquanto se aproximava, eu não sabia se corria ou se permanecia ali.

- É você! -disse ela.

- Aí meu Deus... -respirei fundo. 

- Minha mãe me falou muito de você. -disse Anne. 

- Você é a Anne, certo? Minha tia...

- Sim, sou! A filha adotiva...

- Desculpe vir tão rápido e ir direto ao ponto, é que preciso saber onde está minha avó.

- Nossos parentes acreditam que eu sou culpada, por tudo que aconteceu com nossa irmã ... -desviou o assunto.

- Qual irmã? Não entendi. -perguntei.

- As filhas... Éramos eu, Marie, Rosie, Rosalinda e... Angelina.

- Eu nunca ouvi sobre ela. Eles nunca me contaram. -confessei. 

- Angelina... morreu. -disse ela.

- Como assim? -perguntei. 

- Angelina, faleceu quando deu à luz. Eu a convenci a ter a criança. E por nossa família, ela teria que abortar. E então, eles me culpam pela morte dela. E também porque durante a gravidez, ela enlouqueceu e ninguém quis aceitar que morasse na mansão com a família.

- E o que minha avó tem a ver com tudo isso? -perguntei. 

- Porque sua avó sempre quis proteger os filhos e muito mais... os netos.

- A família não quis aceitar o bebê? -perguntei

- Não! Incrivelmente, Rosie e Rosalinda deram à luz na mesma semana e minha mãe, fugiu com Angelina para uma casinha no interior. E lá ela deu à luz e depois retornou. 

- Quem retornou ? 

- Minha mãe, mas ela voltou sem a Angelina... 

Anne respirou fundo e continuou: 

- Estávamos comemorando o nascimento de minhas sobrinhas, até que a governanta desceu desesperada dizendo que uma das crianças havia parado de respirar. E quando Rosie subiu correndo e Rosalinda atrás, elas encontraram nossa mãe chorando sentada no corredor segurando uma criança morta. As duas a abraçaram chorando também. E quando entrei no quarto das bebês, as duas estavam bem.

- Então, nenhuma das bebês estava morta? Então a criança era da...

- ... Angelina.

- E quem era o pai da criança?

- Traição...

- Não entendi...

Ela se aproximou do meu ouvido:

- Isto, ninguém daquela casa tem ciência, mas a filha de Angelina tinha o sangue Rhoncelliano, eu sei disso, sonhei com isso, ela não sabia, nem a família. Quando a mesma saiu com o um homem desconhecido, não imaginava que ele era um duque que havia renunciado seu título, mas eu também não sei onde ele está.

- E apesar disso tudo, você sabe onde está minha avó?

- Eu não sei, -começou a chorar- depois da morte da filha e da neta, ela pediu que eu a levasse para a casa no interior e me obrigou ir embora. E logo, nunca mais a vi...

- Você nunca se interessou em buscá-la? -perguntei. 

- Não! -disse friamente. 

- Por que?

- Porque quando retornei anos depois, soube que ela tinha morrido, mas não me disseram onde e como.

- Eles me disseram que minha avó tinha ido embora com a filha adotiva. E agora você me fala que ela morreu?

- A nossa família é a destruição. Não retorne lá!

- Eu preciso saber o que aconteceu. E preciso ir, prometo que lhe escreverei.

Me despedi de Anne. E enquanto saia da biblioteca Rafaela me pergunta:

- Então, essa é sua tia?

- Sim, é ela.

- Você está bem com tudo o que ouviu?

- Sim. Só estou impressionada com uma coisa.

- O que? -peguntou. 

- Os olhos dela pareciam com os da mulher do meu sonho. Um claro e outro escuro...

-... amiga, você está bem mesmo? Aquela mulher tinha os dois olhos escuros, não existe nenhuma distinção.

- Sério?

- Sério! Você está vendo coisas, só pode.

...

E enquanto estava mexendo na bolsa, uma mulher me parou e disse:

- Você é a neta de Heloíse?

- Sim, sou! Quem é você?

- Sou filha de uma antiga amiga dela, preciso lhe dizer uma coisa, sua avó sabia histórias que ninguém que a rodeava ousava saber, segure este anel - colocou em meu dedo e o mesmo tinha um desenho de uma mulher no centro- ela escrevia diários sobre o Lírio. E você precisa encontrar... É a única que pode!

- Quem é esse Lírio ?

- Apenas sua avó poderá te responder!

- Mas minha avó, infelizmente, faleceu!

- Anastácia, legados não morrem!


Naquela mesma noite, voltei para casa e quando me deitei não demorei muito a dormir. E tive um sonho sem explicação. E quando acordei, estava sozinha. E ouvi o telefone tocar, atendi:

- Alô? 

- Reencontre Heloise! - uma voz roca, grossa e feminina. 

- Quem é você? 

- Você precisa voltar para o Brasil para encontrá-la! -disse a desconhecida.

- Alô? Alô? - e a ligação caiu. 

Acordei no dia seguinte dispostas à voltar para o Rio de Janeiro e quando estava embarcando no avião, algo que havia acontecido apenas na minha infância surgiu de novo. Quando pequena não sei ao certo o que ocorria com a minha mente, eu começava a ver círculos e escutar vozes, no entanto, naquele dia aquele episódio se repetiu, porém mais intenso, ao invés de círculos, estava vendo diversos olhos aleatoriamente.  



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