|TRÊS|

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SAÍ CORRENDO DA CAVERNA, como um covarde faria depois de uma grande revelação com o seu nome.

Não foi isso o que eles me informaram no início de tudo. Tento me convencer de que não é para eu estar tão tenso assim. Porque logo tudo vai acabar, se eu fizer certo, vai acabar.

E eu queria poder desistir disto tudo agora mesmo, mas estou tão imerso no mundo confuso em que me encontro e tão, mas tão perto que não posso, simplesmente abandonar e desistir.

Não sou covarde.

Não sou...

Clay Drosselmeyer não é covarde...

E se eu tiver que ser um maldito príncipe para provar, que assim seja.

No entanto, minha atual posição não provaria isto a tolo algum neste mundo estranho. Estou ajoelhado no gelo duro do fim do regato misterioso, onde já não há mais magia. Olhando para as listras arranhadas no mesmo... incoerentes e desiguais. Respiro fundo, mas o gelo do ar faz o meu peito arder, como se bolas de gude caíssem no interior cavernoso do meu pulmão.

- Clay!

Ouço a voz de Elirya e seus passos cada vez mais próximos a mim. Suspiro, vendo o ar gélido e visível saltando de meus lábios. Levanto a cabeça e encaro a boneca, que parece preocupada e, ao mesmo tempo, não parece nada.

Sempre me questiono como é possível alguém transmitir tantas emoções em uma face imutável.

Me sento no gelo molhado, sem me preocupar com a integridade do tecido do meu pijama. Elirya se senta também, olhando para o chão, possivelmente correndo atrás das palavras certas para me dizer, depois de tudo o que o Oráculo nos disse.

Após dois minutos longos como milênios, ela começa.

- Perguntei algumas coisas ao Oráculo, assim que você saiu.

- Como o que? - minha voz praticamente não sai.

- Como podemos derrotar o Rei Rato, como ativamos os seus... poderes e até mesmo como você pode ser o Príncipe se...

- Eu simplesmente não posso ser ele, Elirya. Eu... os papéis são bem definidos na Toca do Rato. Eu sou o viajante.

- O Oráculo disse que faz parte da trama.

Começo a rir. Tímido no inicio, mas logo o som se intensifica até ficar em um tom quase doentio.

- A trama está estourando os meus neurônios.

- Você pode voltar à tona quando quiser...

- Não posso - interrompo-a. - Não posso pelos mesmos motivos que você.

Ela assente e se levantou, ainda mais dura do que a sua própria pele.

- Temos que atravessar a floresta. O castelo é depois daquelas árvores - ela aponta para o horizonte.

Me levanto e envolvo os meus olhos com minhas mãos em concha. Quase posso ver a ponta em formato de cone de uma das torres do ditador.

- E o maldito Oráculo disse como ativar os meus poderes, já que sou o príncipe?

Ela suspira e começa a caminhar.

- Temos que entrar pelos fundos do palácio, adentrar na Sala do Trono e roubar a espada do Rei.. Assim que você tocar nas runas da lâmina, ativará os seus poderes. Depois é só cravar no peito nojento do rato.

- A forma como você fala faz parecer simples.

- Nada é simples nesta vida, alteza.

E por incrível que pareça e por mais patético que seja, a palavra "alteza" é o que mais me dá arrepios nesta frase.

(532 palavras)

Princesa de PorcelanaOnde histórias criam vida. Descubra agora