|CINCO|

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MINHAS MÃOS ESTÃO mergulhadas no pó que, há pouco, era o rato.

A satisfação doentia em sentí-lo em minha mão, de sufocar-me com as cinzas me dá vertigem. Mas eu preciso sentir... a minha vitória.

- C-clay...

A voz dela me tira do meu estupor sociopata. Me levanto e a vejo. Somente o seu tronco e cabeça intactos. Todo o resto em cacos pontiagudos.

- Elirya!

Corro até o canto do salão em que ela caiu. Rastejo entre os seus cacos, sem me importar com os cortes. Eles vão parar de doer

- Fica comigo, princesa. - soluço. - Fica...

Ela consegue levantar a cabeça alguns centímetros. Seguro as suas mãos lascadas. Apenas três dedos restantes. Buracos onde deveriam estar os demais.

- Clay... Você é dramático. Já vencemos.

- Não... isso não é vitória. Não sem você.

Uma lágrima escorre pelas minhas bochechas. Envolvo seu rosto com as minhas mãos e selo meus lábios nos seus.

É como beijar um prato ou uma xícara de chá.

Mas então, tudo de repente muda. E agora eu não estou mais beijando porcelana gelada. E sim lábios quentes. Feitos de carne.

Macios...

E sinto mãos me puxando para mais perto e simplesmente me entrego ao beijo, sem entender o porquê. Aprofundo, sinto cada canto de sua boca e meu coração é sobrepujado aos céus quando me dou conta de quem estou beijando.

Elirya...

- Você... - suspiro contra os seus lábios... - você está... viva.

A garota loira de olhos grandes e verdes sorri e me beija outra vez, puxando as lapelas do terno que surgiu em mim, sem eu saber como.

- E você está vivo... meu príncipe.

E quando o mundo finalmente volta a se colorir e já sinto o calor natural do Reino dos Doces, tudo escurece.

E meus braços já não formigam com os arrepios do toque de Elirya.

Nem vejo mais o seu rosto.

Porque despertei. E tudo o que vejo diante de mim é um display em neon piscando sempre a mesma frase:

GAME OVER.

(316 palavras)

Princesa de PorcelanaOnde histórias criam vida. Descubra agora